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O risco de câncer de mama entre pacientes tratadas com radioterapia de tórax na infância é tão alto quanto portadoras de BRCA1
Mulheres que recebem radioterapia de tórax por câncer durante a infância possuem elevado risco de câncer de mama na vida adulta. Elas apresentam as maiores estimativas já descritas em outras populações, variando de 5 a 14% aos 40 anos. Mesmo em pacientes tratadas com técnicas mais modernas e com menor dose de irradiação, o risco permanece elevado. Nesse sentido, várias organizações internacionais têm lançado recomendações sobre a necessidade de observação em longo prazo para este grupo de pacientes.
Com objetivo de analisar a incidência e as variações no risco conforme campo e dose de irradiação, um estudo avaliou 1.230 mulheres sobreviventes de câncer na infância, participantes do Childhood Cancer Survivor Study (CCSS) que haviam recebido radioterapia em um dos seguintes campos: manto, mediastino, hemitórax, abdômen (com extensão acima do diafragma), coluna torácica/paravertebral, radioterapia de todo o pulmão ou radioterapia de corpo inteiro.
Resultados:
- Das 1.230 mulheres avaliadas, 203 tiveram o diagnóstico de câncer de mama confirmado.
- O tempo mediano entre o diagnóstico de câncer de infância até o início de câncer de mama foi de 23 anos (variação: 7-41 anos).
- A idade mediana no momento do diagnóstico de câncer de mama foi de 39 anos (intervalo de 24 a 59).
- O risco de câncer de mama em toda a amostra foi 22 vezes maior: standardized incidence ratio (SRI) igual a 21,9 (IC de 95%: 19,1-25,2).
- Pacientes que receberam doses mais baixas de radiação (mediana de 14 Gy) em um grande volume (campo pulmonar total), o risco de câncer de mama foi mais elevado que entre aquelas que receberam somente dose mais elevada de (mediana 40 Gy): SRI 43,6 (IC de 95%: 27,2-70,3) versus SRI 24,2 (IC de 95%: 20,7-28,3).
- Entre as sobreviventes de câncer infantil, em geral, a incidência cumulativa de câncer de mama aos 50 anos foi de 30% (IC de 95%: 25-34) versus 35% (IC de 95%: 29-40) entre aquelas tratadas para linfoma de Hodgkin. Sendo este risco maior que o risco entre portadoras de BRCA1: 31% (IC de 95%: 15-48).
- Mortalidade específica por câncer de mama em 5 e 10 anos foi de 12% (IC de 95%: 8-18) e 19% (IC de 95%: 13-25), respectivamente.
- O uso de quimioterapia com agentes alquilantes não modificou o risco de câncer de mama (HR=1.1; IC de 95%: 0,8-1,4; p=0,75).
Este estudo evidencia de forma clara a magnitude do risco de câncer de mama entre sobreviventes de câncer na infância ao mostrar que o mesmo é comparável ao de pacientes portadoras da mutação BRCA1. Ele é importante, sobretudo, em demonstrar que esse risco não está relacionado somente à dose de radioterapia, mas principalmente ao volume (campo) irradiado. E ainda, chama atenção também para elevada mortalidade câncer específica nessa população, nos deixando claro que diretrizes de vigilância e rastreamento precoce de câncer de mama nessa população são fundamentais e devem ser mais difundidas.
Referência:
Moskowitz CS, Chou JF, Wolden SL, et al. Breast Cancer After Chest Radiation Therapy for Childhood Cancer. J Clin Oncol 2014; Epub ahead of print, Apr 21.
Antonio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Aline da R. Lino
Médica Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.