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ASCO GU | Novidades no tratamento de tumores geniturinários no congresso da Sociedade Americana de Oncologia
Entre os dias 8 e 10 de fevereiro de 2018 foi realizado em San Francisco – EUA, o congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica destinado à discussão do tratamento de tumores do trato geniturinário (ASCO GU).
Seguem os principais trabalhos em destaque:
Câncer de próstata:
– Abstract #161: o estudo fase III SPARTAN randomizou 1207 pacientes com câncer de próstata não metastático de alto risco (tempo de duplicação do PSA ≤10 meses) resistente a castração para continuidade com supressão androgênica mais placebo versus apalutamida. O braço de pacientes tratados com apalutamida apresentou benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de metástases (HR 0,28; IC 95% 0,23-0,35; p<0,0001), com ganho de 24,3 meses sobre o tratamento com supressão androgênica exclusiva (40,5 versus 16,2 meses). Os dados de sobrevida global ainda são imaturos, mas demonstram tendência em favor do tratamento com apalutamida (HR 0,70; p=0,07). Após a divulgação dos dados, o trabalho foi publicado no New England Journal of Medicine.
*Em decorrência dos resultados do estudo SPARTAN, o FDA aprovou nos EUA o uso do apalutamida, a primeira medicação aprovada para tratamento do câncer de próstata não metastático resistente a castração.
– Abstract #3: o estudo fase III PROSPER avaliou o papel de enzalutamida para redução do risco de doença metastática em pacientes com câncer de próstata não metastático de alto risco resistente a castração (semelhante ao desenho do estudo SPARTAN). Foram randomizados 1401 pacientes para tratamento com supressão androgênica isolada, ou em associação com enzalutamida. O trabalho atingiu seu objetivo primário, com ganho estatisticamente significativo em sobrevida livre de doença metastática (HR 0,29; IC 95% 0,24-0,35; p<0,001) em favor grupo de pacientes que recebeu enzalutamida (sobrevida livre de doença metastática mediana 36,6 versus 14,7 meses).
Câncer urotelial:
– Abstract #407: o estudo fase III POUT avaliou o benefício de quimioterapia adjuvante após nefroureterectomia para tumores uroteliais de trato urinário alto. Foram randomizados 248 pacientes após a cirurgia para tratamento com quimioterapia adjuvante com gencitabina + cisplatina (gencitabina + carboplatina, se clearance de creatinina 30-49 ml/min) ou observação. O trabalho atingiu seu objetivo primário com redução em 53% no risco de recorrência da doença (HR 0,47; IC 95% 0,29-0,74; p=0,0009).
Câncer de rim:
– Abstract #578: o estudo fase III IMmotion151 randomizou 1277 pacientes com câncer de rim metastático sem tratamento prévio para receberem a combinação dos anticorpos monoclonais atezolizumabe (anti-PD-L1) + bevacizumabe (anti-VEGF) ou sunitinibe. Para avaliação dos desfechos através de biomarcadores, os pacientes foram estratificados em PD-L1 positivo ou negativo (caracterizados como expressão ≥1% ou <1% nas células tumorais, respectivamente). O estudo foi interrompido pelo comitê de revisão independente por ter atingido seu desfecho de eficácia, e os dados apresentados, em análise interina, demonstraram ganho em sobrevida livre de progressão (11,2 versus 8,4 meses) para o grupo de pacientes tratados com a combinação de anticorpos (HR 0,83; IC 95% 0,70-0,97; p=0,0219), e com benefício ainda maior na população PD-L1 positivo (HR 0,74; IC 95% 0,57-0,96; p=0,0217). Nos dados de sobrevida global, um endpoint coprimário do estudo ainda são imaturos na presente análise.
– Abstract #579: estudo em andamento de fase Ib que avalia a eficácia e a segurança do tratamento combinado com pembrolizumabe (anticorpo monoclonal anti-PD-1) + axitinibe (inibidor de tirosino quinase do VEGF) em pacientes com câncer de células renais avançado. Com 52 pacientes recrutados, o tratamento demonstrou taxa de resposta de 73,1% e mediana de sobrevida livre de progressão de 20,9 meses, sem efeitos colaterais inesperados com as medicações destas classes.
Segundo o Dr. Fabio Schutz, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, “os trabalhos apresentados na ASCO GU 2018 trazem novas perspectivas de tratamento para situações em que ainda não possuíamos estudos adequados, como é o caso do câncer de próstata localizado resistente a castração, e também o uso de tratamento adjuvante após cirurgia para neoplasia urotelial de trato urinário alto. Em relação aos tumores renais, os dados têm demonstrado cada vez mais opções de tratamento para os pacientes, porém ainda sem uma comparação direta entre os tratamentos estudados, dificultando assim uma avaliação da melhor escolha. Os biomarcadores têm sido estudados diferentemente em cada estudo, sejam através da expressão de PD-L1 ou através da carga mutacional tumoral, e no futuro possivelmente eles nos ajudarão a fazer a opção pelo tratamento mais adequado para cada paciente”.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida.