Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

A importância da resposta patológica completa no câncer de mama

Uma metanálise inicialmente apresentada no San Antonio Breast Cancer Symposium de 2012 e publicada recentemente no The Lancet por Cortazar et al., mostra que a resposta patológica definida como ypT0ypN0 ou ypT0/isypN0 foi associado com melhores resultados a longo prazo, além de mostrar forte valor prognóstico, principalmente para os subtipos agressivos de câncer de mama.

O estudo incluiu 11.955 pacientes provenientes de 12 estudos internacionais neoadjuvantes que preencheram os seguintes critérios de elegibilidade: ≥ 200 pacientes com câncer de mama, tratados com quimioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia; com dados disponíveis para avaliar resposta patológica completa (RCp); sobrevida livre de eventos (SLE); e sobrevida global (SG).

As três definições mais comumente usados de RCp foram avaliadas a relação com a SLE e SG. São elas: ypT0ypN0 (ausência de câncer invasivo e câncer in situ na mama e axila), ypT0/is ypN0 (ausência de câncer invasivo na mama e axila, independentemente do carcinoma ductal in situ), e ypT0/is (ausência de câncer invasivo nos tumores de mama, independentemente de carcinoma ductal in situ ou envolvimento linfonodal).

Uma análise estatística foi realizada para avaliar a utilização de RCp como um desfecho substituto para SLE ou SG. O coeficiente de determinação (R²) foi calculado a fim de mensurar a correlação entre a RCp com a SLE e SG.

Diferenças entre ypT0/is versus ypT0/isypN0 versus ypT0ypN0

A RCp global foi de 22% para ypT0/is, 18% para ypT0/is ypN0 e 13% para ypT0 ypN0. Em geral, os pacientes que alcançaram uma RCp em qualquer definição teve maior SLE e SG do que aqueles com câncer invasivo residual.

  RCp SLE SG
ypT0/is 22% HR=0,60; IC: 0,55-0,66 HR=0,51; IC: 0,45-0,58
ypT0/is ypN0 18% HR=0,44; IC: 0,39-0,51 HR=0,36; IC: 0,31-0,42
ypT0 ypN0 13% HR=0,48; IC: 0,43-0,54 HR=0,36; IC: 0,30-0,44

Abreviações: RCp, resposta patológica completa; SLE, sobrevida livre de eventos; SG, sobrevida global.

O hazard ratio para a SLE para ypT0/ypN0 (HR=0,44; IC de 95%: 0,39-0,51); para ypT0/is ypN0 (HR=0,48; IC de 95%: 0,43-0,54); e para ypT0/is (HR=0,60; IC de 95%: 0,55-0,66).

Da mesma maneira, ypT0 ypN0 (HR=0,36; IC de 95%: 0,30-0,44) e ypT0/is ypN0 (HR=0,36; IC de 95%: 0,31-0,42) foram mais associados com a sobrevida global do que ypT0/is (HR=0,51; IC de 95%: 0,45-0,58). A definição ypT0/is ypN0 foi, portanto, utilizada em todas as outras análises.

Pacientes com tumores receptor hormonal positivo

A taxa de RCp utilizando esta definição (ypT0/is ypN0) foi baixa nos pacientes com tumor receptor hormonal (RH) positivo de baixo grau e duplicou para os tumores RH positivo de alto grau. As taxas de resposta foram maiores nos tumores HER-2 positivo e triplo negativo. Portanto, quanto mais alto o grau do tumor, maior a taxa de RCp.

A associação entre a taxa de resposta e os resultados a longo prazo foi maior para os pacientes com RH positivo, de alto grau e HER-2 negativo (HR=0,27; IC de 95%: 0,14-0,50), para SLE, e (HR=0,29; IC de 95%: 0,13-0,65), para SG, versus tumores de baixo grau (HR=0,63; IC de 95%: 0,38-1,04), para SLE e (HR=0,47; IC de 95%: 0,21-1,07), para SG.

Pacientes com tumores HER-2 positivo

Entre os pacientes com tumor HER-2 positivo, a RCp foi associado com melhor SLE (HR=0,39; IC de 95 %: 0,31-0,50) e SG (HR=0,34; IC de 95%: 0,24-0,47), independentemente do status do receptor hormonal. Entretanto, uma forte associação ocorreu no subgrupo com RH negativo e HER-2 positivo, (HR=0,25; IC de 95%: 0,18-0,34), para SLE; (HR=0,19; IC de 95%: 0,12-0,31), para SG, e uma menor relação no subgrupo RH positivo (HR=0,58; IC de 95%: 0,42-0,82), para SLE, e (HR=0,56; IC de 95%: 0,23-1,37), para SG. Considerando os pacientes com tumores HER-2 positivo e RH negativo que receberam trastuzumabe, observou-se um HR=0,15 (IC de 95%: 0,09-0,27) para SLE e HR=0,08 (IC de 95%: 0,03-0,22) para SG.

Pacientes com câncer de mama triplo negativo

A associação entre a RCp e os resultados a longo prazo foi maior nos pacientes com câncer de mama triplo negativo com HR=0,24 (IC de 95%: 0,18-0,33) para SLE e HR=0,16 (IC de 95 %: 0,11-0,25) para a SG.

A taxa de resposta patológica completa pode substituir a sobrevida global ou sobrevida livre de eventos?

A análise realizada para avaliar se a RCp poderia ser usada como substituto para SLE ou SG, incluiu 10 comparações ao acaso na análise conjunta dos 12 estudos incluindo os grupos não randomizados excluídos e os pacientes que receberam status terapia adicional com taxano adjuvante.

Em nível experimental, houve pouca associação entre o aumento de RCp e aumento na SLE ou SG. O coeficiente de determinação (R²) entre RCp e SLE foi de 0,03 (IC de 95%: 0,00-0,25) e entre a RCp e SG foi de 0,24 (IC de 95%: 0,00-0,70).

Referência:
Cortazar P, Zhang L, Untch M, et al. Pathological complete response and long-term clinical benefit in breast cancer: the CTNeoBC pooled analysis. Lancet 2014, Epub ahead of print, Feb 13.

Antônio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes – Beneficência Portuguesa de São Paulo

Raphael Brandão Moreira
Médico Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes – Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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