Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Linfomas

Epcoritamabe é aprovado no Brasil para o tratamento de linfoma agressivo

Em 18 de dezembro de 2023, o anticorpo biespecífico IgG1 humanizado de administração subcutânea epcoritamabe recebeu aprovação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) recidivado ou refratário, após progressão a ≥ 2 linhas de terapia sistêmica. Epicoritamabe se destaca pelo seu mecanismo de ação singular: ele se liga simultaneamente às células T CD3 e às células B malignas CD20. Esse mecanismo induz a ativação e atividade citotóxica das células T, resultando na destruição das células linfomatosas. Para garantir a especificidade de sua ação, a região Fc de epcoritamabe foi modificada para prevenir a ativação não específica de células T e a consequente liberação de citocinas, limitando a citotoxicidade apenas na presença de células alvo.

A aprovação anunciada é baseada no estudo GCT3013-01, um estudo fase 1/2, global, aberto e de braço único, que investigou a eficácia de epcoritamabe em indivíduos com linfoma de células B recidivado ou refratário, além de incluir dados de pacientes japoneses do estudo GCT3013-04 e de pacientes recebendo 48 mg do medicamento nos estudos GCT3013-01 e GCT3013-04. A população de eficácia incluiu 148 pacientes com LDGCB não especificado (NOS), doença decorrente de linfoma indolente e linfoma de células B de alto grau. Dentre os 148 pacientes, a idade mediana foi 65 anos, 62% eram do sexo masculino, 86% possuíam diagnóstico de LDGCB NOS, incluindo 27% transformados de linfoma indolente e 14% com linfoma de células B de grau alto. O número mediano de tratamentos anteriores foi 3, com 30% recebendo 2 linhas prévias, 30% recebendo 3 linhas prévias e 40% recebendo ≥ 4 linhas anteriores. Dezoito por cento tinham realizado transplante de células tronco hematopoiéticas autólogo e 39% tinham realizado terapia prévia com células CAR-T, sendo 29% dos pacientes refratários à terapia com células CAR-T.

Dentre os pacientes com LDGCB, a taxa de resposta a epcoritamabe foi de 61,9%, e a taxa de resposta completa foi  de 38,8%, com duração mediana de resposta de 15,6 meses. Na avaliação de segurança, os eventos adversos mais comuns (≥ 20%) foram síndrome de liberação de citocinas (SLC), fadiga, dor musculoesquelética, reações no local da injeção, febre, dor abdominal, náuseas e diarreia. As anormalidades laboratoriais de graus 3 ou 4 mais comuns (≥ 10%) foram linfopenia, neutropenia, leucopenia, anemia e plaquetopenia. Eventos adversos graves ocorreram em 54% dos pacientes e a descontinuação do tratamento por eventos adversos ocorreu em 3,8% da população. Há um destaque em bula para o risco de SLC e a síndrome de neurotoxicidade associada às células efetoras imunológicas, juntamente com orientações específicas para gerenciamento desses eventos.

Por se tratar de indicação terapêutica aprovada com base em resultados de eficácia de estudo fase II com desfecho primário de taxa de resposta, a manutenção da aprovação para esta indicação depende da verificação e descrição do benefício clínico em estudos confirmatórios.

Há um debate intenso na hematologia sobre a sequência ideal de aplicação dos anticorpos biespecíficos e da terapia de células CAR-T, dado que ambas têm indicações semelhantes. A terapia de células CAR-T, apesar de envolver uma logística complexa e necessitar de centros especializados, é aplicada uma única vez e tem demonstrado respostas duradouras em 40% dos pacientes com LDGCB. Por outro lado, a terapia com anticorpos biespecíficos requer aplicações contínuas e ambulatoriais, embora as primeiras doses geralmente sejam administradas em ambiente hospitalar com escalonamento de dose. Além disso, essa terapia está associada a citopenias e infecções.

Estudos preliminares sugerem que os anticorpos biespecíficos mantêm sua eficácia mesmo após recidiva pós-terapia com células CAR-T. No entanto, pacientes previamente tratados com anticorpos biespecíficos tendem a apresentar menor resposta à terapia com células CAR-T, especialmente se não houve resposta aos biespecíficos. O epcoritamabe é o primeiro anticorpo biespecífico aprovado no Brasil para linfomas e há expectativas de que outros anticorpos em desenvolvimento para linfomas também sejam disponibilizados no país“, comenta o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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