Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Neoplasias Hematológicas

Uso de enxerto criopreservado para transplante de células-tronco hematopoiéticas após condicionamento de intensidade reduzida é associado a desfechos inferiores

Em decorrência da pandemia de COVID-19, no ano de 2020, foi amplamente difundida a estratégia de criopreservação de produtos de aférese de doadores alogênicos como um método de superar a baixa disponibilidade de doadores e dificuldades de transporte decorrentes da iminente crise sanitária mundial. Entretanto, segundo um estudo apresentado no Transplantation & Cellular Therapy Virtual Meeting 2021 (TCT), esse tratamento pode ser associado a menor sobrevida e maior taxa de falha do enxerto em comparação ao uso de produtos de aférese frescos.

O estudo apresentado pelos pesquisadores da Universidade de Stanford avaliou de maneira retrospectiva o tratamento de 29 pacientes submetidos a transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênico com enxerto criopreservado de células CD34+ do sangue periférico em comparação a 60 pacientes que receberam TCTH alogênico com enxerto fresco de células CD34+ do sangue periférico. A intensidade do regime de condicionamento foi similar entre os grupos, com aproximadamente dois terços dos pacientes submetidos a regime de condicionamento com intensidade reduzida. Como resultados, a dose mediana de células CD34+ foi superior no braço que utilizou enxerto fresco (9,3 versus 7 x 106/kg). A taxa de falha primária do enxerto foi maior no braço que recebeu enxerto criopreservado (13,8% versus 1,7%, p=0,03). Dentre os pacientes que receberam regime de condicionamento de intensidade reduzida, o uso de enxerto criopreservado foi associado a maior risco relativo de morte em comparação ao uso de enxerto fresco em análise univariada (HR=4,2; IC de 95%: 1,22-14,4), e intervalo prolongado para a recuperação de neutrófilos (p=0,006) e plaquetas (p=0,058). Em análise multivariada ajustada pelo tipo de doador, intensidade do regime de condicionamento, sexo do paciente, dose de células CD34+ e tipo de enxerto, o uso de enxerto criopreservado também foi associado a sobrevida global inferior. Não houve diferença na taxa de doença do enxerto versus hospedeiro aguda entre os grupos. A avaliação de imunofenotipagem demonstrou menor número de células NK (CD3- CD56+) nos enxertos criopreservados (p=0,0159), porém não houve diferença nas outras populações celulares.

De acordo com o Dr. Fabio Kerbauy, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, “esses dados são interessantes e de certa forma inesperados. Por conta da pandemia, passamos a criopreservar mais as medulas a fim de aguardar resultados do teste para COVID-19 tanto no doador como no receptor. Esta abordagem foi fundamental para mantermos o programa de transplante funcionando de forma segura durante a pandemia. Os pacientes e doadores nesse período de teste eram mantidos sob vigilância quanto ao desenvolvimento de possíveis sintomas associados à infecção pelo SARS-CoV-2 e só eram encaminhados para internação hospitalar após o resultado negativo dos testes e ausência de sintomatologia compatível com a infecção. Entretanto, começam a surgir avaliações comparativas entre transplantes com medula criopreservada e a fresco, sugerindo que os enxertos a fresco podem ser associados a desfechos superiores, indicando que o processo de criopreservação possa influenciar nos resultados de eficácia do transplante. A presente análise apresentada pela Universidade de Stanford foi conduzida de maneira retrospectiva e com um número limitado de pacientes, porém sinaliza desfechos superiores com o uso de medula a fresco, ainda que os dados necessitem de validação prospectiva. Provavelmente com o melhor controle da pandemia voltaremos a realizar infusão de medula a fresco, como até então era a rotina, enquanto aguardamos a elucidação dos resultados encontrados nas análises retrospectivas”.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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