Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

Nova aprovação para trastuzumabe deruxtecana no Brasil

Em 31 de outubro de 2022, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou uma nova indicação terapêutica para o anticorpo conjugado a droga (ACD) trastuzumabe deruxtecana (T-DXd), incluindo agora o tratamento de pacientes com câncer de mama metastático HER-2 low após exposição a pelo menos um regime quimioterápico para a doença avançada ou no caso de doença recidivada em até 6 meses após o término do tratamento quimioterápico adjuvante.

A avaliação do tratamento de pacientes com câncer de mama HER-2 low ocorreu no estudo DESTINY-Breast04, que randomizou 557 pacientes com doença metastática ou irressecável entre tratamento com T-DXd ou quimioterapia a escolha do investigador (eribulina, capecitabina, gencitabina, nab-paclitaxel ou paclitaxel). A definição de doença HER-2 low corresponde àquela com resultado da análise imuno-histoquímica para HER-2 1+ ou 2+ com teste de hibridização in situ negativo. Dentre a população incluída no estudo, cerca de 90% dos pacientes possuíam doença com expressão de receptores hormonais (RH+), dois terços apresentavam metástases hepáticas, 5% com metástases cerebrais e 60% deles haviam recebido ao menos três linhas de tratamento prévias para a doença metastática.

O estudo atingiu seu objetivo primário, demonstrando redução de 49% no risco de progressão ou morte em favor de T-DXd nos pacientes com doença RH+ (HR=0,51; IC de 95%: 0,40-0,64; p<0,001). Quando a análise foi conduzida na população global, o resultado também foi favorável ao braço do ACD (HR=0,50; IC de 95%: 0,40-0,63; p<0,001). Adicionalmente, o braço randomizado para tratamento com T-DXd também demonstrou resultados positivos na avaliação de sobrevida global na população RH+ (HR=0,64; IC de 95%: 0,48-0,86; p=0,003) e na população global (HR=0,64; IC de 95%: 0,49=0,84; p=0,001). Na avaliação dos pacientes com RH-, a performance do braço experimental também foi superior ao braço controle na sobrevida livre de progressão (HR=0,46; IC de 95%: 0,24-0,89) e na sobrevida global (HR=0,48; IC de 95%: 0,24-0,95). Na população global, a taxa de resposta a T-DXd foi 52,3% versus 16,3% nos pacientes que receberam quimioterapia. Na avaliação de segurança, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 52,6% versus 67,4% para o ACD e quimioterapia, respectivamente, com destaque para toxicidades mais frequentes no braço experimental náuseas, fadiga e alopecia. A taxa de doença intersticial pulmonar com o ACD foi 12,1%, com 2,1% de eventos de graus ≥ 3. Em relação à segurança cardiológica, 11,9% dos pacientes tratados com T-DXd apresentaram queda da fração de ejeção do ventrículo esquerdo de grau 2 (redução de 10-19% do basal) e 1,5% de grau 3 (redução > 20% do basal).

Conforme comenta a Dra. Juliana Martins Pimenta, oncologista clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo: “trata-se de uma importante aprovação que pode beneficiar um grande número de pacientes, uma vez que o grupo HER-2 low corresponde a aproximadamente 50% das pacientes com câncer de mama. O T-DXd já havia sido recentemente aprovado para pacientes com câncer de mama HER-2 positivo metastático a partir da segunda linha de tratamento devido a seus impressionantes resultados no tratamento desse subtipo de tumor, e agora também aprovado para HER-2 low diante da expressiva resposta em pacientes com baixa expressão de HER-2, provavelmente associada à alta potência do seu payload, à alta relação anticorpo-droga e ao chamado bystander effect que permite destruição de células tumorais vizinhas. O estudo DESTINY-Breast04 demonstrou superioridade de T-DXd em relação aos esquemas geralmente utilizados na prática clínica para pacientes com câncer de mama RH+ (grande maioria do estudo) e também demonstrou benefício muito robusto no pequeno grupo de pacientes RH-. Atenção deve ser dada ao risco de pneumonite, que nesse estudo também foi causa de óbito em um pequeno número de pacientes, sendo recomendada monitorização rigorosa de sintomas e acompanhamento frequente com tomografia de tórax para evitar desfechos desfavoráveis”.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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