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Tratamento do mieloma múltiplo com células CAR-T é aprovado nos EUA
O FDA (Food and Drug Administration) aprovou em 28 de fevereiro de 2022 o uso do CAR-T ciltacabtagene autoleucel para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário a ≥ 4 terapias prévias, incluindo um inibidor de proteassoma, um agente imunomodulador e um anticorpo anti-CD38. Trata-se de uma terapia CAR-T dirigida ao antígeno de maturação de células B (BCMA).
Os dados que levaram à aprovação resultaram do estudo CARTITUDE-1, que incluiu 113 pacientes, dentre os quais 97 receberam ciltacabtagene autoleucel na dose recomendada para a fase II do estudo. Os desfechos avaliados foram a taxa de resposta e a duração de resposta, conforme análise do comitê revisor independente através dos critérios de resposta uniformes do International Myeloma Working Group.
A taxa de resposta foi de 97,9%, com duração mediana do benefício de 21,8 meses. Destaca-se que 78% dos pacientes que responderam ao tratamento obtiveram respostas completas. A dose terapêutica recomendada é de 0,5-1,0 x 106 células CAR-T viáveis por quilo de peso, limitada a uma dose máxima de 1 x 108 células CAR-T viáveis por infusão.
“Embora o mieloma múltiplo seja uma doença que possui vários tipos de tratamento, ainda incorremos no cenário onde pacientes, apesar de terem utilizado todos os tratamentos, demonstram duração menor de resposta e maior resistência e refratariedade ao arsenal terapêutico. As medicações vêm melhorando muito, o que tem diminuído esse pool de pacientes. Porém, infelizmente, as recidivas ainda ocorrem em grande frequência e inevitavelmente o paciente seguirá fazendo uso de tratamentos contínuos a fim de controlar a sua doença.
A abordagem com células T geneticamente modificadas, também conhecidas como CAR-T, representa uma modalidade de tratamento diferente onde se aplica a terapia celular para o controle e até erradicação de células do mieloma múltiplo. O desenvolvimento do CAR-T para mieloma múltiplo veio depois do desenvolvimento desta mesma tecnologia para as neoplasias linfoides, como, a Leucemia Linfoide Aguda ou Linfoma Difuso de Grandes Células B.
Com isso, não há dados de longo termo com o uso de CAR-T para o mieloma múltiplo. Contudo, os dados preliminares são impressivos no sentido de que mostram uma alta taxa de resposta que inclui negativação da doença residual mínima. A mediana de duração de resposta, apesar de ainda ser preliminar, é bastante promissora. Resta saber se esses dados de altas taxas de respostas profundas iniciais irão se traduzir em resultados de sobrevida livre de progressão e sobrevida geral em longo termo.
A expectativa é de que sim, porém, só o tempo irá confirmar essa informação. Com esses dados bastante promissores e uma limitação de opções de tratamento em pacientes já refratários a 3, 4 ou 5 classes de tratamento para o mieloma, passa-se a incluir o CAR-T como uma opção, pelo menos nos Estados Unidos, mas esperamos que essa aprovação também esteja disponível no Brasil este ano ou o ano que vem”, comenta o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida