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Nova opção de tratamento oral aprovada no Brasil para o tratamento do câncer de mama
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em 11 de março de 2019 o inibidor de ciclina oral abemaciclibe para o tratamento do câncer de mama avançado com expressão de receptores hormonais (RH) positivos e HER-2 negativo no Brasil. Baseada em diferentes estudos clínicos, a aprovação anunciada contempla a utilização de abemaciclibe em três cenários de tratamentos distintos: como monoterapia após exposição prévia a terapia hormonal e quimioterapia, combinado a fulvestranto após progressão a terapia hormonal, e combinado a um inibidor da aromatase no tratamento de primeira linha.
No estudo de braço único MONARCH 1, 132 pacientes portadoras de câncer de mama RH positivo e HER-2 negativo metastático com exposição prévia a terapia hormonal além de 1 ou 2 regimes de quimioterapia receberam tratamento com abemaciclibe em monoterapia. Dentre a população incluída neste estudo, destaca-se que cerca de 90% das pacientes possuíam metástases viscerais, sendo a maioria delas hepáticas (70,5%), aproximadamente 18% já haviam recebido 3 regimes hormonais prévios e quase metade das pacientes possuíam exposição prévia a 2 linhas de quimioterapia no cenário de doença metastática. A análise dos dados aos 12 meses demonstrou que o tratamento com abemaciclibe produziu uma taxa de resposta de 19,7%, com sobrevida livre de progressão mediana de 6 meses e sobrevida global de 17,7 meses.
No MONARCH 2, estudo de fase III randomizado, 669 pacientes com câncer de mama avançado RH positivo e HER-2 negativo que apresentaram progressão de doença durante terapia hormonal neoadjuvante, adjuvante ou hormonioterapia na primeira linha, além daquelas com progressão em ≤12 meses após o tratamento hormonal adjuvante, foram avaliadas para receber tratamento com fulvestranto associado a abemaciclibe ou placebo. Ressalta-se que cerca de metade das pacientes apresentava doença metastática visceral e aproximadamente 17% delas apresentavam-se em status de pré e perimenopausa. Como resultado, esse estudo demonstrou que o tratamento com abemaciclibe associado a fulvestranto reduziu em 45% o risco relativo de progressão de doença ou morte quando comparado ao braço controle de tratamento (HR=0,55; IC de 95%: 0,49-0,68; p<0,001), bem como foi associado a uma maior taxa de resposta objetiva (48,1% versus 21,3%). Os dados de sobrevida global ainda são imaturos.
O tratamento com abemaciclibe na primeira linha da doença metastática RH positivo e HER-2 negativo foi avaliado no estudo de fase III MONARCH 3. Nesse estudo, 493 pacientes sem tratamento sistêmico prévio no cenário metastático e com progressão há >12 meses do término do tratamento hormonal adjuvante foram randomizadas para receber tratamento com abemaciclibe ou placebo associado a um inibidor da aromatase não esteroide (letrozol ou anastrozol). Nesse estudo, também foram avaliadas cerca de metade das pacientes com doença metastática visceral e aproximadamente 40% com doença metastática de novo. Com um seguimento mediano de 17,8 meses, o tratamento com abemaciclibe associado a inibidor da aromatase promoveu uma redução de 46% no risco relativo de progressão de doença ou morte quando comparado ao tratamento do grupo controle (HR=0,54; IC de 95%: 0,41-0,72; p=0,000021), objetivo primário do estudo. A taxa de resposta com o tratamento combinado foi de 48,2%, e os dados de sobrevida ainda são imaturos.
Dentre as análises de segurança dos três estudos avaliando o tratamento com abemaciclibe, destacam-se como os principais eventos adversos relacionados ao tratamento: diarreia, fadiga, neutropenia e náusea.
A Dra. Juliana Martins Pimenta, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta que “o abemaciclibe é o terceiro inibidor de CDK4/6, recentemente aprovado no Brasil. Essa classe de medicação tem um papel importante no controle da doença metastática receptor hormonal positiva, HER-2 negativa, demonstrando um aumento significativo e de alta relevância clínica na sobrevida livre de progressão para essas pacientes em relação ao uso de hormonioterapia isolada”.
“Importante destacar algumas diferenças em relação às outras duas medicações dessa classe: uso contínuo, diferente das outras que necessitam de pausa de 1 semana em cada ciclo; perfil de efeitos colaterais, com menor incidência de neutropenia, mas maior taxa de diarreia quando comparada às outras; e o fato de permitir o uso como monoterapia em pacientes que já progrediram a inibidor de aromatase e fulvestranto previamente, sendo uma excelente opção terapêutica para essas pacientes refratárias a esses esquemas de tratamento hormonal”, conclui Dra. Juliana.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida
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