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O que muda no MOC após a ESMO 2025

O ESMO Congress 2025, realizado em Berlim entre 17 a 21 de outubro de 2025, consolidou uma mensagem prática para o dia a dia: a oncologia está migrando cada vez mais, para a personalização, isto é, tratamento certo no momento certo. Destacaram-se no evento temáticas como: a intensificação curativa com anticorpos conjugados a droga (ADCs) em doença inicial, a imunoterapia e os ADCs avançando para cenários perioperatórios e o uso de biomarcadores dinâmicos (ctDNA/MRD) para guiar a indicação de tratamento.
CÂNCER DE MAMA
No câncer de mama HER-2 positivo em cenário curativo, o estudo DESTINY-Breast05 avaliou o tratamento pós-operatório em pacientes com doença invasiva residual após esquema neoadjuvante com quimioterapia baseada em taxano e terapia anti-HER-2. Os resultados demonstraram que o uso de trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) foi associado a benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de doença invasiva frente a T-DM1, com taxas de 92,4% versus 83,7% aos 3 anos (HR=0,47; IC de 95%: 0,34-0,66; p<0,001), sugerindo uma mudança de padrão para esse subgrupo de risco alto.
Já no estudo DESTINY-Breast11, T-DXd foi avaliado como parte do tratamento neoadjuvante em pacientes com tumores HER-2 positivo localmente avançados (≥ cT3 e N0-3 ou cT0-4 e N1-3 ou carcinoma inflamatório). A taxa de resposta patológica completa com o regime T-Dxd seguido de THP foi de 67,3% versus 56,3% com ACdd seguido de THP (p=0,003). Com dados ainda preliminares, a taxa de sobrevida livre de eventos aos 24 meses foi de 96,9% versus 93,1% em favor do braço que recebeu o ADC (HR=0,56; IC de 95%: 0,26-1,17). Os eventos adversos de graus ≥ 3 foram apresentados em menor taxa no braço de T-DXd (22,6% versus 55,8%).
CÂNCER DE PULMÃO
Na oncologia torácica, o estudo HARMONi-6 avaliou o duplo bloqueio PD-1/VEGF no tratamento de primeira linha do carcinoma escamoso de pulmão metastático. A combinação de ivonescimabe + quimioterapia, comparado a quimioterapia + tislelizumabe, aumentou a sobrevida livre de progressão (mediana 11,14 versus 6,90 meses; HR=0,60; IC de 95%: 0,46-0,78; p<0,0001), com eventos adversos de graus ≥ 3 mais frequentes (63,9% versus 54,3%), mas com sobrevida global ainda imatura e população avaliada exclusivamente da China.
Já o estudo de fase III OptiTROP-Lung04, também conduzido na China, randomizou pacientes com câncer de pulmão não-escamoso metastático com mutações de sensibilidade do EGFR previamente tratados com inibidores de tirosina quinase entre o ADC sacituzumabe tirumotecana (Sac-TMT) ou quimioterapia com platina e pemetrexede. A análise de sobrevida livre de progressão favoreceu o tratamento com Sac-TMT (HR=0,49; IC de 95%: 0,39-0,62; p<0,0001), bem como a avaliação de sobrevida global (HR=0,60; IC de 95%: 0,44-0,82; p=0,001). A taxa de resposta também foi superior com o ADC (60,6% versus 43,1%). Na avaliação de segurança, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi maior com Sac-TMT (58,0% versus 53,8%), destacando-se as toxicidades hematológicas.
CÂNCER GASTROINTESTINAL
Em tumores gastrointestinais ressecáveis, o estudo MATTERHORN trouxe dados atualizados de sobrevida global: durvalumabe perioperatório + FLOT reduziu em 22% o risco de morte frente a FLOT isoladamente (HR=0,78; IC de 95%: 0,63-0,96; p=0,021), apontando um novo padrão perioperatório em adenocarcinoma gástrico/junção gastroesofágica (JGE) ressecável.
No cólon estádio III, os resultados da avaliação do ctDNA (DNA tumoral circulante) no estudo DYNAMIC-III mostraram que desintensificar quimioterapia baseando em ctDNA-negativo após a cirurgia reduziu uso de oxaliplatina (34,8% versus 88,6%) e de eventos adversos de graus ≥ 3 (6,2% versus 10,6%), porém não atingiu o desfecho pré-estabelecido de não-inferioridade para sobrevida livre de recidiva em 3 anos (85,3% versus 88,1%), sugerindo que ctDNA é promissor, mas ainda não utilizável neste cenário.
Já o estudo FORTITUDE-101 analisou a incorporação de bemarituzumabe ao regime quimioterápico FOLFOX6 em pacientes com tumores gástricos/JGE com hiperexpressão de FGFR2b. A avaliação primária de sobrevida global demonstrou benefício no uso do anticorpo (HR=0,61; IC de 95%: 0,43-0,86; p=0,005), entretanto uma análise com maior tempo de seguimento demonstrou mínima diferença entre os braços (14,5 versus 13,2 meses; HR=0,82; IC de 95%: 0,62-1,08). A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi superior no uso de bemarituzumabe (60% versus 18%).
CÂNCER GINECOLÓGICO
No tratamento de tumores ginecológicos, o estudo de fase ENGOT-ov65/KEYNOTE-B96 avaliou o uso de pembrolizumabe em pacientes com câncer de ovário avançado resistente à platina. A adição de pembrolizumabe ao regime de paclitaxel ± bevacizumabe foi associada benefício em sobrevida livre de progressão (HR=0,73; IC de 95%: 0,62-0,86), taxa de resposta (50,4% versus 40,8%) e duração de resposta frente o uso de placebo com paclitaxel ± bevacizumabe. O benefício nos desfechos de eficácia foi de magnitude ainda maior nas pacientes com PD-L1 CPS ≥ 1 e nas quais foi realizado tratamento combinado com bevacizumabe.
CÂNCER GENITURINÁRIO
Em tumores geniturinários, diferentes estudos trouxeram resultados impactantes. No tumor urotelial músculo-invasivo de bexiga não candidato à cisplatina, o KEYNOTE-905/EV-303 mostrou que enfortumabe vedotina + pembrolizumabe perioperatórios, além da cirurgia, melhoraram de forma expressiva os desfechos primários, com sobrevida livre de eventos mediana não alcançada versus 15,7 meses (HR=0,40; IC de 95%: 0,28-0,57; p<0,0001) e sobrevida global mediana não alcançada versus 41,7 meses (HR=0,50; IC de 95%: 0,33-0,74; p=0,0002), porém com maior taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 (71,3% versus 45,9%).
Em carcinoma urotelial avançado HER-2 positivo, o estudo de fase III RC48-C016 demonstrou benefício em sobrevida global com a combinação de disitamabe vedotina + toripalimabe versus quimioterapia (31,5 versus 16,9 meses; HR=0,54; IC de 95%: 0,41-0,73; p<0,0001), com sobrevida livre de progressão mediana 13,1 versus 6,5 meses (HR=0,36; IC de 95%: 0,28-0,46; p<0,0001).
No câncer de próstata, o estudo PSMAddition avaliou a inclusão de 177Lu-PSMA-617 no tratamento sistêmico com terapia de privação androgênica e hormonioterapia de nova geração em pacientes com câncer de próstata metastático sensível à castração. A sobrevida livre de progressão radiográfica, objetivo primário do estudo, favoreceu o uso do radiofármaco (HR=0,72; IC de 95%: 0,58-0,90; p=0,002), porém ainda sem diferença na sobrevida global (HR=0,84; IC de 95%: 0,63-1,13). Os eventos adversos de graus ≥ 3 foram apresentados em maior taxa no tratamento com Lu-PSMA (50,7% versus 43,0%).
MELANOMA E SARCOMA
Ainda como parte do Presidential Symposium do ESMO Congress 2025, foi apresentado o estudo de fase I avaliando IMA203, uma terapia celular, em pacientes com melanoma uveal avançado previamente tratado. A elegibilidade do estudo foi condicionada a presença de HLA-A*02:01 e PRAME. A taxa de resposta confirmada ao tratamento foi de 67%, com sobrevida livre de progressão mediana de 8,5 meses e taxa de sobrevida global aos 12 meses de 71%. Dentre os eventos adversos de interesse, a taxa de síndrome de liberação de citocinas de graus ≥ 3 foi 19% e de toxicidade neurológica mediada por células imunes de graus ≥ 3 foi de 13%.
Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida
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