Continue sua leitura
FDA aprova o primeiro sistema utilizado em banco de sangue para destruir vírus, bactérias e protozoários em plasma doado, tornando a transfusão mais segura
Comentários de Roberto Buessio
O sistema que visa destruir vírus, bactérias e protozoários em sangue doado foi aprovado pelo FDA é baseado na exposição das unidades doadas (plaquetas e plasma) à luz UVA, utilizando-se derivado psolarênico adicionado em conexão estéril às bolsas. O método demonstrou ser consistente, seguro e eficaz na inativação de vírus, bactérias, protozoários, assim como leucócitos, podendo ser integrado na operação interna dos serviços de hemoterapia. O psoralênico ultrapassa a membrana celular, ligando-se aos ácidos nucleicos com mínima interação, às proteínas e a outros elementos celulares. Com a iluminação UVA, a droga interpõe-se nas bases pirimidínicas da estrutura do DNA e RNA e impede a replicação genômica, mas preservando as propriedades funcionais de adesão e agregação plaquetárias.
A inativação ou redução de patógenos é especialmente importante em hemocomponentes estocados à temperatura ambiente, mas susceptíveis à contaminação (plaquetas). Patógenos emergentes, potencializados pela migração de doadores e pelas mudanças climáticas, são uma grande preocupação na transfusão de derivados plasmáticos e plaquetas. Há teoricamente inativação inclusive de patógenos ainda não conhecidos. O sistema é capaz de inativar vírus como HIV-1, HIV-2, HTLV-1, HTLV-2, CMV, XMRV/MLV, VHB, VHC, vírus da raiva, H1N1, H5N1, adenovírus, parvovírus B19 (inativação parcial), West Nile virus e vírus Chikungunya.
O sistema tem sido utilizado em pesquisa clínica na África Ocidental para tornar mais seguro o plasma de sobreviventes do Ebola (potencial tratamento para pacientes que ainda estão com a doença, visto que o método não altera as imunoglobulinas). O sistema também ofereceria proteção adicional em locais onde a triagem sorológica do sangue coletado não é tão segura.
Além da inativação de patógenos, o sistema inativa leucócitos de forma superior à irradiação gama. Leucócitos residuais presentes nos hemocompoentes leucodepletados podem causar doença do enxerto contra o hospedeiro transfusional, especialmente em pacientes imunossuprimidos.
Apesar dos estudos europeus, nos EUA existe certa resistência ao sistema pelo risco potencial de dano plaquetário durante o procedimento. Há ainda a questão de custos visto que toda a triagem sorológica das unidades coletadas será mantida. Alguns especialistas acreditam não estar tão clara a utilização plena do sistema nos EUA onde o suprimento de sangue já é bastante seguro.