Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Cobertura de congressos

Destaques do ELCC 2023 | Dr. Marcelo Corassa

Organizado pela ESMO, a edição deste ano do European Lung Cancer Conference (ELCC) ocorreu na cidade de Copenhagen, na Dinamarca, entre os dias 29 de março e 1º de abril. Embora fora do radar dos grandes congressos, o ELCC 2023 trouxe importantes atualizações e novidades em vários cenários de câncer de pulmão. Por isso, o MOC preparou uma cobertura exclusiva sobre as apresentações orais de maior impacto em diversas áreas da oncologia torácica, incluindo doença metastática sem drivers acionáveis, doença metastática com drivers acionáveis, doença localizada e câncer de pulmão de células pequenas.

Nos parágrafos a seguir, confira o resumo dos highlights de cada uma dessas áreas. Além da leitura, não deixe de conferir a cobertura em vídeo, com apresentação do Dr. Marcelo Corassa, oncologista clínico, pesquisador e líder da unidade de oncologia torácica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

HIGHLIGHTS DE DOENÇA METASTÁTICA SEM DRIVERS ACIONÁVEIS:

13MO – Safety and efficacy of tusamitamab ravtansine in combination with pembrolizumab ± chemotherapy in patients with CEACAM5-positive nonsquamous NSCLC (CARMEN-LC05 phase 2 study)

Neste estudo de fase II, o anticorpo droga-conjugado (ADC) dirigido ao CEACAM5 tusamitamabe ravtansina foi avaliado no tratamento de primeira linha do câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) não escamoso sem alterações genômicas acionáveis (EGFR, BRAF, ALK e ROS selvagens) com expressão imunohistoquímica moderada ou alta de CEACAM5 em três diferentes regimes com diferentes doses do ADC: combinado a pembrolizumabe (TV+P), combinado a pembrolizumabe e platina (TV+PP) e combinado a pembrolizumabe, platina e pemetrexede (TV+PPP). No total, o estudo incluiu 25 pacientes, com idade mediana de 65 anos, 64% com alta expressão de CEACAM5 e 88% com expressão positiva de PD-L1. A taxa de resposta objetiva na população total foi de 52%, com taxa de controle de doença de 88%, destacando-se os melhores desfechos em ambas as análises na população tratada com o regime TV+PPP com a maior dose do ADC (66,7% e 100%, respectivamente). As respostas ocorreram independente da expressão de CEACAM5 ou de PD-L1. Na avaliação de segurança do estudo, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi de 68%, destacando-se a ocorrência de 5 eventos fatais (não relacionados ao ADC). Eventos adversos relacionados a córnea em qualquer grau ocorreram em 24% dos pacientes, sendo manejados com modificação de dose, segundo os autores.

5O – Cemiplimab plus chemotherapy versus chemotherapy alone in non-small cell lung cancer: longer follow-up results from the Phase 3 EMPOWER-Lung 3 trial

De maneira sumária, o estudo de fase III EMPOWER-Lung 3 avalia o uso de cemiplimabe combinado a quimioterapia no tratamento de primeira linha em pacientes com CPCNP sem alterações de EGFR, ALK ou ROS1. Dados atualizados foram apresentados no congresso referentes à análise final pré-especificada de sobrevida global, após um seguimento mediano de 28,4 meses. A sobrevida global mediana foi 21,1 meses nos pacientes tratados com a combinação de cemiplimabe e quimioterapia baseada em platina e 12,9 meses no grupo que recebeu placebo e quimioterapia (HR=0,65; IC de 95%: 0,51-0,82; p=0,0003). A sobrevida livre de progressão também favoreceu o regime combinado com o imunoterápico (HR=0,55; IC de 95%: 0,44-0,68; p<0,0001), bem como a taxa de resposta (43,6% versus 22,1%; p<0,0001). Nas avaliações de subgrupos, o benefício foi consistente em ambas as histologias escamosa e não-escamosa, bem como nos diferentes substratos de tumores separados pelo nível de expressão de PD-L1.

6O – CONTACT-01: Efficacy and safety from a Ph 3 study of atezolizumab (atezo) + cabozantinib (cabo) vs docetaxel (doc) monotherapy in patients (pts) with metastatic NSCLC (mNSCLC) previously treated with checkpoint inhibitors and chemotherapy

No estudo de fase III CONTACT-01, o tratamento combinado de atezolizumabe e cabozantinibe foi comparado a docetaxel em pacientes com CPCNP metastático previamente tratados com um agente imunoterápico associado a quimioterapia. Com 366 pacientes randomizados 1:1 e seguimento mínimo de 10,9 meses, a combinação de atezolizumabe e cabozantinibe não demonstrou superioridade na análise de sobrevida global quando comparado a docetaxel (HR=0,88; IC de 95%: 0,68-1,16; p=0,3668), objetivo primário do estudo. A sobrevida livre de progressão mediana, bem como a taxa de resposta foram similares no braço da combinação quando comparado a docetaxel (4,6 versus 4,0 meses e 11% versus 13,3%, respectivamente).

12MO – Patterns of response in metastatic (m) NSCLC after 2 and 4 cycles of chemotherapy (CT), alone or with durvalumab (D) ± tremelimumab (T), in the phase 3 POSEIDON study

Uma avaliação exploratória post-hoc do estudo de fase III POISEDON foi apresentada no congresso. Como lembrança, o estudo POISEDON levou à aprovação regulatória nos Estados Unidos, Japão e Europa da combinação de durvalumabe, tremelimumabe e quimioterapia (D+T+QT) no tratamento de primeira linha do CPCNP avançado, mediante o benefício em sobrevida livre de progressão (HR=0,72; IC de 95%: 0,60-0,86; p=0,0003) e sobrevida global (HR=0,77; IC de 95%: 0,65-0,92; p=0,003) quando comparado ao uso de quimioterapia isolada. Na avaliação de exposição ao tratamento, cerca de três quartos dos pacientes receberam ao menos 4 ciclos de quimioterapia baseada em platina nos 3 braços do estudo (quimioterapia isolada, combinada a durvalumabe ou combinada a durvalumabe e tremelimumabe), sendo que no braço de quimioterapia isolada, o uso de ≥ 6 ciclos de tratamento quimioterápico foi mais frequente, ocorrendo em 23,1% dos pacientes. A taxa de resposta ao tratamento com D+T+QT foi 38,8%, com duração mediana de resposta de 9,5 meses e 49,7% dos pacientes mantiveram resposta por ao menos 12 meses. Na avaliação temporal de resposta ao tratamento, foi demonstrado que 26,1% dos pacientes que apresentavam doença estável após o segundo ciclo de tratamento tiveram resposta parcial na avaliação após o quarto ciclo de tratamento no braço D+T+QT. Apesar dos números limitados de pacientes apresentando mutações caracteristicamente preditoras de desfechos menos favoráveis ao uso de imunoterapia, o regime D+T+QT demonstrou taxas de resposta parcial em 29,4%, 36,4% e 41,95% dos pacientes com mutações de STK11, KEAP1 e KRAS, respectivamente, após o quarto ciclo de tratamento em pacientes que apresentavam doença estável após o segundo ciclo. É interessante destacar que na avaliação temporal de segurança, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi semelhante quando a análise ocorreu entre o primeiro e o segundo ciclo em comparação à avaliação ocorrida entre os ciclos 3 e 4.

HIGHLIGHTS DE DOENÇA METASTÁTICA COM DRIVER ACIONÁVEL:

1O – Osimertinib versus gefitinib followed by osimertinib in patients with EGFR-mutant non-small cell lung cancer (NSCLC): EORTC Lung Cancer Group 1613 APPLE

O estudo de fase II APPLE possui um desenho bastante interessante para a avaliação do tratamento do CPCNP avançado com mutação de sensibilidade do EGFR (deleção do éxon 19 e L858R) através da randomização dos pacientes entre osimertinibe (braço 1), gefitinibe seguido de transição para osimertinibe após progressão de doença por RECIST 1.1 (braço 3) ou então gefitinibe seguido de transição para osimertinibe após detecção de DNA tumoral circulante (ctDNA) para mutação T790M ou progressão de doença por RECIST 1.1 (braço 2). As análises foram conduzidas através da comparação do tratamento com osimertinibe na primeira linha versus ambos os braços que fizeram a transição de gefitinibe para osimertinibe avaliados em conjunto. Naqueles que receberam tratamento sequencial, 87% dos pacientes inicialmente tratados com gefitinibe receberam tratamento com osimertinibe na progressão de doença. Na avaliação da sobrevida livre de progressão ao tratamento com osimertinibe, não houve diferença estatística entre os braços avaliados (HR=0,87; IC de 90%: 0,60-1,26). Da mesma maneira, a análise de sobrevida global também não demostrou diferença entre as estratégias de osimertinibe upfront ou na progressão (HR=1,01; IC de 90%: 0,61-1,68). Quando avaliados de maneira individualizada, a sobrevida global mediana não foi atingida nos pacientes tratados com osimertinibe upfront e naqueles que receberam osimertinibe baseado na detecção de ctDNA, enquanto a mediana foi 42,84 meses nos pacientes que trocaram o tratamento baseados na progressão radiológica. Na avaliação da sobrevida livre de progressão cerebral, o tratamento com osimertinibe inicial reduziu em 46% o risco de progressão de doença ou morte quando comparado ao tratamento transicionado (HR=0,54; IC de 90%: 0,34-0,86), com taxas de 82,2% versus 63,5% aos 18 meses. Adicionalmente, a população de pacientes que não apresentou clearance do ctDNA após 4 e 8 semanas após o início do tratamento apresentam piores desfechos na sobrevida livre de progressão, independente do esquema de tratamento com osimertinibe upfront ou sequencial.

4O – Patient-reported outcomes from the CodeBreaK 200 phase 3 trial comparing sotorasib versus docetaxel in KRAS G12C-mutated NSCLC

Foram apresentados os dados de desfechos relatados por pacientes referentes ao estudo de fase III CodeBreaK 200, que comparou sotorasibe a docetaxel no tratamento de pacientes com CPCNP metastático previamente tratados apresentando mutação de KRAS G12C. Após 12 semanas de tratamento, os pacientes apresentaram menor incômodo decorrente de eventos adversos quando tratados com sotorasibe quando comparados a docetaxel. Em relação aos sintomas específicos, a severidade de dor, mialgia, artralgia e sintomas de mucosite oral, além da interferência relacionada à dor, mialgia e artralgia foram inferiores no braço que recebeu tratamento com sotorasibe em comparação ao uso de docetaxel. A avaliação de qualidade de vida pelo questionário EQ-5D VAS apresentou estabilidade no tratamento com sotorasibe enquanto evoluiu negativamente nos pacientes tratados com docetaxel. As avaliações de mobilidade a auto-cuidado pelo escore EQ-5D-5L foram melhores no tratamento com sotorasibe. Estes resultados demonstram melhoria na qualidade de vida no uso de sotorasibe quando comparado a docetaxel nesta população, corroborando os dados de sobrevida livre de progressão, taxa de resposta, taxa de controle de doença, tempo para resposta e duração de resposta também favoráveis ao uso da terapia-alvo.

14MO – Updated Efficacy and Safety of Taletrectinib in Patients (pts) with ROS1+ Non-Small Cell Lung Cancer (NSCLC)

Os dados referentes ao estudo TRUST-I que foram apresentados se referem à avaliação de taletrectinibe 600 mg no tratamento de pacientes com CPCNP avançado com fusão de ROS1 sem tratamento prévio com inibidor de tirosina quinase do ROS1 (coorte 1) ou previamente expostos a crizotinibe (coorte 2). A taxa de resposta ao tratamento com taletrectinibe nos pacientes da coorte 1 foi 92,5%, com taxa de controle de doença de 95,5% e tempo mediano para resposta de 1,4 meses. Já na coorte 2, a taxa de resposta foi 52,6%, com taxa de controle de doença de 81,6% e sobrevida livre de progressão mediana de 9,8 meses. Nos pacientes com mutação do tipo G2032R, caracteristicamente uma mutação de resistência aos inibidores de tirosina quinase, a taxa de resposta a taletrectinibe foi 80%. Na população com metástases cerebrais, a taxa de resposta foi 91,7% com taxa de controle de doença de 100%. Na avaliação de segurança, 20,2% e 5,1% dos pacientes necessitaram redução de dose ou interrupção do tratamento, respectivamente, devido eventos adversos e a maioria dos eventos adversos apresentados foram de graus 1 ou 2.

HIGHLIGTS DE DOENÇA LOCALIZADA:

84O – Neoadjuvant nivolumab (N) + platinum-doublet chemotherapy (C) for resectable NSCLC: 3-y update from CheckMate 816

Dados atualizados com 3 anos de seguimento do estudo de fase III CheckMate 816 foram apresentados, além de análises exploratórias de biomarcadores. Brevemente, este estudo comparou o tratamento neoadjuvante com quimioterapia baseada em platina associada ou não a nivolumabe em pacientes com CPCNP estádios IB (≥ 4 cm) a IIIA sem alterações de sensibilidade de EGFR ou ALK, levando à aprovação do regime por agências regulatórias de diferentes países. A sobrevida livre de eventos continua favorecendo o tratamento neoadjuvante com regime contendo nivolumabe NR x 21,2 meses (HR=0,68; IC de 95%: 0,49-0,93), com benefício ocorrendo independente da via de acesso cirúrgica (minimamente invasiva ou toracotomia) ou da extensão de ressecção (lobectomia ou pneumonectomia). O tempo para metástases à distância também favorece o tratamento com nivolumabe (HR=0,55; IC de 95%: 0,39-0,78). Dentre os pacientes que apresentaram recidiva de doença, as taxas de recidivas locorregionais foram semelhantes entre os braços, porém as taxas de doença a distância, principalmente na recidiva em sistema nervoso central, favorecem o braço tratado com o imunoterápico (4% versus 13%). A avaliação exploratória de uma assinatura inflamatória com 4 genes (CD8A, STAT1, LAG3 e CD274) sugere maior taxa de resposta e sobrevida livre de eventos nos pacientes com alto escore inflamatório. Os dados de sobrevida global ainda permanecem imaturos, sem diferença demonstrada entre os braços (HR=0,62; IC de 95%: 0,36-1,05; p=0,0124).

HIGHLIGHTS DE CÂNCER DE PULMÃO DE CÉLULAS PEQUENAS:

161O – RESILIENT Part 2: A Randomized, Open-label Phase 3 Study of Liposomal Irinotecan versus Topotecan in Adults with Relapsed Small Cell Lung Cancer (SCLC)

No estudo de fase II/III RESILIENT, o tratamento com irinotecano lipossomal foi comparado a topotecano no tratamento de pacientes com câncer de pulmão de pequenas células previamente tratados com um regime de quimioterapia baseado em platina em 461 pacientes randomizados a uma razão 1:1. Destaca-se que apenas 18,4% dos pacientes haviam recebido imunoterapia previamente. Não foi demonstrada diferença na sobrevida global (HR=1,11; IC de 95%: 0,90-1,37; p=0,3094), bem como na sobrevida livre de progressão (HR=0,96; IC de 95%: 0,77-1,20; p=0,7053) entre os braços. A taxa de resposta foi superior no uso de irinotecano lipossomal (44,1% versus 21,6%; p<0,0001). A taxa de eventos adversos relacionados ao tratamento de graus ≥ 3 foi 62,4% com irinotecano lipossomal e 87,9% com topotecano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Trazendo algumas informações novas, updates relevantes e estudos importantes em cenários esperados do tratamento do câncer de pulmão, o ELCC 2023  ratificou o que já foi visto na AACR e deixou uma prévia interessante do que será visto na ASCO 2023.

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