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Regime terapêutico perioperatório com imunoterapia é aprovado nos EUA
Em 25 de novembro de 2025, a agência norte-americana FDA (Food and Drug Administration) aprovou o uso de durvalumabe em combinação com quimioterapia baseada em FLOT (5-fluorouracil, leucovorin, oxaliplatina e docetaxel) no tratamento neoadjuvante e adjuvante de pacientes adultos com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica (CG/CJGE) ressecável. Após a cirurgia, a terapia deve ser continuada com durvalumabe como agente único até o limite de 12 ciclos. A decisão foi conduzida no âmbito do Project Orbis, em colaboração com ANVISA (Brasil), TGA (Austrália), HC (Canadá), IMoH (Israel) e Swissmedic (Suíça), estando as revisões regulatórias ainda em andamento nas demais agências participantes.
A aprovação teve como base os resultados do estudo de fase III MATTERHORN, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, que incluiu 948 pacientes com CG/GJGE ressecável em estágio II a IVA, sem tratamento prévio. Os participantes foram randomizados na proporção 1:1 para receber FLOT associado a durvalumabe ou a placebo.
O desfecho primário foi a sobrevida livre de eventos, avaliada por revisão central independente. A população incluída apresentava idade mediana de 62 anos, idade ≥ 65 anos em 41% e sexo masculino em 72%. As características da doença incluíram: estágio II em 29%, estágio III em 62%, estágio IVA em 9%, localização gástrica em 68% e junção gastroesofágica em 32%, tipo Siewert 1 em 10%, tipo Siewert 2 em 15%, tipo Siewert 3 em 7%, tipo intestinal em 51% e tipo difuso em 26%. Apresentavam linfonodo clinicamente positivo em 70% e expressão de PD-L1 ≥ 1% em 90% (avaliado por TAP).
No braço durvalumabe, 412 pacientes (87%) realizaram cirurgia com intenção curativa, comparado a 400 pacientes (84%) no braço placebo. O procedimento cirúrgico foi adiado (definido como tentativa de cirurgia após mais de 8 semanas da última dose da terapia neoadjuvante) em 48 pacientes (10%) no grupo experimental e em 51 pacientes (11%) no grupo placebo.
No grupo durvalumabe, 248 pacientes (52%) concluíram dois ciclos de imunoterapia adjuvante e 291 pacientes (61%) finalizaram dois ciclos de FLOT adjuvantes. No grupo placebo, 245 pacientes (52%) completaram dois ciclos de placebo adjuvante e 303 pacientes (64%) dois ciclos de FLOT adjuvante. Além disso, 344 pacientes (73%) no braço experimental iniciaram monoterapia com durvalumabe adjuvante, contra 332 pacientes (70%) no braço placebo.
O braço com durvalumabe não alcançou a mediana de sobrevida livre de eventos, comparado a 32,8 meses no braço controle (HR=0,71; IC de 95%: 0,58-0,86; p < 0,001). A sobrevida global foi também superior com a imunoterapia (HR=0,78; IC de 95%: 0,63-0,96; p=0,021). A taxa de resposta patológica completa foi de 19,2% no grupo durvalumabe versus 7,2% no grupo controle (p < 0,001). Os eventos adversos mais frequentes (≥ 20% dos pacientes) no braço experimental foram: diarreia, náuseas, neuropatia periférica, fadiga, alopecia, redução do apetite, rash cutâneo, dor abdominal, vômitos, dor musculoesquelética, febre e estomatite. O perfil de segurança destacou reações imunomediadas, reações relacionadas à infusão, complicações associadas ao transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas e toxicidade embriofetal.
A dose recomendada de durvalumabe para pacientes com peso ≥ 30 kg é de 1.500 mg, via intravenosa, a cada 4 semanas, administrado com FLOT por até quatro ciclos no contexto neoadjuvante e adjuvante, seguido por monoterapia com durvalumabe na mesma dose e intervalo por até 10 ciclos adicionais. Para pacientes com peso < 30 kg, a dose é de 20 mg/kg com o mesmo esquema. O tratamento deve ser mantido até progressão de doença, recorrência ou toxicidade limitante, com um máximo de 12 ciclos após a cirurgia.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida