Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Covid-19

ENTREVISTA | Coronavírus (COVID-19) – Dr. Esper Kallás fala sobre a epidemia

[Vídeo gravado em 25/03/2020]

O Brasil está preparado para a epidemia de coronavírus? Vamos virar uma Itália? Já é possível estimar quando será disponibilizada uma vacina? Quais são os estudos clínicos em andamento e o que podemos esperar em termos de resultado de eficácia de novas drogas ou de drogas já existentes? O que existe de dados em relação à hidroxicloroquina? Quais são as orientações que os oncologistas devem passar aos pacientes em tratamento? Já existem dados com relação à gravidade da epidemia de acordo com o tipo de paciente oncológico? Quais são os cuidados que o oncologista deve ter durante o dia a dia nos hospitais?

 

Confira a entrevista exclusiva com o Dr. Esper Georges Kallás, titular do Departamento de Moléstias Infeccniosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sobre a epidemia de coronavírus.

 

Nenhum país estava preparado para lidar com o coronavírus (COVID-19). Houve exemplos de surtos anteriores de coronavírus  que iniciaram no sul da China (2002) e no Oriente Médio (2012), mas sem disseminação em outras regiões. O novo coronavírus, que teve início do seu ciclo na China no final de 2019, acumulou um grande número de casos em pouco tempo, provocando a saturação do sistema de saúde do governo chinês, que embora muito vasto é pequeno proporcionalmente ao tamanho da população, inclusive menor que o sistema de saúde brasileiro. Esse cenário levou a um colapso do sistema, disseminando o vírus para outras regiões da China, chegando a outros países do Sudeste Asiático, Oriente Médio, Europa, América do Norte e agora no Brasil. Em todos os países as medidas têm sido drásticas não só para tentar conter o avanço da disseminação do vírus, mas também para preservar vidas.

 

Existem elementos que indicam que o Brasil não irá desenvolver um cenário similar ao da Itália. Dr. Esper tece comentários a esse respeito relatando como está a estrutura dos hospitais no Brasil em termos numéricos para receber os casos de COVID-19 e faz um comparativo com outros países que estão enfrentando a epidemia.

 

As vacinas representam, sem dúvida, uma grande esperança para conter a epidemia. As estatísticas mais otimistas preveem que uma vacina possa ser disponibilizada no final de 2020 para utilização em 2021. “Acredito que teremos sucesso porque o vírus é bastante estável e relativamente grande comparado, por exemplo, com o vírus da dengue ou do zika”, conclui Dr. Esper.

 

Com relação a testes clínicos com medicamentos, assunto mais complexo, algumas medicações estão sendo identificadas, entre elas o inibidor da polimerase viral remdesivir, produzido pelo laboratório Gilead Sciences. A droga pode ser uma grande esperança e já possui estudos em fase III em andamento na China, com tempo de tratamento curto tanto em pacientes com doença moderada quanto naqueles com doença grave. Estima-se que os resultados sejam divulgados em breve. O uso do remdesivir tem sido testado também nos EUA, com previsão de divulgação em breve. Existem ainda mais dois estudos planejados, que irão analisar respectivamente o uso de remdesivir na doença leve (tratamento curto versus tratamento prolongado versus placebo) e na doença grave (tratamento curto versus tratamento prolongado).

 

E quanto às drogas já existentes no mercado, como por exemplo, a hidroxicloroquina já utilizada anteriormente como opção de tratamento do vírus da malária sem sucesso?  Estudos têm sido conduzidos com o objetivo de avaliar o reposicionamento de drogas já comercializadas. Até o momento, não existe nenhum estudo que demonstre que a hidroxicloroquina tenha efeito antiviral em estudo clínico controlado. O que existe é um estudo pequeno anunciado por pesquisadores chineses que sugere uma aparente eficácia da droga, mas sem resultados disponíveis. Outro trabalho francês publicado recentemente provocou uma polêmica envolvendo inclusive políticos ao afirmar que o uso da hidroxicloroquina é eficaz no tratamento do coronavírus. A análise, no entanto, não permite uma conclusão definitiva. Alguns estudos estão em andamento, inclusive no Brasil, sendo um deles realizado pelo Einstein e outro pelo grupo Prevent Senior, mas ainda é necessário aguardar.

 

No cenário da oncologia, neste momento, a recomendação (novamente!) é que os pacientes em tratamento continuem com as medidas de higienização com técnica adequada, além do distanciamento social, tendo em vista que a infecção pode ocorrer não só no hospital, mas também no dia a dia. Ainda não há dados suficientes para identificar ou afirmar quais são os grupos de pacientes oncológicos de maior risco. A esse respeito, Dr. Esper chama a atenção para um pequeno estudo publicado no The Lancet Oncology no dia 21 de março, demonstrando que número de casos de coronavírus em estágio grave, com necessidade de ventilação invasiva, aumentou nos pacientes sobreviventes de câncer ou que estão em tratamento.

 

Por fim, com relação ao oncologista, a proteção nos hospitais deve ser rigorosa. A recomendação é que os médicos entrem nos hospitais usando máscaras especiais e façam higienização das mãos, da mesa e dos objetos assim que chegar. Ao longo do dia, é importante lavar as mãos antes e após examinar cada paciente, evitar tocar no próprio no rosto e em outras superfícies durante as consultas e solicitar aos pacientes que façam uso de máscara.

 

Assista à entrevista na íntegra, saiba quais são as recomendações no cenário da oncologia, confira dados numéricos, informações sobre estudos em andamento e entenda porque o pico da epidemia deve ocorrer entre o final de abril e início de maio no Brasil.

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