Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

Nova opção de terapia oral para o câncer de mama aprovada no Brasil

O câncer de mama acomete cerca de 60.000 novas pacientes no Brasil anualmente, representando aproximadamente um terço dos novos casos de câncer no território nacional nessa população, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Esses números reforçam a importância do desenvolvimento de novas terapias para essa patologia. Alterações na via PI3K/AKT/mTOR são de extrema importância na patogênese da doença. Ressaltam-se as mutações no gene PIK3CA, as quais ocorrem em aproximadamente 40% dos tumores de mama RH positivos HER-2 negativos, e possuem um importante papel no mecanismo de resistência à terapia endócrina.

Baseada nos dados do estudo de fase III SOLAR-1, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em 09 de setembro de 2019 o inibidor alfa-específico de PI3K alpelisibe em combinação com fulvestranto no tratamento de pacientes com doença avançada e mutação do PIK3CA, mediante progressão de doença durante ou após terapia hormonal.

MOC Noticias 92 - Nova opção de terapia oral para o câncer de mama aprovada no Brasil

Nesse estudo, 572 pacientes com câncer de mama metastático RH positivo HER-2 negativo com progressão a terapia endócrina com inibidor da aromatase foram randomizadas para receberem fulvestranto associado a alpelisibe ou a placebo. É importante destacar a inclusão de pacientes com resistência primária à terapia hormonal (recorrência em < 24 meses do início de terapia hormonal adjuvante, ou progressão em < 6 meses do início da terapia hormonal de primeira linha), bem como aquelas com resistência secundária (recorrência após > 24 meses do início de terapia hormonal adjuvante, recorrência em < 12 meses após o fim da terapia hormonal adjuvante, ou progressão após > 6 meses do início de terapia hormonal de primeira linha). A análise dos resultados na população com mutação de PIK3CA, realizada após um seguimento mediano de 20 meses, demonstrou benefício em sobrevida livre de progressão (HR=0,65; IC de 95%: 0,50-0,85; p<0,001), além de maior taxa de resposta (26,6% versus 12,8%) em favor das pacientes tratadas com alpelisibe. Os dados de sobrevida global ainda não são maduros nesta análise. Quando analisada a coorte de pacientes com ausência de mutação do PIK3CA, o tratamento com alpelisibe não foi capaz de demonstrar benefício em sobrevida livre de progressão, uma prova de conceito de atividade da droga apenas na coorte com mutação em PIK3CA.

Dentre as análises de segurança, o tratamento com alpelisibe promoveu eventos adversos de graus igual ou maior a 3 em 76% das pacientes, destacando-se hiperglicemia, toxicidades gastrointestinais (náusea, vomito, diarreia), além de fadiga, como os eventos mais frequentes.

Dra. Debora Gagliato, oncologista da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta: “trata-se de mais uma importante opção no arsenal terapêutico de pacientes com neoplasia de mama RH positivo avançada, evitando e postergando cada vez mais o uso de agentes quimioterápicos citotóxicos nessa população. Alpelisibe é o primeiro inibidor de PI3K a demonstrar um benefício clinicamente significativo no tratamento de pacientes com esse tipo de câncer de mama, diferente do que havíamos observado com pan-inibidores de PI3K, como buparlisibe. A capacidade de direcionar o tratamento baseado em uma mutação somática presente no tumor está se tornando cada vez mais comum no tratamento do câncer, sendo de extrema importância a incorporação de testes de diagnóstico complementares para auxiliar oncologistas na seleção de pacientes que podem se beneficiar desses tratamentos. No estudo, tanto amostra de tecido tumoral quanto ctDNA (DNA tumoral circulante) foram capazes de predizer benefício do tratamento com alpelisibe”.

A aprovação dessa droga muda a maneira como praticamos medicina em neoplasia de mama avançada, sendo alpelisibe selecionado com base no perfil genômico do câncer, tendência cada vez mais presente na oncologia como um todo”, conclui.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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