Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Notícias

Novidades da Conferência Mundial de Câncer de Pulmão

Entre os dias 23 e 26 de setembro de 2018 ocorreu em Toronto, Canadá, a 19ª Conferência Mundial de Câncer de Pulmão (WCLC), promovida pela Associação Internacional para Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC). O MOC traz a seguir os principais resultados apresentados na conferência:

 

Rastreamento do câncer de pulmão:

NELSON: estudo populacional controlado europeu com 15.792 pacientes tabagistas assintomáticos com risco alto para desenvolvimento de câncer de pulmão (idade entre 50 e 75 anos, tabagismo ativo com carga tabágica ≥ 15 cigarros/dia por mais de 25 anos ou ≥ 10 cigarros/dia por mais de 30 anos, fumantes atuais ou que cessaram há menos de 10 anos). Os pacientes foram randomizados 1:1 para realização ou não de tomografias computadorizadas (TC) de tórax para rastreamento periódico (no momento da randomização e na sequência após 1, 3 e 5,5 anos da primeira imagem).

Com um seguimento mínimo de 10 anos, o estudo demonstrou que o uso periódico de TC volumétrica de tórax promoveu uma redução de 26% na mortalidade específica por câncer de pulmão em 10 anos nos pacientes do sexo masculino. Em relação às pacientes do sexo feminino, o risco de morte por câncer de pulmão foi reduzido entre 39% e 61% nos diferentes períodos de análise, demonstrando um benefício ainda maior. Dentre os tumores diagnosticados, 69% apresentavam-se em estádio IA ou IB, traduzindo-se em uma necessidade cerca de três vezes maior de abordagem cirúrgica nos pacientes submetidos a rastreamento em comparação aos pacientes do grupo controle (67,7% versus 24,5%; p<0,001).

 

Doença localmente avançada:

PACIFIC: o estudo fase III PACIFIC randomizou 713 pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas estádio III irressecável que não apresentaram progressão após protocolo de quimioirradiação baseada em platina para receberem tratamento com durvalumabe ou placebo pelo período de 1 ano. Previamente, em uma análise interina dos dados, o estudo já havia comprovado benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão, um de seus objetivos coprimários, em favor do grupo que recebeu tratamento com durvalumabe. Na atualização dos dados apresentados nessa conferência, com um seguimento mediano de 25,2 meses, o estudo confirmou novamente o benefício em sobrevida livre de progressão (17,2 versus 5,6 meses;  HR=0,51) e demonstrou também benefício em sobrevida global (HR=0,68; IC de  99,73%: 0,47-0,997; p=0,0025).

 

Terapia-alvo na doença avançada:

ALTA-1L: estudo fase III que randomizou 275 pacientes portadores de câncer de pulmão de células não pequenas avançado com translocação de ALK para receberem tratamento com brigatinibe ou crizotinibe. Dentre os critérios de inclusão, era permitido o tratamento sistêmico prévio com até um esquema quimioterápico, porém eram excluídos pacientes com exposição prévia a inibidores do ALK. Nesta análise interina de dados, com um seguimento mediano entre 9,3-11,0 meses, o tratamento com brigatinibe promoveu benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão pela revisão independente dos dados, objetivo primário do estudo (HR=49; IC de 95%: 0,33-0,74; p<0,001). Dentre os objetivos secundários do estudo, o tratamento com brigatinibe também foi associado com uma maior taxa de resposta (71% versus 60%), bem como maior taxa de resposta intracraniana (78% versus 29% nos pacientes com lesões mensuráveis). Sobre a segurança do tratamento, a taxa de eventos adversos sérios foi semelhante entre os braços (61% para brigatinibe versus 55% no grupo tratado com crizotinibe), destacando-se a elevação de CPK (16%), lipase (13%) e hipertensão (10%) nos pacientes tratados com brigatinibe, e elevação de ALT (9%) e lipase (5%) nos pacientes tratados com crizotinibe.

 

Câncer de pulmão de células pequenas avançado:

IMPower133: estudo fase III que randomizou 201 pacientes com câncer de pulmão de células pequenas doença extensa para receberem tratamento de primeira linha com carboplatina e etoposideo associados a atezolizumabe ou placebo por 4 ciclos, seguidos de atezolizumabe/placebo até progressão de doença ou toxicidade limitante. Com seguimento mediano de 13,9 meses, o estudo atingiu seus objetivos primários, demonstrando benefício estatisticamente significativo em sobrevida global (12,3 versus 10,3 meses; HR=0,7; IC de 95%: 0,54-0,91; p=0,007), bem como redução de 33% no risco de progressão de doença ou morte (HR=0,77; p=0,02), ambos em favor do esquema de tratamento contendo atezolizumabe. Não houve diferença entre o percentual de toxicidades de graus ≥3 entre os grupos de tratamento (56,6% versus 56,1%).

 

Mesotelioma:

LUME-Meso: nesse estudo randomizado multicêntrico foram randomizados 458 pacientes com mesotelioma epitélioide pleural para receberem como primeira linha de tratamento sistêmico a combinação dos quimioterápicos cisplatina e pemetrexede em associação a nintedanibe ou placebo. Como resultado, o estudo demonstrou que o uso de nintedanibe não foi associado a redução no risco de progressão de doença ou morte em comparação ao mesmo tratamento quimioterápico associado a placebo (HR=1,01; IC de 95%: 0,79-1,30; p=0,91), o que resultou na descontinuação do estudo.

 

Segundo o Dr. William William, diretor médico de oncologia e hematologia do Hospital BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, vários dos estudos apresentados na sessão plenária mudam a prática clínica diária. “O estudo NELSON corrobora os dados do estudo NLST, solidificando o papel do rastreamento com TC de tórax em pacientes com exposição ao tabagismo. A significativa redução da mortalidade por câncer de pulmão com esta estratégia é um avanço em termos de saúde pública e deve levar-nos a refletir sobre a maneira mais adequada para implementação do rastreamento em nível populacional. Em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas estádio III, a consolidação com durvalumabe após quimiorradioterapia aumenta as chances de cura, e o medicamento já encontra-se aprovado no Brasil pela ANVISA para esta indicação. Os dados do ALTA-1L sugerem que além de alectinibe, brigatinibe passa a ser uma opção sólida para uso como terapia-alvo na primeira linha em pacientes com câncer de pulmão ALK positivo metastático, sendo que crizotinibe deve ser utilizado somente quando nenhum dos TKIs de geração nova acima mencionados estiverem disponíveis.” Por fim, Dr. William comenta que a comunidade comemorou o avanço no tratamento do câncer de pulmão de células pequenas extenso advindo do estudo IMPower 133, já que a adição de atezolizumabe à quimioterapia de primeira linha é a primeira estratégia de tratamento sistêmico em décadas que leva a um aumento de sobrevida em uma doença com pouquíssimas opções terapêuticas.

 

Esses e outros trabalhos serão discutidos no II Simpósio de Câncer de Pulmão, que acontecerá entre os dias 30 de novembro a 1º de dezembro de 2018 em São Paulo. As inscrições estão disponíveis no seguinte endereço eletrônico: www.simposiocancerdepulmao.com.br

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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