Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Linfomas

Nova aprovação para o tratamento do linfoma de células do manto no Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou, no dia 27 de novembro de 2023,  pirtobrutinibe, um tratamento oral inovador para pacientes com linfoma de células do manto (LCM), que apresentaram progressão de doença a um inibidor de tirosina quinase de Bruton (BTK) previamente. Trata-se do primeiro e único inibidor reversível de BTK, uma enzima vital na proliferação celular, oferecendo vantagem terapêutica ao prevenir o desenvolvimento de resistência celular.

O uso de pirtobrutinibe neste cenário foi avaliado no estudo BRUIN, que incluiu 164 pacientes com LCM, com destaque na avaliação de eficácia dos primeiros 90 participantes que já haviam sido tratados com inibidores covalentes de BTK e receberam pirtobrutinibe, cenário da aprovação regulatória.

A taxa de resposta nestes pacientes foi de 56,7%, enquanto o desfecho foi apresentado por 85,7% daqueles sem exposição prévia a outros inibidores de BTK. A duração mediana de resposta foi de 17,6 meses e sobrevida global mediana de 23,5 meses nos pacientes previamente tratados, com eficácia também demonstrada em pacientes portadores de doença mais agressiva, como aqueles com alta expressão de Ki-67 e alterações de TP53. Dentre os 164 pacientes com linfoma do manto tratados com pirtobrutinibe que foram analisados para segurança do tratamento no estudo BRUIN, os eventos adversos relacionados ao tratamento mais incidentes foram: fadiga, diarreia e dispneia. Destaca-se a baixa taxa de descontinuação do tratamento em decorrência de eventos adversos (apenas 3,0%) e que não ocorreram eventos de grau 5 relacionados à droga.

Os inibidores de BTK representaram um marco revolucionário há mais de uma década no tratamento de doenças linfoproliferativas, tais como a leucemia linfocítica crônica e o LCM. A primeira droga dessa classe, o ibrutinibe, destacou-se por proporcionar elevadas taxas de resposta e boa tolerabilidade em pacientes cujas condições eram refratárias às terapias convencionais da época.

Desde então, novas versões dos inibidores de BTK foram desenvolvidas, incluindo o acalabrutinibe e o zanubrutinibe. Mais recentemente, no Brasil, o pirtobrutinibe foi aprovado após demonstrar eficácia em pacientes com LCM que progrediram após terapias anteriores, incluindo tratamentos com inibidores de BTK prévios. Embora o pirtobrutinibe partilhe um mecanismo de ação semelhante ao do ibrutinibe, sua especificidade pela proteína BTK é superior. Além disso, difere dos inibidores anteriores quanto à natureza da ligação ao BTK, sendo reversível (não covalente) no caso do pirtobrutinibe, em contraste com a ligação irreversível (covalente) do ibrutinibe, acalabrutinibe e zanubrutinibe. Essa particularidade pode explicar, ao menos em parte, a capacidade do pirtobrutinibe em superar a resistência observada com os inibidores de BTK anteriores. Atualmente, muitas outras moléculas dessa classe estão em fase de desenvolvimento. A maior especificidade, nuances no mecanismo de ação e aprimoramento da tolerabilidade nas drogas de geração mais recente são fatores que contribuem significativamente para a eficácia aprimorada desses tratamentos“, destaca o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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