Existe papel para bloqueio hormonal em pacientes com câncer de próstata – doença localizada?

Um estudo retrospectivo com 15.170 pacientes com câncer de próstata com doença localizada foi publicado recentemente no Journal of Clinical Oncology. Todos os 15.170 homens incluídos no estudo foram diagnosticados com câncer de próstata localizado, entre 1995 e 2008, e receberam acompanhamento até 2010. Eles não foram submetidos à cirurgia ou à radioterapia.

O estudo constatou que a terapia de privação hormonal não reduziu o risco de morte por todas as causas (HR=1,04; IC de 95%: 0,97-1,11), e também não reduziu o risco de morte por câncer de próstata (HR=1,03; IC de 95%: 0,89-1,19). É importante ressaltar que o estudo não foi desenhado com o objetivo de comparar terapia de privação hormonal com cirurgia ou radioterapia.

A principal constatação do estudo é que os pacientes tratados com bloqueio hormonal, ao invés de tratamento local (radioterapia ou prostatectomia), não apresentaram maior tempo de sobrevida. Em uma análise de subgrupo, foi observada uma discreta redução no risco de mortalidade por todas as causas nos pacientes de risco alto (pelo PSA, TNM ou Gleason) tratados com bloqueio hormonal, entretanto este resultado deve ser cuidadosamente ponderado.

Com base nessas constatações, os investigadores concluíram que a terapia de privação hormonal não deve ser um tratamento alternativo para os pacientes que declinam a tratamentos definitivos.

Referência:
Potosky AL, Haque R, Cassidy-Bushrow AE, et al. Effectiveness of primary androgen-deprivation therapy for clinically localized prostate cancer. J Clin Oncol 2014;Epub ahead of print, Mar 17.

Antonio Carlos Buzaid
Chefe Geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Raphael Brandão Moreira
Médico Residente de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.