Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

Análise final do estudo AZURE (BIG 04/01): Ácido zoledrônico adjuvante em pacientes com câncer de mama precoce

O AZURE é um estudo de fase III, que randomizou mulheres com câncer de mama estádio II/III para receber tratamento adjuvante sem ácido zoledrônico (grupo controle) ou associado a 4 mg de ácido zoledrônico intravenoso a cada 3-4 semanas até completar 6 doses, depois a cada 3 meses até 8 doses, depois a cada 6 meses até 5 doses, completando um total de 5 anos de tratamento. O desfecho primário foi sobrevida livre de doença (SLD). Os desfechos secundários foram sobrevida livre de doença metastática (SLM), sobrevida global (SG).

Foram estudadas 3.360 mulheres e os resultados encontrados foram:

  1. SLD não foi diferente entre os grupos: 493 eventos no grupo controle e 473 no grupo do ácido zoledrônico (HR= 0,94; IC de 95%; 0,82-1,06; p=0,30);
  2. SLM não foi diferente (HR=0,93; IC de 95%; 0,82-1,05; p=0,22);
  3. SG (HR=0,93; IC de 95%; 0,81-1,08; p=0,37);
  4. Recorrências à distância foram praticamente as mesmas em ambos os grupos (0,93; 0,81 -1,07; p=0,29).

O ácido zoledrônico reduziu o desenvolvimento de metástases ósseas, tanto como o primeiro evento (HR=0,78; IC de 95%; 0,63-0,96; p=0,020), quanto em qualquer momento durante o acompanhamento (0,81; IC de 95%; 0,68-0,97; p=0,022).

Embora o estudo seja negativo como um todo, a população constituída de mulheres que estavam em menopausa a pelo menos 5 anos, apresentou melhor SLM com o uso do ácido zoledrônico (n=1.041; HR 0,77; IC de 95%; 0,63-0,96).

Entre as 3.360 pacientes do estudo, houve apenas 33 casos de suspeita de osteonecrose da mandíbula relatados, sendo 26 confirmados. Todas as pacientes pertenciam ao grupo que recebeu ácido zoledrônico.

Estes resultados não mostram nenhum benefício da adição de ácido zoledrônico para o tratamento adjuvante do câncer de mama em estádio inicial. No entanto, em mulheres pós- menopausadas, o ácido zoledrônico aumentou a SLM. Vale ressaltar que a metanálise de dados individuais de pacientes apresentada em San Antonio 2013 corroborou estes dados. A metanálise incluiu informações de 36 estudos que trataram mais de 22.000 pacientes com câncer de mama inicial, randomizadas para receber ou não bisfosfonatos. Sete estudos utilizaram clodronato, enquanto 29 estudos avaliaram aminobisfosfonatos (nestes, cerca de dois terços das pacientes utilizaram ácido zoledrônico). Considerando a análise global, não se observou nenhum benefício com a adição dos bisfosfonatos na adjuvância. Entretanto, no grupo de mais de 11.000 mulheres em pós-menopausa (ou > 55 anos se o status da menopausa fosse desconhecido), houve diminuição significativa de 34% nas recorrências ósseas, aumento na SLD e diminuição de 17% na mortalidade. Os resultados foram independentes da expressão de RH, do comprometimento ganglionar e do uso ou não de QT. Não se observou nenhum benefício com o uso de bisfosfonatos nas mulheres em pré-menopausa. Em nossa opinião, essas informações definem o uso desses agentes como parte integral do tratamento adjuvante de mulheres em pós-menopausa.

Referência:
Coleman R, Cameron D, Dodwell D, et al. Adjuvant zoledronic acid in patients with early breast cancer: final efficacy analysis of the AZURE (BIG 01/04) randomised open-label phase 3 trial. Lancet Oncol 2014;15:997-1006.

Antonio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Raphael Brandão Moreira
Residente Chefe de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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