Qual o papel da terapia com bifosfonatos no câncer de próstata metastático sensível a castração?

Não existe benefício no uso precoce de ácido zoledrônico para redução de complicações ósseas em pacientes com câncer de próstata metastático sensível à castração. Esta foi a conclusão do artigo publicado no Journal of Clinical Oncology por Smith MR et al., um estudo de fase III que avaliou o efeito do início precoce do ácido zoledrônico na redução do risco de complicações ósseas relacionadas com câncer de próstata sensível à castração.

No estudo, foram randomizados 645 homens com câncer de próstata, apresentando metástases ósseas sensíveis à castração, para receberem ácido zoledrônico, 4 mg por via intravenosa, a cada 4 semanas (n=323) ou placebo (n=322).
O desfecho primário foi tempo para o primeiro evento ósseo, definido como qualquer fratura patológica, compressão medular, cirurgia óssea ou morte em decorrência do câncer de próstata.

Um total de 621 pacientes recebeu, pelo menos, uma dose da medicação no estudo. O tempo mediano do estudo foi de 11,8 meses no grupo ácido zoledrônico e 13,6 meses no grupo placebo. Nenhuma diferença entre os grupos foi observada em relação ao risco de eventos ósseos.

O tempo para o primeiro evento esquelético no grupo que recebeu ácido zoledrônico foi de 31,9 e 29,8 meses no grupo placebo (HR=0,97; p=0,39). Em uma análise exploratória envolvendo 82 pacientes com história de complicações ósseas previas a entrada no estudo, o tempo mediano para o primeiro evento esquelético foi de 31,9 meses no grupo do ácido zoledrônico e 17,6 meses no grupo placebo (HR=0,56; IC de 95%: 0,31-1,02). Não houve diferença no tempo para o primeiro evento ósseo entre os grupos.

A sobrevida livre de progressão foi de 10,6 versus 9,2 meses (p=0,22), a sobrevida global mediana foi de 37,9 versus 36,0 meses (p=0,29).

O tratamento foi interrompido por eventos adversos em 21% dos pacientes no grupo do ácido zoledrônico versus 12% no grupo placebo. Eventos grau ≥ 3 relacionados com o tratamento ocorreram em 14 versus 12%, dor foi o evento mais comum (3 contra 3%), hipofosfatemia (3 versus 2%), e hipocalcemia (3 versus 1%), osteonecrose grau 3 relacionada ao tratamento ocorreu em 3,2 versus 1,9%, dos casos.

O estudo conclui que homens com câncer de próstata e metástases ósseas sensíveis à castração não se beneficiam do tratamento precoce com o ácido zoledrônico.

Referência:
Smith MR, Halabi S, Ryan CJ, et al. Randomized controlled trial of early zoledronic acid in men with castration-sensitive prostate cancer and bone metastases: results of CALGB 90202 (Alliance). J Clin Oncol 2014;Epub ahead of print, Mar 3.

Antônio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Raphael Brandão Moreira
Médico Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.