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Atezolizumabe recebe duas importantes aprovações da ANVISA: nova formulação subcutânea e nova indicação terapêutica para câncer de pulmão avançado
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) anunciou recentemente duas importantes aprovações relacionadas ao imunoterápico atezolizumabe. As novidades incluem uma nova formulação subcutânea (SC) do medicamento, que simplifica e agiliza sua administração, e uma nova indicação terapêutica, como tratamento em monoterapia para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado inelegíveis à quimioterapia.
No dia 28 de julho de 2025, a ANVISA aprovou a formulação de administração SC do atezolizumabe, uma inovação significativa que permite administrar o medicamento em um tempo médio de 7 minutos, variando entre 4 e 8 minutos. A nova formulação representa um avanço importante em comparação à via intravenosa tradicional, que demanda entre 30 e 60 minutos para sua administração. A formulação SC do imunoterápico é coformulada com a enzima recombinante hialuronidase humana PH20, e demonstrou resultados farmacocinéticos não inferiores à formulação intravenosa (IV) tradicional, segundo os resultados do estudo randomizado fase III IMscin001.
Foram incluídos 371 pacientes adultos com CPCPN localmente avançado ou metastático, previamente tratados com quimioterapia baseada em platina, sem tratamento prévio com imunoterapia. Os pacientes foram randomizados para atezolizumabe SC ou atezolizumabe IV, ambos administrados a cada 3 semanas até progressão ou toxicidade limitante. A mediana de idade foi 64 anos (27-85 anos), predominando pacientes do sexo masculino (71%) e ECOG PS 1 (73%). A maioria dos pacientes apresentava doença metastática (95%) e histologia não escamosa (65%). O estudo alcançou seus objetivos primários farmacocinéticos, com a concentração sérica mínima observada (Ctrough) semelhante entre SC e IV. A área sob a curva de concentração no intervalo de 21 dias também demonstrou não inferioridade farmacocinética para a formulação SC comparada à IV. Os resultados secundários também foram semelhantes entre os braços SC e IV: sobrevida livre de progressão mediana e taxa de resposta objetiva. O perfil de segurança foi similar nos dois grupos, sem surgimento de novos eventos adversos específicos para a formulação SC.
Outra aprovação relevante ocorreu para uma nova indicação terapêutica do atezolizumabe: o uso como monoterapia de primeira linha para pacientes adultos com CPCNP avançado, que não são elegíveis para quimioterapia à base de platina devido à idade avançada, fragilidade clínica ou presença de múltiplas comorbidades.
O estudo de fase III IPSOS demonstrou que o uso do atezolizumabe em monoterapia, na primeira linha, aumentou significativamente a sobrevida global em comparação à quimioterapia isolada em pacientes com CPCNP avançado inelegíveis ao tratamento padrão com quimioterapia baseada em platina. Neste estudo, 453 pacientes com CPCNP estádios IIIB-IV foram randomizados para receber atezolizumabe ou quimioterapia padrão (vinorelbina ou gencitabina). A população incluiu pacientes idosos (mediana de idade de 75 anos, 31% com ≥ 80 anos), frágeis ou com comorbidades significativas. O ECOG predominante foi 2 (76%), sendo 7,5% com ECOG 3. O estudo atingiu seu objetivo primário, com melhora significativa na sobrevida global mediana de 10,3 meses com atezolizumabe versus 9,2 meses com quimioterapia (HR=0,78; IC de 95%: 0,63-0,97; p=0,028). A taxa de sobrevida em 24 meses dobrou com o imunoterápico, sendo 24% versus 12% no grupo quimioterapia. Os benefícios de atezolizumabe foram consistentes em diferentes subgrupos avaliados (status ECOG, histologia e expressão de PD-L1). Eventos adversos relacionados ao tratamento graus ≥ 3 foram menos frequentes com atezolizumabe (16% versus 33%). Eventos adversos fatais relacionados ao tratamento foram raros e menores com atezolizumabe (1%) em comparação à quimioterapia (3%).
Essas duas aprovações demonstram a ampliação do potencial terapêutico do atezolizumabe, oferecendo benefícios importantes em eficácia, segurança e conveniência para os pacientes.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida