Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

Novo anticorpo conjugado a droga aprovado para o tratamento do câncer de mama triplo-negativo no Brasil

No dia 17 de outubro de 2022, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o anticorpo conjugado a droga (ADC) sacituzumabe govitecana para o tratamento de pacientes com câncer de mama localmente avançado irressecável ou metastático triplo-negativo que receberam previamente pelo menos duas linhas de terapia sistêmica, sendo ao menos uma delas no cenário da doença avançada.

A Dra. Debora Gagliato, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta: “O estudo ASCENT traz uma importante medicação ao arsenal terapêutico do câncer de mama triplo-negativo, em um contexto de doença em que os resultados com quimioterapia convencional são muito modestos. Adicionalmente, em análise de acordo com expressão do antígeno Trop-2, foi evidenciado que a maioria das pacientes do estudo ASCENT (cerca de 80%) possuía alta ou média expressão de Trop-2 no tumor. Embora numericamente os desfechos de sobrevida e taxas de resposta foram melhores naquelas tratadas com sacituzumabe govitecana versus tratamento à escolha do médico em mulheres com alta ou média expressão de Trop-2, o número de pacientes com baixa expressão era muito pequeno, não permitindo conclusões definitivas nesse subgrupo específico, sugerindo que a droga seja ativa em qualquer paciente com câncer de mama triplo-negativo avançado, irrespectivamente à expressão de Trop-2, e por isso não é necessária a avaliação de Trop-2 na imuno-histoquímica. Finalmente, a medicação também foi ativa independentemente do status de mutação germinativa de BRCA 1 ou 2”.

O uso de sacituzumabe govitecana nesse cenário foi avaliado no estudo de fase III ASCENT, que randomizou 529 pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático ou localmente avançado previamente expostas a duas linhas de tratamento sistêmico (incluindo tratamento neoadjuvante ou adjuvante em caso de progressão em ≤ 12 meses) entre sacituzumabe govitecana ou quimioterapia à escolha do investigador (eribulina, capecitabina, gencitabina ou vinorelbina). A idade mediana da população foi 54 anos, 100% haviam recebido taxanos previamente, 82% haviam recebido antraciclinas, 66% carboplatina e 27% já haviam sido expostos a um agente anti-PD-1/L1. Mutações de BRCA1/2 estavam presentes em 7% dos pacientes, mesmo percentual de pacientes previamente expostos a um inibidor da PARP, e 42,5% apresentavam metástases hepáticas. Merece destaque que cerca de um terço dos pacientes não apresentava tumores triplo-negativos ao diagnóstico inicial, o que, segundo os autores, enfatiza a necessidade de uma nova biópsia no momento de recidiva da doença.

O tratamento com o ADC foi associado a um aumento considerável em taxa de resposta objetiva (35% versus 5% para sacituzumabe e quimioterapia, respectivamente), em prolongamento de sobrevida livre de progressão (medianas de 5,6 versus 1,7 meses; HR=0,41; IC de 95%: 0,32-0,52; p<0,001), além de reduzir em 52% o risco de morte em comparação a quimioterapia (HR=0,48; IC de 95%: 0,38-0,59; p<0,001). Em uma análise específica conduzida de acordo com a apresentação ou não de doença triplo-negativa ao diagnóstico do tumor inicial, o benefício de sacituzumabe govitecana foi confirmado em ambas as apresentações e em similar magnitude.

Os eventos adversos mais frequentes com sacituzumabe govitecana foram náuseas, neutropenia, diarreia, fadiga, alopecia, anemia, vômito, constipação, rash cutâneo, redução do apetite e dor abdominal. Merece leitura uma análise específica da avaliação de segurança do estudo, demonstrando os principais eventos adversos avaliados temporalmente e o impacto dos polimorfismos de UGT1A1 na incidência de eventos adversos.

Uma publicação recente avaliou pacientes recrutados no estudo ASCENT que receberam sacituzumabe govitecana em segunda linha de tratamento. Essa coorte consistiu na inclusão de pacientes que receberam uma linha de terapia no cenário metastático, e que apresentaram recorrência da doença ≤ 12 meses após quimioterapia neoadjuvante ou adjuvante. Assim como no grupo por intenção de tratamento, esse subgrupo experimentou substancial benefício do uso de sacituzumabe govitecana em detrimento à quimioterapia, com sobrevida livre de progressão mediana de 5,7 versus 1,5 meses; e sobrevida global mediana de 10,9 versus 4,9 meses, respectivamente”, destaca também a Dra. Debora.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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