Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Linfomas

Terapia celular com CAR-T recebe nova aprovação para neoplasia hematológica nos EUA

A terapia celular envolvendo células T com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) anti-CD19, axicabtagene ciloleucel, recebeu uma nova aprovação pelo FDA (Food and Drug Administration) em 1º de abril de 2022, com a inclusão em bula da indicação de tratamento de pacientes com linfoma de grandes células B (LGCB) refratários à primeira linha com quimioimunoterapia ou que apresentaram recorrência dentro de 12 meses após o tratamento com quimioimunoterapia.

O uso de axicabtagene ciloleucel nesse cenário foi avaliado no estudo ZUMA-7, que randomizou 359 pacientes com LGCB primariamente refratários ou com recorrência em ≤ 12 meses após completar o tratamento de primeira linha entre quimioterapia para linfodepleção com fludarabina e ciclofosfamida seguida do CAR-T ou terapia-padrão de segunda linha (2-3 ciclos de quimioimunoterapia, seguidos de tratamento em altas doses e transplante de medula autólogo para os pacientes com remissão parcial ou completa).

A sobrevida livre de eventos analisada pelo comitê revisor independente, desfecho primário do estudo, atingiu mediana de 8,3 versus 2,0 meses (HR=0,40; IC de 95%: 0,31-0,51; p < 0,0001) em favor do braço que recebeu CAR-T. As taxas de sobrevida livre de eventos aos 18 meses foram 41,5% versus 17% para os braços de axicabtagene ciloleucel e quimioterapia padrão, respectivamente. Dentre os pacientes randomizados para o tratamento-padrão, 35% receberam transplante autólogo de medula, sendo que ausência de resposta a quimioterapia foi a principal causa da não realização do transplante. A taxa de melhor resposta avaliada pelo comitê revisor independente também foi estatisticamente superior no braço do CAR-T: 83% versus 50%. Na avaliação de segurança, as toxicidades mais incidentes no tratamento com axicabtagene ciloleucel foram síndrome de liberação de citocinas, febre, hipotensão, encefalopatia, fadiga, taquicardia, cefaleia, náuseas, neutropenia febril, diarreia, dor musculoesquelética, infecções, tremores e redução do apetite. Foi registrado em bula um destaque para o risco de síndrome de liberação de citocinas e toxicidades neurológicas, uma vez que estes eventos ocorreram nos estudos em 90% (graus ≥ 3 em 9%) e 78% (graus ≥ 3 em 25%) dos pacientes, respectivamente.

Com o sucesso da terapia CAR-T em pacientes com linfoma difuso de grandes células B refratários a múltiplas linhas de tratamento, há um maior foco em introduzir essa modalidade de terapia para linhas mais precoces de tratamento. Uma população que foi especificamente estudada em uma publicação recente contempla os  pacientes com linfoma difuso de grandes células B que apresentavam alguma característica de alto risco como, por exemplo, uma doença primariamente refratária ou que recidivou precocemente no primeiro ano do tratamento.

É sabido que este grupo de pacientes apresenta uma biologia mais agressiva e tende a ser menos responsivo a tratamentos convencionais com quimioterapia e transplante de medula óssea. Foi nesse cenário que o estudo ZUMA-7 foi realizado, comparando o transplante autólogo com resgate à terapia CAR-T. Apesar de haver alguns viéses na seleção destes pacientes nesse estudo, a terapia CAR-T foi superior à uma nova quimioterapia de indução seguida de transplante autólogo de medula óssea, o tratamento-padrão até então. Tal resultado levou à aprovação do CAR-T pelo FDA nesta população de pacientes com linfoma que apresentavam características de risco alto.

É importante ressaltar que essa estratégia foi aplicada aos pacientes que preenchiam os critérios de inclusão deste estudo e que esses resultados não são generalizáveis a todos os pacientes que apresentem um linfoma difuso de grandes celula B  com características de risco alto“, comenta o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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