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O que muda no MOC após a ASCO 2025
O Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) 2025 foi marcado pela apresentação de dados relevantes, com significativo potencial de impacto nas práticas terapêuticas de distintos tipos de tumores. Realizado entre 30 de maio e 3 de junho de 2025, em Chicago, o evento trouxe resultados de estudos que têm o potencial de transformar o tratamento oncológico em várias especialidades. Encerrando as atualizações anuais deste evento no MOC-Notícias, a equipe do MOC destaca alguns dos principais avanços apresentados em cada área da oncologia durante o evento, que reuniu mais de 40.000 participantes e trouxe à tona mais de 6.000 abstracts científicos.
CÂNCER DE MAMA
Abstract LBA1008
Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) + pertuzumab vs taxane + trastuzumab + pertuzumab (THP) for first-line treatment of patients with human epidermal growth factor receptor 2-positive (HER2+) advanced/metastatic breast cancer: interim results from DESTINY-Breast09
O estudo de fase III DESTINY-Breast09, que comparou trastuzumabe deruxtecana (T-Dxd) + pertuzumabe com o padrão terapêutico taxano + trastuzumabe + pertuzumabe (THP) no tratamento de primeira linha para pacientes com câncer de mama avançado com expressão HER-2 positiva teve seus dados iniciais apresentados. Neste ensaio, 770 pacientes foram randomizados nos dois braços (383 no braço T-Dxd + pertuzumabe e 387 no braço THP), e as características basais revelaram que 52% apresentavam doença metastática ao diagnóstico, 54% tinham tumor RH+ (receptor hormonal positivo) e que uma parcela expressiva dos pacientes vinha da Ásia, sendo muitas das características demográficas equilibradas entre os dois braços. Com seguimento mediano de cerca de 29 meses, o benefício em SLP foi marcante: a mediana foi de 40,7 meses no braço T-Dxd + pertuzumabe contra 26,9 meses no braço THP (HR=0,56; IC de 95 %: 0,44-0,71; p < 0,00001), refletindo uma redução de risco de progressão ou morte de 44 %. Aos 24 meses, aproximadamente 70,1% permaneciam livres de progressão com T-Dxd + pertuzumabe, em contraste com 52,1% no braço THP. Em termos de resposta objetiva, o desfecho foi de 85,1% no braço T-Dxd + pertuzumabe versus 78,6% no braço THP, com taxa de resposta completa de 15,1% contra 8,5%. A duração mediana de resposta mediana foi notavelmente prolongada com a nova combinação (39,2 meses) comparada ao braço controle (26,4 meses). Os dados de SG ainda são imaturos, mas já apontam tendência favorecendo T-Dxd + pertuzumabe (HR=0,84; IC de 95 %: 0,59-1,19). O perfil de segurança foi consistente com o que se conhece de T-DXd, eventos como diarreia, neutropenia e anemia foram frequentes, e a taxa de doença pulmonar intersticial foi de cerca de 12% no braço T-Dxd + pertuzumabe (a maioria graus 1 ou 2). A análise interim dos dados já sugere que essa combinação poderá redefinir o padrão de primeira linha no câncer de mama metastático HER-2 positivo.
Abstract LBA4
Camizestrant + CDK4/6 inhibitor (CDK4/6i) for the treatment of emergent ESR1 mutations during first-line (1L) endocrine-based therapy (ET) and ahead of disease progression in patients (pts) with HR+/HER2– advanced breast cancer (ABC): Phase 3, double-blind ctDNA-guided SERENA-6 trial
A estratégia de monitorar mutações emergentes de ESR1 por DNA tumoral circulante (ctDNA) durante a terapia endócrina de primeira linha (inibidor de aromatase + inibidor de CDK4/6) em pacientes com câncer de mama avançado RH+ e HER-2 negativo e, ao detectar essa mutação antes da progressão clínica, efetuar a troca para camizestranto + o mesmo inibidor de CDK4/6 versus manter a terapia padrão foi avaliada no estudo de fase III SERENA-6. O desenho do estudo incluiu vigilância contínua de ctDNA e rotina de imagem, com randomização duplo-cega de pacientes cuja mutação ESR1 emergiu (mas sem evidência de progressão radiográfica). Foram incluídos, inicialmente, cerca de 3.256 pacientes na fase de vigilância, dos quais 315 com mutação detectada cumpriram critérios de randomização (157 para camizestranto + CDK4/6, 158 para continuar a terapia padrão) mantendo o mesmo inibidor de CDK4/6. A população randomizada tinha características equilibradas entre os braços, com uso prévio de aromatase e CDK4/6 por pelo menos 6 meses antes da detecção da mutação. Na análise interina com 171 eventos, a SLP mediana foi de 16,0 meses no braço que fez switch para camizestranto em comparação com 9,2 meses no braço que permaneceu com IA + CDK4/6, resultando em uma redução de risco de progressão ou morte de 56% (HR=0,44; IC de 95%: 0,31-0,60; p < 0,00001). A taxa de SLP em 12 meses foi de aproximadamente 60,7% no braço camizestranto versus 33,4% no braço controle, e em 24 meses 29,7% versus 5,4%, respectivamente. O benefício foi consistente em diversos subgrupos, independentemente do tipo de inibidor de CDK4/6, da idade e do tipo de mutação ESR1. Na qualidade de vida, o tempo até deterioração global foi também favorecido: mediana de 23,0 meses no braço camizestranto versus 6,4 meses no braço controle (HR=0,53). Quanto à segurança, eventos adversos de grau ≥ 3 ocorreram em 60% dos pacientes no braço camizestranto versus 46% no braço controle, predominantemente eventos hematológicos como neutropenia, anemia e leucopenia. Dados para sobrevida SG e SLP2 ainda são imaturos, mas com tendência de benefício.
Abstract LBA500
De-escalated neoadjuvant taxane plus trastuzumab and pertuzumab with or without carboplatin in HER2-positive early breast cancer (neoCARHP): A multicentre, open-label, randomised, phase 3 trial
O estudo neoCARHP testou uma estratégia de descalonamento neoadjuvante no câncer de mama HER-2 positivo em estágios iniciais, comparando taxano + trastuzumabe + pertuzumabe (THP) com a mesma combinação acrescida de carboplatina (TCbHP). O objetivo era verificar se a omissão da carboplatina manteria eficácia e reduziria toxicidade. Foram recrutados 774 pacientes, dos quais 766 integraram a população modificada por intenção de tratar (382 no braço THP e 384 no braço TCbHP). Todos os participantes tinham tumor invasivo HER-2 positivo em estádios II ou III, sem tratamento prévio. No braço sem carboplatina (THP), 245 pacientes (64,1%) alcançaram RCp (resposta completa patológica), enquanto no braço com carboplatina (TCbHP) foram 253 pacientes (65,9%). A diferença absoluta de -1,8% ficou dentro da margem pré-especificada de não inferioridade, com p=0,0089. Em termos de segurança, o braço THP apresentou menos eventos adversos de grau ≥ 3: 20,7% versus 34,6%, bem como menos eventos adversos graves (1,3% versus 4,7%). Ao demonstrar taxas comparáveis de RCp com menor toxicidade, o estudo sugere que a combinação THP sem carboplatina constitui uma estratégia de descalonamento promissora no contexto neoadjuvante para pacientes com tumores HER-2 positivo inicial.
Abstract LBA109
Sacituzumab govitecan (SG) + pembrolizumab (pembro) vs chemotherapy (chemo) + pembro in previously untreated PD-L1–positive advanced triple-negative breast cancer (TNBC): Primary results from the randomized phase 3 ASCENT-04/KEYNOTE-D19 study
Os resultados iniciais do estudo de fase III ASCENT-04/KEYNOTE-D19, que comparou sacituzumabe govitecana (SG) + pembrolizumabe versus quimioterapia + pembrolizumabe no tratamento de primeira linha de pacientes com câncer de mama triplo negativo avançado/metastático PD-L1 positivo foram apresentados. No total, 443 pacientes foram randomizados (221 receberam SG + pembrolizumabe e 222 receberam quimioterapia + pembrolizumabe). Essa população tinha perfil típico, com mediana de idade de 54-55 anos, cerca de 26 % com idade ≥ 65 anos, a maioria com performance status ECOG 0 a 1, e envolvimento metastático que incluía linfonodos (cerca de 72%), pulmão (cerca de 50%), fígado (cerca de 25%) e ossos (cerca de 28%). Com seguimento mediano de 14,0 meses, a mediana de SLP no braço SG + pembrolizumabe foi de 11,2 meses versus 7,8 meses no braço quimioterapia + pembrolizumabe, resultando em redução de risco de progressão ou morte de 35 % (HR=0,65; IC de 95%: 0,51-0,84; p < 0,001). As taxas de SLP em 6 e 12 meses foram de aproximadamente 72% e 48% no braço SG + pembrolizumabe, comparadas a 63% e 33% no braço controle. O benefício foi consistente em subgrupos pré-especificados por idade, região, status de ECOG e regime de quimioterapia usado. Quanto aos desfechos secundários, os dados de SG ainda estão imaturos (HR=0,89; IC de 95%: 0,62-1,29), porém apontam tendência favorável ao braço SG + pembrolizumabe. A taxa de resposta objetiva foi de 60% no braço SG + pembrolizumabe versus 53% no braço quimioterapia + pembrolizumabe, com respostas completas em 13% contra 8%, e as respostas foram mais duradouras (duração mediana de resposta de 16,5 meses no braço experimental contra 9,2 meses no braço controle). Em termos de segurança, eventos adversos de graus ≥ 3 ocorreram em 71% no braço SG + pembrolizumabe e 70% no braço quimioterapia + pembrolizumabe. Ocorrências que levaram à descontinuação do tratamento foram de 12% no braço SG + pembrolizumabe versus 31 % no braço quimioterapia + pembrolizumabe. Esses resultados posicionam a combinação SG + pembrolizumabe como uma opção promissora de primeira linha para pacientes com câncer de mama triplo-negativo PD-L1 positivo.
CÂNCER DE PULMÃO
Abstract LBA8008
Tarlatamab versus chemotherapy (CTx) as second-line (2L) treatment for small cell lung cancer (SCLC): Primary analysis of Ph3 DeLLphi-304
No ASCO 2025 foram apresentados os primeiros dados do estudo de fase III DeLLphi-304, que comparou o bispecífico engajador de células T tarlatamabe com quimioterapia como tratamento de segunda linha em pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) previamente tratados com platina. A análise principal mostrou que tarlatamabe proporcionou melhor SG e SLP. A mediana de SG foi de 13,6 meses no braço tarlatamabe em comparação com 8,3 meses no grupo de quimioterapia (HR=0,60; IC de 95 %: 0,47-0,77; p < 0,001), com taxas de sobrevida aos 6 e 12 meses de 76% e 53%, versus 62% e 37%, respectivamente. Além disso, pacientes tratados com tarlatamabe relataram melhora significativa em sintomas comuns como dispneia e tosse, conforme desfechos reportados pelos próprios pacientes, embora a dor torácica não tenha atingido significância estatística. O perfil de segurança destacou-se por eventos de síndrome de liberação de citocinas (CRS) em 56% dos pacientes e toxicidade neuro-imune (ICANS) em 6%, majoritariamente de graus 1-2, associados às primeiras infusões e manejáveis em ambiente ambulatorial. Com resultados robustos, tarlatamabe demonstra-se como potencial novo padrão de cuidado para CPPC em segunda linha, redefinindo o papel das terapias engajadoras de células T nesse cenário desafiador.
Abstract 8006
Lurbinectedin (lurbi) + atezolizumab (atezo) as first-line (1L) maintenance treatment (tx) in patients (pts) with extensive-stage small cell lung cancer (ES-SCLC): Primary results of the phase 3 IMforte trial
O ensaio IMforte avaliou o papel da manutenção com lurbinectedina mais atezolizumabe versus atezolizumabe isolado em pacientes com CPPC doença extensa após resposta ou estabilidade ao tratamento de indução com carboplatina, etoposídeo e atezolizumabe. A análise mostrou ganho significativo em SLP e SG. Em termos específicos, a mediana de SG foi 13,2 meses no grupo combinado versus 10,6 meses no grupo com atezolizumabe isolado, refletindo uma redução de 27% no risco de morte. Do ponto de vista de segurança, eventos adversos de graus ≥ 3 foram mais frequentes com a combinação (25,6%) em comparação com atezolizumabe isolado (5,8%), e houve interrupção do tratamento em 6,2% versus 3,3%, respectivamente. Esses resultados posicionam a estratégia como a primeira abordagem de manutenção combinada com eficácia comprovada neste cenário, introduzindo uma mudança significativa no tratamento após indução bem-sucedida.
Abstract LBA8000
Overall survival with neoadjuvant nivolumab (NIVO) + chemotherapy (chemo) in patients with resectable NSCLC in CheckMate 816
No ASCO 2025 foi divulgada a análise final de SG do estudo CheckMate 816, que avaliou a combinação neoadjuvante de nivolumabe + quimioterapia versus quimioterapia isolada em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) ressecável (estágios IB-IIIA). Com seguimento mediano de 68,4 meses, o braço combinado mostrou benefício estatisticamente significativo em SG (HR=0,72; IC de 95%: 0,523-0,998; p=0,048), com taxa de SG em 5 anos de 65% versus 55% no grupo controle. A SG mediana não foi alcançada com nivolumabe + quimioterapia, enquanto foi de 73,7 meses no grupo controle. Esses resultados posicionam este estudo como o único ensaio neoadjuvante com imunoterapia em tumores sólidos ressecáveis que demonstra benefício em SG a longo prazo, confirmando um verdadeiro marco e mudança de paradigma em oncologia torácica.
Abstract 8001
Neoadjuvant (neoadj) osimertinib (osi) ± chemotherapy (CT) vs CT alone in resectable (R) epidermal growth factor receptor-mutated (EGFRm) NSCLC: NeoADAURA
O estudo NeoADAURA avaliou estratégias neoadjuvante em pacientes com CPNPC resecável com mutação EGFR (ex19del ou L858R) usando osimertinibe isolado, osimertinibe + quimioterapia ou quimioterapia isolada. Os resultados mostraram que tanto o esquema com osimertinibe isolado quanto combinado com quimioterapia aumentaram significativamente as taxas de reposta patológica maior (RMp) comparadas à quimioterapia isolada (26% e 25% versus 2%, respectivamente). As taxas de RCp foram também superiores com as abordagens contendo osimertinibe (4% com combinação e 9% com monoterapia) versus zero no braço controle. Embora os dados de sobrevida ainda sejam iniciais, os eventos de SLE foram menos frequentes nos braços com osimertinibe, especialmente entre aqueles que alcançaram RMp. Esses resultados reforçam a eficácia do inibidor de EGFR em neoadjuvância, sugerindo que osimertinibe, com ou sem quimioterapia, é uma opção promissora e individualizada para pacientes CPCNP ressecável com mutação de EGFR.
TUMORES COLORRETAIS
Abstract LBA1
Randomized trial of standard chemotherapy alone or combined with atezolizumab as adjuvant therapy for patients with stage III deficient DNA mismatch repair (dMMR) colon cancer (Alliance A021502; ATOMIC).
O estudo ATOMIC (Alliance A021502) representa um marco histórico no tratamento adjuvante do câncer de cólon, sendo o primeiro ensaio clínico randomizado de fase III especificamente desenhado para avaliar o papel da imunoterapia em pacientes com câncer de cólon estádio III com deficiência das proteínas de reparo de DNA (dMMR) ou instabilidade de microssatélites alta (MSI-H). Este estudo randomizou 712 pacientes em dois braços terapêuticos: mFOLFOX6 combinado com atezolizumabe por 6 meses (n=355) e mFOLFOX6 isolado por 6 meses (n=357). Os resultados apresentados na sessão plenária da ASCO 2025 demonstraram superioridade estatisticamente significativa do braço combinado, com sobrevida livre de doença (SLD) aos 3 anos de 86,4% versus 76,4% no braço controle (HR=0,50; IC de 95%: 0,35-0,72; p<0,0001), representando uma redução de 50% no risco de recidiva ou morte. O perfil de segurança mostrou eventos adversos de graus ≥ 3 em 71,7% dos pacientes no braço combinado versus 62,1% no braço controle. Importante destacar que não houve aumento significativo de eventos adversos imuno-relacionados graves, com incidência de 8% no braço atezolizumabe mais quimioterapia. Os dados de sobrevida global (SG) ainda permanecem imaturos, com apenas 15% dos eventos necessários observados até o momento da análise.
Abstract LBA3510
A randomized phase III trial of the impact of a structured exercise program on disease-free survival (DFS) in stage 3 or high-risk stage 2 colon cancer: Canadian Cancer Trials Group (CCTG) CO.21 (CHALLENGE).
O estudo CHALLENGE (Canadian Cancer Trials Group CCTG CO.21) foi um ensaio clínico randomizado de fase III que avaliou o impacto de um programa estruturado de exercícios sobre a SLD em pacientes com câncer de cólon estágio III ou estágio II de alto risco, após ressecção cirúrgica e quimioterapia adjuvante. Conduzido em 55 centros de seis países entre 2009 e 2024, o estudo incluiu 889 participantes, randomizados para receber um programa estruturado de exercícios (n=445) ou apenas materiais de educação em saúde (n=444). A intervenção consistiu em três anos de acompanhamento por consultores de atividade física, com uso de técnicas de mudança comportamental, metas de incremento de pelo menos 10 MET-horas por semana (aproximadamente 2,5 horas de exercício aeróbico), contatos quinzenais no primeiro ano e mensais nos dois anos seguintes. Após um seguimento mediano de 7,9 anos, o programa de exercícios resultou em benefício significativo em SLD (HR=0,72; IC de 95%: 0,55-0,94; p=0,02), correspondendo a taxas de SLD em 5 anos de 80,3% no grupo de exercício versus 73,9% no grupo controle. Também houve benefício em SG (HR=0,63; IC de 95%: 0,43-0,94; p=0,022) com taxas em 8 anos de 90,3% versus 83,2%, indicando redução de 28% no risco de recorrência e 37% no risco de morte. Os participantes do grupo de intervenção apresentaram melhorias sustentadas na função física autorrelatada, na capacidade cardiorrespiratória estimada e na distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos. Eventos adversos musculoesqueléticos ocorreram em 19% dos pacientes no grupo de exercício, contra 12% no controle, sendo cerca de 10% relacionados diretamente ao programa. Este é o primeiro ensaio de nível 1 a demonstrar que a prática estruturada e supervisionada de atividade física pode reduzir recidiva e melhorar a sobrevida em câncer de cólon, com magnitude de benefício comparável à de terapias farmacológicas adjuvantes, sustentando a recomendação de sua incorporação como parte do cuidado padrão para esses pacientes.
Abstract LBA3500
First-line encorafenib + cetuximab + mFOLFOX6 in BRAF V600E-mutant metastatic colorectal cancer (BREAKWATER): Progression-free survival and updated overall survival analyses.
O estudo BREAKWATER foi um ensaio clínico randomizado de fase III que avaliou a combinação de encorafenibe, cetuximabe em diferentes regimes como tratamento de primeira linha para pacientes com câncer colorretal metastático portadores de mutação de BRAF V600E, uma população de prognóstico notoriamente desfavorável. Pacientes previamente não tratados foram randomizados para receber encorafenibe + cetuximabe, ou encorafenibe, cetuximabe e mFOLFOX6 ou o tratamento padrão (incluía opções de mFOLFOX6, FOLFOXIRI ou CAPOX, com ou sem bevacizumabe). Como resultados, o estudo demonstrou benefício significativo do braço experimental contendo quimioterapia em sobrevida livre de progressão (SLP), com medianas de 12,8 meses em comparação a 7,1 meses no grupo controle (HR=0,53; IC de 95%: 0,41-0,68; p<0,001). A taxa de resposta objetiva também foi superior com a combinação, alcançando 60,9% versus 40,0% no tratamento padrão, com uma duração mediana de resposta de 13,9 meses contra 11,1 meses. A análise atualizada de SG revelou ganho expressivo, com mediana de 30,3 meses no braço experimental em comparação a 15,1 meses no grupo controle (HR=0,49; IC de 95%: 0,38-0,63; p<0,001). As taxas de SG em 12 e 24 meses foram de 80,1% e 52,0%, respectivamente, contra 66,0% e 29,0% no braço controle. O perfil de segurança foi consistente com o esperado para os agentes utilizados, com eventos adversos graus ≥ 3 ocorrendo de forma semelhante entre os grupos e sem aumento substancial nas taxas de descontinuação. Esses resultados representam um avanço significativo no manejo de primeira linha do câncer colorretal metastático com mutação BRAF V600E, estabelecendo um novo padrão terapêutico capaz de modificar o curso clínico dessa doença de prognóstico desfavorável.
Abstract LBA5
Event-free survival (EFS) in MATTERHORN: A randomized, phase 3 study of durvalumab plus 5-fluorouracil, leucovorin, oxaliplatin and docetaxel chemotherapy (FLOT) in resectable gastric/gastroesophageal junction cancer (GC/GEJC).
Na plenária, foi apresentado o estudo MATTERHORN, um estudo clínico de fase III, que avaliou a adição do durvalumabe, em associação com o esquema quimioterápico FLOT (5-fluorouracil, leucovorin, oxaliplatina e docetaxel), como tratamento perioperatório de pacientes com câncer gástrico ou de junção gastroesofágica (GC/GEJC) ressecável. No total, 948 pacientes com doença em estágios II a IVA foram randomizados entre receber durvalumabe + FLOT ou placebo + FLOT, administrado antes e após a cirurgia, seguido de monoterapia com durvalumabe ou placebo por até 12 ciclos. Em uma análise interina planejada, o braço experimental apresentou redução de 29% no risco de progressão, recidiva ou óbito (HR=0,71; IC de 95 %: 0,58-0,86; p < 0,001). A mediana de SLE não foi alcançada no braço durvalumabe, enquanto foi de 32,8 meses no braço controle. Apesar de ainda imaturos, os dados de SG mostraram tendência favorável ao regime com durvalumabe (HR=0,78; IC de 95 %: 0,62-0,97; p=0,025), sem ainda atingir significância estatística. Além disso, o braço experimental mais que dobrou a taxa de resposta RCp em relação à quimioterapia isolada (19% versus 7%; p < 0,001). Quanto ao perfil de segurança, os eventos adversos graves (grau ≥ 3) foram semelhantes entre os grupos. Desta maneira, esses achados sinalizam uma possível mudança de paradigma, com o durvalumabe + FLOT emergindo como potencial novo padrão de tratamento perioperatório nessa biologia tumoral.
TUMORES GINECOLÓGICOS
Abstract LBA5500
TRUST: Trial of radical upfront surgical therapy in advanced ovarian cancer (ENGOT ov33/AGO‐OVAR OP7)
No ASCO 2025 foi revelado o aguardado resultado do estudo de fase III TRUST, que avaliou o papel da cirurgia de citorredução radical em abordagem primária (upfront) frente à cirurgia de intervalo após quimioterapia neoadjuvante em pacientes com câncer de ovário avançado resecável (FIGO IIIB a IVB). O estudo incluiu 688 pacientes randomizadas para receber ou cirurgia primária seguida de quimioterapia ou três ciclos de quimioterapia neoadjuvante seguidos de cirurgia e mais quimioterapia, todos tratados em centros com rigorosos critérios de qualidade cirúrgica, capazes de garantir taxas mínimas de ressecção macroscópica completa. A maioria dos casos era carcinoma seroso de alto grau (> 90%), e a maior parte estava no estádio IIIC. O braço de cirurgia primária alcançou ressecção completa macroscópica em cerca de 70% dos pacientes operados, enquanto no braço de cirurgia após quimioterapia essa proporção chegou a 85%, refletindo o efeito do tratamento prévio em permitir maior ressecção. Com seguimento mediano de cerca de 75 meses para SG e 47 meses para SLP, a mediana de SLP favoreceu a cirurgia primária: 22,1 meses versus 19,7 meses (HR=0,80; p=0,018). Uma análise de médias restritas demonstrou diferenças maiores: 31,7 meses no braço de cirurgia primária contra 26,6 meses no braço de cirurgia intervalada (p=0,007). A SG mediana foi de 54,3 meses no braço de cirurgia primária versus 48,3 meses no braço de cirurgia após quimioterapia (HR=0,89; p=0,24), sem atingir significância estatística. No entanto, análise de subgrupos sugere que os resultados em SLP e SG tenham mais impacto em pacientes com doença estádio III ou aquelas que alcançaram ressecção completa. As taxas de morbidade cirúrgica foram relativamente baixas: 18% no braço de cirurgia primária versus 12% na cirurgia intervalada, com mortalidade pós-operatória em 30 dias de 0,9% versus 0,6%. A qualidade de vida ao longo do tempo não apresentou diferença estatística significativa entre os grupos. Apesar de não ter alcançado seu desfecho primário de melhora estatística de OS, o TRUST representa o primeiro ensaio randomizado a demonstrar benefício significativo em PFS para cirurgia primária em câncer ovariano avançado, reforçando a importância da seleção cuidadosa do paciente, do domínio técnico cirúrgico e da infraestrutura de centros cirúrgicos de alta qualidade para que essa estratégia possa ser bem-sucedida.
Abstract LBA5506
FIRST/ENGOT-OV44: A phase 3 clinical trial of dostarlimab (dost) and niraparib (nira) in first-line (1L) advanced ovarian cancer (aOC)
A adição de dostarlimabe à quimioterapia baseada em platina seguida de manutenção com niraparibe (± bevacizumabe) em pacientes com câncer de ovário avançado (estádios III-IV, epitelial de alto grau não mucinoso) recém diagnosticados foi avaliada no estudo de fase III FIRST/ENGOT-OV44. O ensaio, conduzido de forma randomizada e duplo-cega, inicialmente contemplou três braços: quimioterapia + placebo seguido de placebo, quimioterapia + placebo seguido de niraparibe, e quimioterapia + dostarlimabe seguido de manutenção com dostarlimabe + niraparibe. Mas, com o tempo de recrutamento o braço placebo puro foi descontinuado após aprovações regulatórias para inibidores de PARP como terapia de manutenção. Ao todo, 1.138 pacientes foram randomizadas entre os braços (385 no braço niraparibe sozinho e 753 no braço dostarlimabe + niraparibe) para análise de eficácia. A população incluía um percentual significativo de casos em estágio IV (cerca de 37,3%), e aproximadamente 39% dos tumores foram caracterizados como HRd, além disso, cerca de 27% da população era PD-L1 positivo. Após um seguimento mediano de 53,1 meses, a mediana de SLP foi de 20,6 meses no braço que recebeu dostarlimabe comparada a 19,2 meses no braço controle com niraparibe isolado (HR=0,85; IC de 95%: 0,73-0,99; p=0,0351). Na avaliação de subgrupos por biomarcadores, o tratamento com o imunoterápico sugere benefício em todas as pacientes. No desfecho de SG, com maturidade de 57%, as medianas foram de 44,4 meses no braço com dostarlimabe e 45,4 meses no braço controle, resultando em HR=1,01 (IC de 95%: 0,86-1,19; p=0,906), sem diferença estatisticamente significativa. O perfil de segurança observado foi consistente com os perfis já conhecidos dos agentes usados no estudo, sem sinais novos de toxicidade, e o regime combinatório foi considerado tolerável dentro dos parâmetros esperados
Abstract LBA5507
ROSELLA: A phase 3 study of relacorilant in combination with nab-paclitaxel versus nab-paclitaxel monotherapy in patients with platinum-resistant ovarian cancer (GOG-3073, ENGOT-ov72)
O estudo de fase III ROSELLA (GOG-3073 / ENGOT-ov72) testou a adição de relacorilanto à nab-paclitaxel versus nab-paclitaxel isolado em pacientes com câncer de ovário resistente a platina. Neste ensaio aberto, 381 mulheres foram randomizadas: 188 receberam relacorilanto + nab-paclitaxel e 193 nab-paclitaxel monoterapia. Os critérios de elegibilidade exigiam doença epitelial recorrente resistente a platina (progressão em < 6 meses após quimioterapia à base de platina), até três linhas anteriores de terapia antineoplásica, uso prévio de bevacizumabe era permitido, status de desempenho ECOG 0-1 e doença mensurável segundo. Com seguimento mediano de cerca de nove meses para SLP, a combinação demonstrou benefício significativo: a mediana de SLP foi de 6,54 meses no braço relacorilanto + nab-paclitaxel versus 5,52 meses no braço monoterapia (HR=0,70; IC de 95%: 0,54-0,91; p=0,0076). No desfecho de SG (análise interina), a mediana foi de 15,97 meses no braço combinado versus 11,50 meses no braço controle (HR=0,69; IC de 95%: 0,52-0,92; p=0,0121), embora esse valor ainda não tenha atingido o nível de significância predefinido para análise interina. O perfil de segurança mostrou mais eventos adversos de graus ≥ 3 no braço com relacorilanto (74% versus 59%), principalmente neutropenia (44% versus 25%), anemia (18% versus 8%) e fadiga (9% versus 2%). Eventos adversos graves ocorreram em 35% dos pacientes no braço combinado e 24% no controle, e houve uma morte relacionada ao tratamento no braço experimental (choque séptico). Esses resultados posicionam a combinação relacorilanto + nab-paclitaxel como o primeiro regime a mostrar ganho em SLP e dados promissores em SG frente a taxano isolado nesta doença, e sugerem que essa abordagem pode se tornar novo padrão nessa população historicamente difícil de tratar.
Abstract LBA5504
Pembrolizumab with chemoradiotherapy in patients with high-risk locally advanced cervical cancer: Final analysis results of the phase 3, randomized, double-blind ENGOT-cx11/GOG-3047/KEYNOTE-A18 study
Os resultados finais do estudo de fase III ENGOT-cx11/GOG-3047/KEYNOTE-A18, que avaliou a incorporação de pembrolizumabe à quimiorradioterapia (cisplatina concomitante + radioterapia externa e braquiterapia) seguida de manutenção com pembrolizumabe versus placebo em pacientes com câncer cervical localmente avançado de alto risco (estádios IB2–IIB com acometimento nodal ou estágios III–IVA de acordo com FIGO 2014) foram apresentados. Ao todo, 1.060 pacientes foram randomizados (529 no braço pembrolizumabe e 531 no braço placebo). As características basais foram bem balanceadas: aproximadamente metade dos casos apresentava estádio III–IVA, cerca de 90% receberam radioterapia moderna (IMRT ou VMAT) e a maioria foi planejada para dose radioterápica ≥ 70 Gy equivalente. Com seguimento mediano de 29,9 meses, a mediana de SG ainda não foi alcançada, mas a taxa de sobrevida aos 36 meses foi de 82,6% no braço pembrolizumabe versus 74,8% no braço placebo, correspondendo a uma redução de risco de morte de 33 % (HR=0,67; p=0,0040) conforme análise interina pré-especificada. Em relação à SLP, em análises anteriores já se havia demonstrado benefício, e no desfecho final o demonstrou 28% de redução no risco de progressão ou morte (HR=0,72; IC de 95%: 0,59-0,87), com taxas de SLP em 24 meses de 70,6% no braço pembrolizumabe contra 59,7% no controle, e em 36 meses de 64,3% versus 55,6%, respectivamente. Em termos de segurança, eventos adversos relacionados ao tratamento de graus ≥ 3 ocorreram em 79% dos pacientes do braço pembrolizumabe versus 70% no braço placebo, sendo os mais frequentes anemia, redução de leucócitos e neutropenia. Eventos adversos imunomediados foram mais frequentes com pembrolizumabe, embora a maioria fosse de graus 1-2, e toxicidades graves imuno-relacionadas ocorreram em 4,0% versus 1,1%. Esses resultados finais consolidam o papel do esquema com pembrolizumabe + quimioirradiação seguido por manutenção como o novo padrão no tratamento de pacientes com câncer cervical localmente avançado de alto risco, representando uma das poucas mudanças terapêuticas robustas em doença localmente avançada nas últimas décadas.
TUMORES GENITURINÁRIOS
Abstract LBA4513
ENLIGHTED phase 3 study: interim results of efficacy and safety of Padeliporfin Vascular Targeted Photodynamic therapy (VTP in the treatment of low-grade upper tract urothelial cancer (LG-UTUC)
Os resultados iniciais do estudo de fase III ENLIGHTED, que avaliou a terapia fotodinâmica vascular com padeliporfina (VTP) no tratamento de carcinoma urotelial de baixo grau do trato urinário superior foram apresentados na ASCO 2025. Até o corte de dados em 5 de novembro de 2024, 43 pacientes haviam iniciado o tratamento e 37 foram avaliáveis para resposta: 73% alcançaram resposta completa (RC) e mais 13,5% apresentaram resposta parcial (RP), resultando em uma taxa de resposta global de cerca de 86,5%. O perfil de segurança foi favorável, com eventos adversos sendo principalmente leves ou moderados, incluindo hematúria, disúria e dor lombar, todos transitórios e sem casos que levassem à descontinuação do tratamento. Estes dados sugerem que a padeliporfina VTP representa uma abordagem não invasiva altamente eficaz, com potencial para preservar órgãos e oferecer desempenho clínico comparável à cirurgia nos tumores uroteliais de trato superior de baixo grau.
Abstract LBA4504
Mitomycin plus BCG as adjuvant intravesical therapy for high-risk, non–muscle-invasive bladder cancer: A randomized phase 3 trial (ANZUP 1301)
O ensaio ANZUP 1301, apresentado no ASCO 2025, avaliou a terapia intravesical adjuvante com mitomicina em combinação com BCG, em comparação ao uso isolado de BCG, em pacientes com carcinoma de bexiga não músculo invasivo de alto risco. Os dados indicaram um benefício em SLD (HR=0,87), embora sem significância estatística (p=0,34). As taxas de resposta completa aos 3 meses foram semelhantes entre os grupos: 90% no braço combinado e 86% no grupo tratado apenas com BCG. Observou-se ainda menor taxa de descontinuação do tratamento no regime combinado, sugerindo melhor adesão e tolerabilidade. O braço combinado recebeu mais instilações totais do que BCG isolado (4.034 versus 3.383), mas menos doses totais de BCG (2.056 versus 3.383) e uma mediana menor de doses de BCG por paciente (9 versus 16). Esses resultados sugerem que a associação da mitomicina ao BCG pode ser considerada uma alternativa válida, especialmente em situações de escassez de BCG ou quando se busca maior tolerabilidade terapêutica.
Abstract LBA5006
Phase 3 AMPLITUDE trial: Niraparib (NIRA) and abiraterone acetate plus prednisone (AAP) for metastatic castration-sensitive prostate cancer (mCSPC) patients (pts) with alterations in homologous recombination repair (HRR) genes.
No ASCO 2025 foi apresentado o estudo de fase III AMPLITUDE, que avaliou o benefício clínico da combinação niraparibe + abiraterona com prednisona (AAP) frente a AAP + placebo em pacientes com câncer de próstata metastático sensível à castração (CPSCm) que apresentavam alterações nos genes de reparo de DNA por recombinação homóloga (HRR). Ao todo, 696 pacientes foram randomizados (348 para niraparibe + AAP e 348 para AAP + placebo) com mediana de idade de cerca de 68 anos, mais da metade deles (55,6 %) apresentava mutações em BRCA1/2. Muitos tinham doença de alto volume ou metastática de novo, com grande parte já apresentando disseminação óssea ou nodal significativa. Com seguimento mediano de 30,8 meses, a mediana de sobrevida livre de progressão radiográfica (SLPr) não foi alcançada no braço niraparibe, enquanto foi de 29,5 meses no braço controle, resultando em redução de risco de progressão ou morte de 37 % (HR=0,63; IC de 95%: 0,49-0,80; p=0,0001). No subgrupo com mutações em BRCA1/2, o benefício foi ainda mais pronunciado, com redução de risco de 48 % (HR=0,52; IC de 95%: 0,37-0,72) frente à mediana de SLPr de 26 meses no braço controle. Outro desfecho avaliado foi a progressão sintomática, na qual a combinação com niraparibe reduziu o risco de piora de sintomas relacionados ao tumor em 50% (HR=0,50; IC de 95%: 0,36-0,69; p < 0,0001). Em relação à SG, os dados ainda são imaturos (HR=0,79; IC de 95%: 0,59-1,04; p=0,10). Quanto à segurança, eventos adversos graves (grau ≥ 3) foram comuns no braço niraparibe, afetando 75,2% dos pacientes, comparados a 58,9% no braço controle. As toxicidades mais frequentes incluíram anemia (29,1%) e hipertensão (26,5%), além de necessidade de transfusões sanguíneas em alguns casos. Esses resultados sugerem que a adição de niraparibe ao esquema padronizado de abiraterona + prednisona no contexto de CPSCm com mutações de HRR poderá se tornar novo padrão de tratamento para esse subgrupo molecularmente definido.
Abstract LBA5078
Lower-dose versus standard-dose abiraterone in patients with metastatic castration resistant prostate cancer: A multicentric randomized phase III non-inferiority trial
Destacamos que foi apresentado o resultado do ensaio multicêntrico randomizado de fase III que comparou abiraterona em dose reduzida (low-dose) com a dose padrão em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (CPRCm). O estudo incluiu 164 pacientes randomizados, com idade mediana de 65 anos, sendo que aproximadamente 32% tinham ≥ 70 anos, e cerca de 64% já haviam sido tratados com docetaxel anteriormente. No braço low-dose, os pacientes receberam 250 mg de abiraterona com alimentos, enquanto o braço padrão utilizou 1.000 mg em jejum. Mesmo com taxas plasmáticas significativamente mais baixas de abiraterona no braço low-dose, a eficácia foi comparável. A taxa de resposta objetiva radiológica foi de 13,1% no braço low dose versus 15,4% no braço padrão, a redução de PSA ≥ 30% ocorreu em 49,4% versus 55,7%, e a queda de PSA ≥ 50% em 38,3% versus 45,7% (p não significativo em ambas as comparações). A SLP de PSA mediana foi de 5,7 meses no braço low-dose e 3,8 meses no braço padrão (HR=0,971; p=0,87). Para SG, a mediana foi de 18,1 meses no braço low-dose versus 15,1 meses no braço padrão, sem diferença estatística significativa (p=0,969). O perfil de segurança foi semelhante entre os braços. Esses dados sugerem que a abiraterona em dose reduzida, administrada com alimentos, pode oferecer eficácia comparável à dose tradicional, com perfil de segurança semelhante, apesar de exposições plasmáticas inferiores.
CABEÇA E PESCOÇO
Abstract LBA2
NIVOPOSTOP (GORTEC 2018-01): A phase III randomized trial of adjuvant nivolumab added to radio-chemotherapy in patients with resected head and neck squamous cell carcinoma at high risk of relapse.
O estudo de fase III NIVOPOSTOP (GORTEC 2018-01), que testou a adição de nivolumabe ao tratamento adjuvante padrão com cisplatina e radioterapia em pacientes com carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço completamente ressecado e com risco elevado de recidiva foi apresentado. O estudo incluiu 680 pacientes com tumores de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe ou laringe apresentando ressecção completa macroscópica e características patológicas de alto risco (como extensão extracapsular, margens positivas ou múltiplos linfonodos). Com acompanhamento mediano de 30,3 meses, o estudo atingiu seu desfecho primário: a adição de nivolumabe reduziu o risco de recidiva ou morte em 24% (HR=0,76; IC de 95%: 0,60-0,98; p=0,034), com taxas de SLD em três anos de 63,1% no braço com nivolumabe versus 52,5% no braço controle. Em termos de recidiva local e regional, a incidência cumulativa em três anos foi de 13% no braço com nivolumabe versus 20% no braço controle (HR=0,63). O tratamento com nivolumabe resultou em maior incidência de eventos adversos de graus ≥ 3 nos primeiros 100 dias (13,1% versus 5,6%). Notavelmente, o benefício em SLD foi observado independentemente da expressão de PD-L1. Os dados de SG ainda são imaturos, mas as tendências favorecem o braço experimental.
Abstract 6012
Neoadjuvant and adjuvant pembrolizumab plus standard of care (SOC) in resectable locally advanced head and neck squamous cell carcinoma (LA HNSCC): Exploratory efficacy analyses of the phase 3 KEYNOTE-689 study.
No ASCO 2025, foi apresentado o estudo de fase III KEYNOTE-689, que avaliou a inclusão do pembrolizumabe em regimes neoadjuvante e adjuvante combinados ao tratamento padrão para pacientes com carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço localmente avançado e potencialmente ressecável. O ensaio incluiu 714 participantes randomizados entre os braços: terapia padrão (cirurgia seguida por radioterapia, com ou sem quimioterapia) versus o mesmo protocolo acrescido de pembrolizumabe, administrado em dois ciclos pré-operatórios e quinze ciclos pós-operatórios. Após um acompanhamento mediano de 38,3 meses entre pacientes com PD-L1 ≥ 10, a SLE aos 36 meses foi de 59,8% no braço pembrolizumabe versus 45,9% no controle (HR=0,66; IC de 95% 0,49-0,88; p=0,004). No grupo PD-L1 ≥ 1, observou-se SLE de 58,2% contra 44,9% (HR=0,70; IC de 95%: 0,55-0,89; p=0,003), enquanto na população geral os valores foram 57,6% versus 46,4% (HR=0,73; IC de 95%: 0,58-0,92; p=0,008), favorecendo o uso perioperatório da imunoterapia. A taxa de completude cirúrgica manteve-se elevada, cerca de 88% nos dois braços do estudo. Adicionalmente, foi observada elevada taxa de resposta patológica maior induzida pelo pembrolizumabe antes do procedimento cirúrgico, predominantemente em tumores com alta expressão de PD-L1. Eventos adversos de graus ≥ 3 relacionados ao tratamento ocorreram em 44,6% dos pacientes com pembrolizumabe e em 42,9% no grupo controle, com mortalidade associada ao tratamento de 1,1% e 0,3%, respectivamente. Os achados deste estudo sugerem que a imunoterapia perioperatória com pembrolizumabe melhora significativamente a SLD neste cenário, sem impacto negativo na realização do tratamento local ou incremento relevante da toxicidade, indicando uma possível mudança de paradigma nesse contexto terapêutico.
Abstract LBA6003
PD-1 blockade with toripalimab incorporated into induction chemotherapy and radiotherapy with or without concurrent cisplatin in locoregionally advanced nasopharyngeal carcinoma (DIAMOND): A multicenter, non-inferiority, phase 3, randomized controlled trial.
Durante a ASCO 2025, foi apresentada a análise do estudo de fase III DIAMOND, que avaliou o papel do anti-PD-1 toripalimabe no tratamento de carcinoma nasofaríngeo localmente avançado. O objetivo foi investigar a viabilidade de incorporar toripalimabe ao regime padrão de quimioterapia de indução seguida de radioterapia, omitindo a administração concomitante de cisplatina, comparando esse esquema ao padrão vigente com cisplatina durante a radioterapia. O ensaio recrutou 532 pacientes diagnosticados com T4N1M0 ou T1-4N2-3M0 em 13 centros na China. Após um seguimento mediano de 37 meses, o braço sem cisplatina concomitante alcançou taxa de sobrevida livre de falha em 3 anos de 88,3%, comparada a 87,6% no braço controle (HR=0,92; IC de 95%: 0,66-1,79; p=0,73), atendendo ao critério pré-definido de não inferioridade. As avaliações de SG, sobrevida livre de recidiva locorregional e sobrevida livre de metástases a distância também demonstrou resultados semelhantes entre os braços. Em termos de segurança, a remoção da cisplatina concomitante resultou em redução significativa na incidência de vômito de qualquer grau (26,2% versus 59,8%; p < 0,001). Também foram observadas menores taxas de eventos adversos de graus ≥ 3 (52,3 % versus 63,6 %) e eventos imunorrelacionados de graus ≥ 3 (5,0% versus 8,4%) no grupo experimental. Assim, a combinação de toripalimabe, eliminando a necessidade de cisplatina associada à radioterapia, demonstra perfil de eficácia equivalente, com menor toxicidade, sugerindo possível mudança no padrão terapêutico do carcinoma nasofaríngeo localmente avançado.
MELANOMA E SARCOMA
Abstract 6001
Phase 3 trial of adjuvant cemiplimab (cemi) versus placebo (pbo) for high-risk cutaneous squamous cell carcinoma (CSCC)
O estudo de fase III C-POST testou cemiplimabe versus placebo como terapia adjuvante em pacientes com carcinoma cutâneo de células escamosas de alto risco após cirurgia e radioterapia. Foram incluídos 415 pacientes com características de risco elevado para recidiva local ou à distância, idade mediana de 71 anos, com cerca de 84% do sexo masculino, sendo que 83% dos tumores tinham localização na cabeça e pescoço, e critérios de alto risco definidos por acometimento nodal extenso (extensão extracapsular com linfonodos maciços ou múltiplos linfonodos) ou fatores não nodais como invasão óssea, recorrência local ou invasão perineural. Esses pacientes foram randomizados para receber cemiplimabe adjuvante ou placebo, ambos por via intravenosa a cada 3 semanas por até 36 semanas, com possibilidade de crossover após recidiva. O desfecho primário foi SLD. Após seguimento mediano de 24 meses, cemiplimabe demonstrou benefício robusto (HR= 0,32; IC de 95%: 0,20-0,51; p < 0,0001) para recorrência ou morte, com taxa de SLD em 24 meses de 87% no braço cemiplimabe versus 64% no braço placebo. Em termos de recidiva, o uso do imunoterápico foi favorável tanto na análise locorregional (HR=0,20), quanto na avaliação à distância (HR=0,35). Com relação à SG (HR=0,78; IC de 95%: 0,39-1,56), ainda não foi demonstrada diferença estatística. Quanto à segurança, eventos adversos de grau ≥ 3 ocorreram em 23,9% dos pacientes no braço cemiplimabe e em 14,2% no braço placebo. Descontinuação por eventos adversos foi de 9,8% versus 1,5%, respectivamente.
Abstract 9511
Clinical outcomes of the DIET study: A randomized controlled phase 2 trial of a high fiber diet intervention (HFDI) in patients with melanoma receiving immune checkpoint blockade (ICB)
O impacto de uma intervenção de dieta com alto teor de fibras (HFDI) sobre os desfechos clínicos em pacientes com melanoma tratados com imunoterapia foi avaliado neste estudo. Foram randomizados 45 pacientes, dos quais 43 iniciaram efetivamente a intervenção dietética concomitantemente à imunoterapia: 28 no braço de alta fibra e 15 no braço de dieta controle, com distribuição de gênero equilibrada e idade mediana de 57 anos, sendo que cerca de 79% tinham melanoma cutâneo. Os regimes de imunoterapia incluíam pembrolizumabe ou nivolumabe como monoterapia, combinação ipilimumabe + nivolumabe ou nivolumabe + relatlimabe. A dieta HFDI envolveu um aumento gradual de ingestão de fibras até 50 g/dia via alimentos integrais, enquanto o braço controle consumiu cerca de 20 g/dia, com ambas as dietas isocalóricas e bem controladas para macronutrientes, fornecidas aos participantes por até 10 semanas com acompanhamento dietético semanal. Com seguimento mediano de 22,6 meses para as coortes neoadjuvante/irresecável, a taxa de resposta objetiva foi de 77% no braço HFDI frente a 29% no braço controle (p=0,06). Quanto a SLE, a mediana ainda não foi alcançada no braço HFDI, enquanto foi de 20,0 meses no braço controle (p=0,03). Na coorte adjuvante, a taxa de recorrência foi de 14% no braço HFDI versus 33% no controle, e a sobrevida livre de recorrência mediana não foi alcançada no braço HFDI comparada a 27,8 meses no outro (p=0,49). Em termos de segurança imunológica, eventos adversos relacionados a imunoterapia de qualquer grau ocorreram em 71,4% dos pacientes no braço HFDI versus 93,3% no braço controle (p=0,13), e eventos de grau ≥ 3 foram 28,6% versus 40,0%, sem diferença estatisticamente significativa (p=0,51). Esses resultados sugerem que intervenções dietéticas com alto teor de fibra podem modular o microbioma intestinal de forma benéfica e potencialmente melhorar as respostas à imunoterapia em melanoma.
Abstract LBA9500
Nivolumab plus relatlimab vs nivolumab alone for the adjuvant treatment of completely resected stage III–IV melanoma: Primary results from RELATIVITY-098.
Os resultados primários do ensaio de fase III RELATIVITY-098, que comparou nivolumabe + relatlimabe versus nivolumabe isolado como tratamento adjuvante em pacientes com melanoma em estádios III e IV completamente ressecado foram apresentados. O estudo incluiu 1.093 pacientes randomizados (547 no braço duplo e 546 no braço monoterapia), com características basais amplamente equilibradas: mediana de idade de 59 anos, cerca de 60% do sexo masculino, a maioria em performance status ECOG 0 e cerca de 40% com mutação BRAF. Aproximadamente metade dos casos era estádio IIIC e a maioria melanomas cutâneos não acral. Após seguimento mediano de 23,4 meses, não houve diferença estatisticamente significativa na SLR entre os braços: no braço combinado, a mediana não foi atingida, enquanto no braço monoterapia foi de 33,1 meses (HR=1,01; p=0,928). As taxas de SLR em 12 meses foram 75% para nivolumabe + relatlimabe versus 72% para nivolumabe isolado, e em 24 meses 62% versus 64%, respectivamente. Em análise de desfechos secundários, a sobrevida livre de metástases a distância também foi similar entre ambos os braços (HR=1,07), com taxas de 24 meses de 73% versus 76%. O perfil de segurança mostrou maior incidência de eventos adversos relacionados ao tratamento no braço de combinação (89% versus 80%), com eventos de graus ≥ 3 em 19% versus 8%, e descontinuação por toxicidade em 17% no braço combinado versus 9% na monoterapia. As toxicidades mais frequentes incluíram hipotireoidismo, fadiga, prurido, hipertiroidismo, rash, artralgia e diarreia.
Abstract 9506
DREAMseq: A phase III trial of treatment sequences in BRAFV600-mutant (m) metastatic melanoma (MM)—Final clinical results
A comparação de diferentes sequências de tratamento para pacientes com melanoma metastático portadores da mutação BRAFV600 foi avaliada neste estudo. O objetivo principal foi avaliar qual melhor estratégia: imunoterapia seguida por terapia-alvo ou terapia-alvo seguida por imunoterapia. Foram recrutados 267 pacientes, com características demográficas equilibradas entre os braços. No braço de imunoterapia primeiro, os pacientes receberam combinação de ipilimumabe + nivolumabe até progressão ou toxicidade e, na sequência, terapia-alvo (inibidores de BRAF/MEK) em segunda linha, no braço inverso, iniciaram com BRAF/MEK e mudaram para imunoterapia na progressão. Com seguimento mediano de aproximadamente 5 anos, o braço com imunoterapia inicial apresentou vantagem clara em SG: a probabilidade de sobrevida em 5 anos foi cerca de 64% versus 34% no braço de terapia-alvo inicial (p<0,01). Em análises adicionais, observou-se que o benefício da imunoterapia ao início se acentuou ao longo do tempo, com tendência de curva de sobrevida mais favorável a partir do ano 3. As taxas de resposta foram de 51% em ambos os braços. A duração de resposta mediana favoreceu imunoterapia inicial (mediana não alcançada versus 15,1 meses). Esses resultados confirmam que, para pacientes com melanoma BRAFV600 mutado, iniciar com imunoterapia antes de terapia-alvo otimiza a sobrevida a longo prazo e reforçam a recomendação de sequenciamento terapêutico preferencial com imunoterapia no início do tratamento metastático.
Abstract 9515
Lifileucel in patients with advanced melanoma: 5-year outcomes of the C-144-01 study
Os resultados de cinco anos do estudo C-144-01 com lifileucel em pacientes com melanoma avançado previamente tratados com imunoterapia (inibidores de checkpoint) e, quando aplicável, terapia-alvo foram apresentados. O estudo incluiu 153 pacientes com mediana de seguimento de 57,8 meses (cerca de 4,8 anos). A população tinha idade mediana de 56 anos, com 54,2 % do sexo masculino, status funcional ECOG 0-1 em 68% dos casos, a grande maioria (93,5%) já em estádio IV no momento da inclusão, e 26,8% com mutação BRAF V600. Muitos pacientes tinham doença refratária ou resistência primária a imunoterapia (71,2%) ou resistência secundária (26,8%) e já haviam recebido múltiplas linhas de terapia (mediana de 3 linhas, variando de 1 a 9). A intervenção investigada consistiu em uma única infusão de lifileucel, uma terapia baseada em linfócitos infiltrantes de tumor autólogos (TIL), após quimiodepleção não mieloablativa, seguida por um curso breve de interleucina-2 em altas doses. A taxa de resposta objetiva foi de 31,4%, sendo 5,9% de respostas completas e 25,5% de respostas parciais. A duração mediana da resposta foi de 36,5 meses. Entre os pacientes que responderam, 31,3% completaram o acompanhamento de cinco anos mantendo a resposta. A resposta também se aprofundou com o tempo em alguns casos: quatro pacientes que tinham resposta parcial em torno de 1 ano evoluíram para resposta completa antes dos três anos após a infusão. A SG mediana na população total foi de 13,9 meses, e a taxa estimada de sobrevida aos cinco anos foi de 19,7%. Em termos de segurança, a toxicidade observada foi compatível com o perfil esperado de quimiodepleção e uso de IL-2. Eventos adversos graus ≥ 3 ocorreram em todos os pacientes no período imediato da terapia, mas a maioria desses casos reverteu para graus ≤ 2 até o dia 30 após a infusão. A incidência de eventos adversos diminuiu rapidamente nas primeiras duas semanas e não foram identificados eventos novos ou de aparecimento tardio relacionados a lifileucel ao longo do seguimento. Esses achados confirmam a durabilidade de respostas e o benefício de sobrevida com uma única dose de lifileucel em uma população de melanoma avançado com opções limitadas, com respostas persistentes até 5 anos e perfil de segurança estável, o que reforça seu papel como terapia celular viável em pacientes resistentes à imunoterapia convencional.
TUMORES DE SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Abstract 2002
Final clinical and molecular analysis of the EORTC randomized phase III intergroup CATNON trial on concurrent and adjuvant temozolomide in anaplastic glioma without 1p/19q codeletion: NCT00626990.
Durante o congresso, foram revelados os resultados finais do estudo de fase III CATNON, uma análise clínica e molecular do ensaio intergrupo EORTC que investigou o papel da temozolomida em gliomas anaplásicos sem deleção 1p/19q, em regime concomitante com radioterapia e/ou adjuvante. Entre 2007 e 2013, um total de 751 pacientes adultos com glioma anaplásico recém-diagnosticado sem co-deleção 1p/19q foram randomizados para receber radioterapia isolada, radioterapia com temozolomida concomitante, radioterapia seguida de temozolomida adjuvante por 12 ciclos, ou radioterapia com temozolomida concomitante mais adjuvante. Após um seguimento mediano prolongado de quase 11 anos, a análise final confirmou que o benefício em SG advindo da adição de temozolomida é consistente apenas no subgrupo de pacientes com mutação no gene IDH. Pacientes com gliomas IDH mutados que receberam temozolomida adjuvante exibiram mediana de SG de aproximadamente 12 anos, enquanto aqueles sem utilização de temozolomida tiveram resultados inferiores (sem benefício estatístico no grupo IDH selvagem). Não foi observada vantagem clínica com temozolomida concomitante durante a radioterapia isoladamente nos grupos sem adjuvância, nem em pacientes sem mutação de IDH. A avaliação molecular adicional demonstrou que diversos marcadores biológicos, como expressões de MGMT, perfis de metilação e mutações concomitantes, se correlacionaram com o prognóstico dentro do grupo IDH mutado, mas o benefício da adjuvância com temozolomida permaneceu presente independentemente dessas variáveis. Esses achados consolidados reforçam que o padrão de tratamento para gliomas anaplásicos sem 1p/19q deve incluir temozolomida adjuvante apenas nos gliomas IDH mutados, e que o uso de temozolomida concomitante durante radioterapia não é universalmente benéfico. Além disso, o estudo propõe que o status de IDH deve ser requisito essencial para seleção terapêutica, e os dados moleculares agora permitem estratificações mais precisas de risco dentro desse grupo, o que poderá orientar futuras terapias de intensificação ou descalonamento.
Abstract 2005
Patritumab deruxtecan (HER3-DXd) in active brain metastases (BM) from metastatic breast (mBC) and non–small cell lung cancers (aNSCLC), and leptomeningeal disease (LMD) from advanced solid tumors: Results from the TUXEDO-3 phase II trial.
A eficácia e segurança de patritumabe deruxtecana (HER3-DXd) em pacientes com metástases cerebrais ativas provenientes de câncer de mama metastático ou câncer de pulmão de células não pequenas, assim como em pacientes com doença leptomeníngea (LMD) decorrente de tumores sólidos avançados, foram avaliadas no estudo de fase II TUXEDO-3. Ao todo, 61 pacientes foram recrutados nos três coortes do estudo: 21 pacientes com metástases cerebrais de câncer de mama, 20 pacientes com metástases cerebrais de câncer de pulmão, e 20 pacientes com doença leptomeníngea de tumores sólidos diversos. Os resultados mostraram atividade promissora de HER3-DXd no sistema nervoso central: na coorte de metástases cerebrais de câncer de mama, a taxa de resposta foi de 23,8%, enquanto na coorte de metástases cerebrais de câncer de pulmão foi de 30,0%. Na coorte de doença leptomeníngea, 65% dos pacientes estavam vivos aos três meses, atingindo o objetivo primário. O perfil de segurança mostrou que eventos adversos de grau ≥ 3 atribuíveis ao tratamento ocorreram em 28,6% dos pacientes na coorte mamária, 40,0% na coorte de pulmão e 31,8% na terceira coorte, sendo neutropenia o evento mais frequente em todas. Sintomas neurológicos, qualidade de vida e função cognitiva permaneceram estáveis ou melhoraram durante o tratamento. A expressão tumoral de HER-3 não pareceu correlacionar-se de forma robusta com a probabilidade de resposta. Esses achados indicam que HER3-DXd tem atividade significativa em lesões intracranianas e leptomeníngeas, abrindo caminho para novas estratégias terapêuticas no enfrentamento de metástases cerebrais e leptomeningeose em tumores sólidos.
Abstract 2011
Stereotactic radiation versus hippocampal avoidance whole brain radiation in patients with 5-20 brain metastases: A multicenter, phase 3 randomized trial.
Este estudo abordou um dilema terapêutico central no manejo de pacientes com múltiplas metástases cerebrais: será que a abordagem focal (radiação estereotáxica) preserva melhor os sintomas e a função do paciente em comparação à radioterapia de cérebro total com proteção do hipocampo mesmo quando há entre 5 e 20 lesões? Foram randomizados 196 pacientes, com mediana de 14 metástases por paciente. Aproximadamente 25% dos pacientes haviam passado por ressecção neurocirúrgica prévia. Os valores basais médios nos escores de sintoma e interferência funcional foram equilibrados entre os braços. A análise do desfecho primário (analisando severidade de sintomas mais interferência funcional) favoreceu o braço com radiação estereotáxica (diferença entre os braços de -1,06; p < 0,001) indicando menor carga de sintomas e menor interferência no braço focal. Quanto à SG, a mediana foi muito similar nos dois braços: 8,3 meses no braço focal e 8,5 meses no braço crânio total (p=0,30). Portanto, esse estudo confirma que, em pacientes com entre 5 e 20 metástases cerebrais, a radiação estereotáxica resulta em menor sintomatologia relatada e menor interferência funcional nos primeiros meses, sem comprometimento da sobrevida em comparação com radioterapia cerebral total com proteção do hipocampo.
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