Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Geniturinário

CÂNCER DE PRÓSTATA – Um estudo duplo cego, placebo controlado avaliou o efeito de um suplemento alimentar rico em polifenóis na progressão do PSA em homens com câncer de próstata.

Apresentado na ASCO em 02 de junho de 2013.

Resumo:
Alimentos ricos em polifenóis, como a romã, chá verde, açafrão e brócolis têm demonstrado efeitos anti-câncer em estudos laboratoriais. Em humanos, estudos observacionais têm associado o consumo com um risco menor de doenças crônicas, incluindo o câncer. Concentrar esses alimentos em uma cápsula é uma forma conveniente para aumentar a ingestão de polifenóis por um indivíduo, mas estudos clínicos até o momento não estabeleceram os benefícios à saúde. Pacientes com câncer de próstata, tratados com vigilância ativa ou watchful waiting após tratamentos radicais, formam um grupo ideal para avaliar uma intervenção de estilo de vida, pois possuem um marcador sorológico útil em sua doença (PSA). Além disso, estes pacientes demonstram grande interesse em medicamentos de autoajuda, como repostado em indicadores que 50-70 % dos homens com câncer de próstata admitem ter tomados suplementos.

Objetivos:
Determinar se um comprimido rico em polifenóis influenciou a taxa de progressão do PSA entre pacientes tratados com vigilância ativa ou watchful waiting.

Métodos:
203 homens, com idades entre 53-89 anos, com câncer de próstata histologicamente confirmado, foram avaliados neste estudo duplo-cego, randomizado e controlado. 59% estavam sendo tratados com vigilância ativa primária e 41% com watchful waiting, com retorno do aumento progressivo de PSA após intervenções radicais. Eles foram randomizados para receber uma cápsula oral, duas vezes ao dia, contendo uma mistura de sementes de romã, chá verde, brócolis e açafrão ou um placebo idêntico para seis meses. O processo aleatório não produziu nenhuma diferença estatística no grau de Gleason, índice de massa corporal (IMC) ou categoria de tratamento, embora os homens fossem ligeiramente mais velhos no grupo placebo (72 versus 76 anos). Quatro homens se retiraram após a randomização, iniciaram terapia com andrógenos e, portanto, não foram incluídos na análise estatística.

Resultados:
Aumento percentual no PSA: a variação percentual mediana de PSA para pacientes no grupo Pomi-T foi 14,7 % de aumento (IC de 95%: 3,4-36,7%), comparado a 78,5% de aumento no grupo placebo (IC de 95%: 48,1-115,5%). A taxa de aumento mediano de PSA foi significativamente menor no grupo Pomi-T em comparação com os pacientes que tomaram placebo (diferença de 63,8% ANCOVA, p=0,0008).

Porcentagem de pacientes com PSA estável ou menor ao final do estudo: ao encerrar o estudo, o número de homens com PSA estável ou inferior foi de 61 (46%) no grupo Pomi-T, em comparação a 9 (14%) no grupo do placebo. Essa diferença foi estatisticamente significativa (p=0,000010).

Percentual de homens em quem o suplemento impediu uma mudança na gestão: 114 pacientes (92,6%) no grupo Pomi-T permaneceram em vigilância ativa ou watchful waiting, ao final da participação no estudo, ao contrário de 38 (74%) no grupo placebo. Esta diferença de 18,6% foi estatisticamente significativa (p=0,01).

Análise de subgrupo: não houve diferença significativa na variação mediana de PSA basal do início ao final do estudo, tanto no grupo Pomi-T, quanto grupo placebo, relacionado aos subgrupos pré-determinados (IMC, grau de Gleason, idade ou categoria de tratamento). Também não houve diferença significativa quanto aos subgrupos de medidas de colesterol, pressão arterial, glicemia e proteína C reativa.

Efeitos colaterais, segurança e interação medicamentosa: o suplemento foi bem tolerado e não demonstrou sintomas relacionados ao sistema nervoso, como agitação, insônia ou tremores. Nenhum dos pacientes em uso de varfarina relatou quaisquer alterações inesperadas no INR, ou mudanças de pressão arterial, entre aqueles em uso de ramipril. 12% dos homens no grupo Pomi-T e 4,6% do grupo placebo relataram efeitos positivos; 24% dos pacientes no grupo Pomi-T e 34% no grupo placebo relataram eventos adversos; sintomas gastrointestinais, se considerados isoladamente, foram relatados 15,5% no grupo Pomi-T versus 7,5% no grupo de placebo. Nenhuma dessas diferenças foi estatisticamente significativa.

Conclusões:
Neste estudo, foi demonstrado que os pacientes que tomaram o suplemento alimentar rico em polifenóis apresentaram aumento mediano significativamente do PSA em relação ao grupo placebo (p<0,0001). A diferença no aumento percentual do PSA entre estes grupos, do início ao fim do estudo, foi importante (63,8%), e como as características dos pacientes foram bem equilibradas, os resultados foram assegurados de poder estatístico adequado, os resultados deste estudo oferecem orientação clinicamente significativa, contemplando suplementos nutricionais para pacientes com câncer de próstata. Estudos futuros deslumbrarão maior período de intervenção e incluirão pacientes em diferentes estágios da doença.

Thomas RJ, Williams MMA, Sharma H, et al. A double-blind, placebo RCT evaluating the effect of a polyphenol-rich whole food supplement on PSA progression in men with prostate cancer: The U.K. National Cancer Research Network (NCRN) Pomi-T study. J Clin Oncol 31, 2013 (suppl; abstr 5008).

Comentários – MOC Brasil

Baseado no fato que alimentos ricos em polifenóis têm demonstrado efeitos anti-câncer em estudos de laboratório, este artigo duplo-cego randomizou 203 pacientes, com câncer de próstata (59% estavam em vigilância ativa primária e 41% em watchful waiting), em dois grupos, adequadamente equilibrados, a receber uma cápsula oral, duas vezes ao dia, contendo uma mistura de sementes de romã, chá verde, brócolis e açafrão ou um idêntico placebo por 6 meses.

A porcentagem de pacientes com PSA estável ou menor, ao final do estudo, foi de 46% no grupo Pomi-T versus 14% no grupo placebo (p=0,000010). Demonstrando orientação clinicamente significativa de suplementos nutricionais para homens com neoplasia prostática.

Esses resultados surpreenderam a todos os congressistas presentes e ao final da sessão da ASCO, os estoques do suplemento nos EUA e Europa já haviam terminado.

Aline Rocha Lino
(Médica Residente de Oncologia Clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo)

11/09/2013

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