Continue sua leitura
Comunicado de segurança do FDA: risco de neoplasias hematológicas em tratamento com células CAR-T
O FDA (Food and Drug Administration) anunciou em um comunicado à imprensa a investigação de relatos de neoplasias de células T, incluindo linfoma CAR-positivo, em pacientes submetidos a tratamento com células CAR-T autólogas geneticamente modificadas direcionadas ao BCMA ou CD19. Estas informações foram compiladas a partir de dados de estudos clínicos e relatórios de eventos adversos pós-comercialização.
O FDA reconhece que este risco está presente em todas as terapias de células CAR-T atualmente aprovadas, incluindo:
– Idecabtagene vicleucel;
– Lisocabtagene maraleucel;
– Ciltacabtagene autoleucel;
– Tisagenlecleucel;
– Brexucabtagene autoleucel;
– Axicabtagene ciloleucel.
Embora os benefícios destes produtos ainda sejam considerados superiores aos riscos potenciais nas indicações aprovadas, o FDA está avaliando a necessidade de medidas regulatórias adicionais devido ao risco identificado, que podem levar a desfechos graves, incluindo hospitalização e morte. Em um contexto mais amplo, produtos de terapia genética com vetores integrados (lentivirais ou retrovirais) carregam o risco de desenvolvimento de neoplasias secundárias. Um aviso específico já está presente na bula norte-americana das terapias de células CAR-T direcionadas ao BCMA e CD19. As aprovações iniciais desses produtos já incluíam a necessidade de estudos de segurança de longo prazo (15 anos) para avaliar a segurança a longo prazo e o risco de neoplasias secundárias.
O FDA recomenda que pacientes tratados e participantes de ensaios clínicos devem ser monitorados ao longo da vida para novas neoplasias. No caso de surgimento de uma nova neoplasia após o tratamento, os fabricantes dos produtos devem ser notificados para orientações sobre a coleta de amostras para testar a presença do transgene CAR.
Em resposta a este anúncio, a indústria farmacêutica, incluindo as fabricantes das terapias CAR-T afetadas, reiteraram seu compromisso com a segurança do paciente e a transparência. As empresas estão colaborando ativamente com o FDA e fornecendo informações necessárias para facilitar uma revisão aprofundada. Essas ações refletem o compromisso contínuo da indústria em aderir às diretrizes regulatórias e priorizar a segurança do paciente.
“A terapia com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) direcionada a BCMA (para tratamento de mieloma múltiplo) e CD19 (para linfomas e leucemias de células B) tem transformado significativamente o tratamento das neoplasias hematológicas. Pacientes que não responderam à quimioterapia, imunoterapia, terapias-alvo ou transplante de medula óssea, têm apresentado altas taxas de resposta com a terapia CAR-T, alcançando sobrevida a longo prazo em cerca de 50% dos casos. Esses resultados sem precedentes oferecem uma nova esperança terapêutica em casos onde os tratamentos convencionais falharam.
O recente alerta do FDA é de extrema importância e deve ser analisado cuidadosamente. Entretanto, é crucial ponderar a relação risco-benefício desta terapia, como é o caso em todas as intervenções em hematologia e oncologia. Se a correlação entre a terapia CAR-T e o desenvolvimento de neoplasias de células T for confirmada, é provável que o FDA intensifique a monitorização pós-comercialização, atualmente exigindo acompanhamento por 15 anos. Outra questão chave é entender o mecanismo pelo qual ocorre a transformação dos linfócitos T em células neoplásicas: isso acontece nas células T modificadas ou nas células não modificadas do paciente? Seria a inserção gênica nos linfócitos T a causa do desenvolvimento dessas neoplasias? Há alguma mutação que se associa com essa transformação? Essas e outras questões são fundamentais para elucidar e garantir maior segurança na utilização da terapia CAR-T.
Esse alerta será um dos principais tópicos de discussão que serão debatidos no Congresso Americano de Hematologia (ASH) que ocorrerá em San Diego entre os dias 9 a 12 de dezembro de 2023”, comenta o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida