Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

A partir de que valor devemos considerar o receptor de estrogênio positivo no câncer de mama?

As diretrizes atuais para o uso de hormonioterapia recomendam que o status do receptor de estrógeno (RE) deve ser considerado positivo quando ≥ 1 %. Essa recomendação é baseada em um clássico estudo retrospectivo (n=1.982), publicado pelo grupo de San Antonio, que demonstrou que mesmo pacientes com 1 a 10% das células positivas para RE se beneficiaram do uso de tamoxifeno adjuvante, embora com menor impacto do que naquelas com expressão mais forte do receptor [J Clin Oncol 17:1474, 1999]. 

Na prática clínica, uma série de valores são utilizados, por exemplo, é comumente considerado positivo a partir de 10%. Faltam dados que abordem a relação entre o valor da positividade do RE com o comportamento biológico dos tumores e eficácia da terapia endócrina.

Uma extensa análise, realizada por M. Yi e colaboradores, foi publicada recentemente no Annals of Oncology. Foram estudados de maneira retrospectiva 9639 pacientes, com o intuito de verificar a existência de uma relação entre os diferentes tipos de tumores, tratamentos e a sobrevida de pacientes com câncer de mama.

A população foi constituída a partir de pacientes com câncer de mama tratadas no MD Anderson Cancer Center, entre janeiro de 1990 a dezembro de 2011. Elas foram divididas em três grupos:

  1. ≥ 10% de coloração positiva para o RE;
  2. 1-9% de coloração positiva para o RE;
  3. <1% de coloração positiva para o RE (receptor negativo).

Os resultados encontrados entre as 9639 pacientes incluídas foram:

  1. 7.764 (80,5%) pacientes tinham tumores que eram RE positivo ≥ 10%;
  2. 250 (2,6%) pacientes tinham tumores que eram RE positivo 1-9% e;
  3. 1.625 (16,9%) pacientes tinham tumores que eram RE negativo.

As pacientes com RE entre 1-9% eram mais jovens e apresentavam doença mais avançadas em comparação com as pacientes com RE ≥ 10% positivo. Após um seguimento mediano de 5,1 anos, as pacientes com RE entre 1-9% tinham piores taxas de sobrevida em comparação as pacientes com RE ≥ 10%. As pacientes com RE 1-9% apresentaram maior taxa de recorrência (local, regional ou à distância) quando comparadas ao grupo com RE ≥ 10% (17,2 versus 9,1%; p<0,0001). As taxas de sobrevida não foram significativamente diferentes entre as pacientes com RE 1-9% e RE-negativo (p=0.5).

Considerando apenas as pacientes que receberam terapia endócrina, as taxas de recorrência foram maiores nas pacientes com RE 1-9% em comparação as pacientes com RE ≥ 10% (17,7 versus 7,7%; p=0,02).

As pacientes com tumores RE 1-9 % apresentaram comportamento clínico e patológico distinto das pacientes com tumores RE ≥ 10 %. A impressão é de que os tumores RE 1-9% possuem um comportamento biológico mais agressivo similar aos tumores triplo negativo. A luz deste grande estudo do MDACC que é quase 5 vezes maior que o banco de dados de San Antonio, teremos que rever o cutoff de definição de positividade do RE nos guidelines de manejo.

Referência:
M. Yi, L. Huo, K. B. Koenig, et al. Which threschold for ER positivity? A restrospective study based on 9639 patients. Ann Oncol; 2014 Epub ahead of print, Feb 22 .

Antônio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes – Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Raphael Brandão Moreira
Médico Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes – Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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