Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Sarcomas

Doxorrubicina associada à ifosfamida versus doxorrubicina isolada em sarcoma de partes moles

Diversos sarcomas vêm sendo caracterizados por alterações moleculares, com algumas delas de elevada especificidade. Entretanto, estes achados não se traduziram em identificação de alvos “tratáveis” pelas diversas drogas de alvo molecular que vêm sendo desenvolvidas. Quimioterapia baseada em doxorrubicina continua sendo o padrão de tratamento para a maioria dos sarcomas de partes moles. Como em outras neoplasias, não é claro o impacto da combinação de quimioterápicos no tratamento paliativo dos sarcomas de partes moles metastáticos.

Com objetivo de avaliar a superioridade da combinação de doxorrubicina e ifosfamida frente doxorrubicina isolada, este estudo de fase III (EORTC 62012) com 455 pacientes de 10 diferentes países, portadores de sarcoma de partes moles, de alto grau, localmente avançado, metastático ou irressecável, foram randomizados a receber doxorrubicina (75 mg/m2 EV, em bolus, no D1 ou em infusão contínua por 72 h) ou doxorrubicina com dose intensificada (75 mg/m2, em 3 dias) associada à ifosfamida (10 g/m2 em 4 dias), como primeira linha de tratamento. O objetivo primário foi sobrevida global (SG).

Os resultados encontrados foram: A SG no grupo foi de 12,8 meses no que recebeu doxorrubicina isolada versus 14,3 meses no grupo da combinação (HR=0,83; IC de 95%: 0,67-1,03; p=0,076). Contudo, houve aumento em sobrevida livre de progressão (SLP) para grupo da combinação (7,4 meses) versus doxorrubicina isolada (4,6 meses) (HR=0,74; IC de 95%: 0,60-0,90; p=0,003), como também houve maior taxa de resposta global para combinação [60 (26%) dos 227 pacientes versus 31 (14%) dos 228; p<0,0006]. Efeitos colaterais graus 3 e 4 (leucopenia, neutropenia febril e plaquetopenia) foram mais comuns no grupo da combinação.

Como em diversos estudos em sarcomas de partes moles, este estudo incluiu diversos subtipos histológicos que foram analisados em conjunto. Além da heterogeneidade de histologias, cerca 48% dos pacientes tinham sarcomas de grau baixo ou intermediário. Ainda que haja uma tendência para o ganho de sobrevida, não se verificou superioridade da combinação, com significância estatística. A melhor taxa de resposta e aumento de SLP com a combinação, especialmente no subgrupo de tumores de alto grau, como visto na análise post-hoc, sugere que a combinação ainda seja uma alternativa importante nestes pacientes. A melhor taxa de resposta é também importante para o controle de sintomas relacionados à doença.

Por fim, ainda que não se recomende o uso rotineiro da combinação de ifosfamida e doxorrubicina, pacientes com tumores de alto grau ou sintomáticos, podem se beneficiar desta estratégia.

Referência:

Judson I, Verweij J, Gelderblom H, et al. Doxorubicin alone versus intensified doxorubicin plus ifosfamide for first-line treatment of advanced or metastatic soft-tissue sarcoma: a randomised controlled phase 3 trial. Lancet Oncol 2014;Epub ahead of print, Mar 4.

Aline da R. Lino

Médica Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Rafael A. Schmerling

Coordenador do Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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