Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

ASCO 2023

O que muda no MOC após a ASCO 2023

Saiba o que deve mudar no MOC em breve.
Enquanto todos os capítulos estão sendo atualizados, os autores do MOC elaboraram um sumário com os trabalhos de maior impacto na prática clínica apresentados no último congresso da ASCO.
Confira a seguir!

CÂNCER DE MAMA

Abstract LBA500

Ribociclib and endocrine therapy as adjuvant treatment in patients with HR+/HER2− early breast cancer: Primary results from the phase III NATALEE trial.

O estudo NATALEE avaliou o tratamento adjuvante com terapia endócrina associada ou não a ribociclibe em 5.101 pacientes com câncer de mama com expressão de receptores hormonais (RH+) e HER-2 negativo em estádios IIA (se N1 ou N0 com fatores de risco), IIB e III. Merece destaque que cerca de dois terços dos pacientes possuíam comprometimento linfonodal. Com um seguimento mediano de 27,7 meses, a adição de ribociclibe ao tratamento hormonal adjuvante reduziu em 25,2% o risco de recidiva de doença invasiva ou morte comparado ao tratamento hormonal isolado (HR=0,748; IC de 95%: 0,618-0,906; p=0,0014), objetivo primário do estudo. Adicionalmente, também foi demonstrado benefício em sobrevida livre de doença a distância (HR=0,739; IC de 95%: 0,603-0,905; p=0,0017), enquanto a análise de sobrevida global ainda é imatura (HR=0,759; IC de 95%: 0,539-1,068; p=0,0563). Na avaliação de segurança, os pacientes tratados com terapia hormonal e ribociclibe apresentaram eventos adversos de destaque como: neutropenia (62,1%), toxicidades hepáticas (25,4%), prolongamento de intervalo QT (5,2%) e doença intersticial pulmonar (1,5%).

Abstract LBA1000

Primary outcome analysis of the phase 3 SONIA trial (BOOG 2017-03) on selecting the optimal position of cyclin-dependent kinases 4 and 6 (CDK4/6) inhibitors for patients with hormone receptor-positive (HR+), HER2-negative (HER2-) advanced breast cancer (ABC).

Buscando avaliar qual o melhor momento para utilizar inibidor de ciclinas no tratamento do câncer de mama, o estudo SONIA randomizou 1.050 pacientes entre receber tratamento com terapia hormonal associada a um inibidor de ciclinas na primeira linha ou após progressão a terapia hormonal. Dentre a população incluída, mais de metade dos pacientes apresentavam doença metastática visceral e o principal inibidor de ciclinas utilizado foi o palbociclibe. A sobrevida livre de progressão foi superior no braço que recebeu terapia hormonal com um inibidor de ciclinas na primeira linha (HR=0,59; IC de 95%: 0,51-0,69; p<0,0001), porém não houve diferença na segunda sobrevida livre de progressão (HR=0,87; IC de 95%: 0,74-1,03; p=0,10), bem como na sobrevida global (HR=0,98; IC de 95%: 0,80-1,20; p=0,83) na comparação entre os braços. Na avaliação de qualidade de vida, também não foi demonstrada diferença entre os braços, enquanto houve acréscimo de 42% na taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 quando o inibidor de ciclinas foi utilizado na primeira linha.

Abstract 1001

Second-line endocrine therapy (ET) with or without palbociclib (P) maintenance in patients (pts) with hormone receptor-positive (HR[+])/human epidermal growth factor receptor 2-negative (HER2[-]) advanced breast cancer (ABC): PALMIRA trial.

O estudo PALMIRA avaliou em 198 pacientes a manutenção de palbociclibe com a troca da terapia hormonal após progressão a terapia hormonal com palbociclibe na primeira linha da doença metastática. A manutenção de palbociclibe não demonstrou benefício na sobrevida livre de progressão (HR=0,84; IC de 95%: 0,66-1,07; p=0,149). Nas diferentes avaliações de subgrupos: presença ou não de metástases viscerais e tempo de uso de palbociclibe na primeira linha, também não houve diferença na sobrevida livre de progressão entre os braços. A taxa de resposta objetiva foi numericamente superior nos pacientes que mantiveram o uso de palbociclibe (4,4% versus 1,6%), bem como a taxa de benefício clínico (41,9% versus 27.4%). A sobrevida global também não demonstrou benefício na manutenção de palbociclibe (HR=1,06; IC de 95%: 0,75-1,51; p=0,738). A taxa de eventos adversos de graus 3-4 foi superior no braço que manteve o tratamento com palbociclibe (45,9% versus 10%).

Abstract 1005

Dynamic HER2-low status among patients with triple negative breast cancer (TNBC): The impact of repeat biopsies.

Estudo retrospectivo institucional do Massachusetts General Hospital mostrando a evolução da expressão de HER-2 low em pacientes com câncer de mama triplo-negativo submetidos a múltiplas biópsias. Como o primeiro dado de interesse, a probabilidade de apresentar resultado HER-2 low aumenta progressivamente com o número de biópsias realizadas, atingindo 100% quando ≥ 5 biópsias são realizadas, sendo que cerca de um terço das amostras apresentavam expressão de HER-2 low em cada biópsia sucessiva realizada. Outro dado importante: cerca de um quarto dos casos demonstravam mudança do status de HER-2 quando comparado o material cirúrgico ao resultado da biópsia core, sendo que 55% deles apresentavam migração de HER-2 negativo para HER-2 low, com taxas semelhantes independente da exposição a tratamento quimioterápico neoadjuvante ou não.

Abstract 1007

Randomized trial of fixed dose capecitabine compared to standard dose capecitabine in metastatic breast cancer: The X-7/7 trial.

Estudo randomizado buscando avaliar um diferente regime de administração de capecitabina (1.500 mg, via oral, duas vezes ao dia durante 7 dias, seguidos de 7 dias de pausa) em comparação ao regime padrão (1.250 mg/m2, via oral, duas vezes ao dia durante 14 dias, seguidos de 7 dias de pausa) no tratamento de pacientes com câncer de mama metastático. Não houve diferença estatística na sobrevida livre de progressão na comparação entre os braços (HR=1,00; IC de 95%: 0,70-1,43; p=0,98), bem como na taxa de resposta e na sobrevida global (HR=0,76; IC de 95%: 0,52-1,12; p=0,17). Destaca-se que o regime com dose fixa e administrado apenar por 7 dias foi associado a menor taxa de eventos adversos de graus ≥3 (11,3% versus 27,4%), descontinuação do tratamento (7,5% versus 28,7%) e modificação de dose (7,5% versus 23,3%).

 

CÂNCER DE PULMÃO

Abstract LBA3

Overall survival analysis from the ADAURA trial of adjuvant osimertinib in patients with resected EGFRmutated (EGFRm) stage IB–IIIA non-small cell lung cancer (NSCLC).

Na ASCO 2023 foram apresentados os dados de sobrevida global do estudo ADAURA. De maneira sumária, o ADAURA avalia o tratamento adjuvante com osimertinibe em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) apresentando mutações de sensibilidade do EGFR. Previamente já haviam sido divulgados os resultados da sobrevida livre de doença (HR=0,27; HR=0,21-0,34) e da sobrevida livre de doença no sistema nervoso central (HR=0,24; IC de 95%: 0,14-0,42). Nesta apresentação, o benefício do uso de osimertinibe adjuvante foi consolidado, demonstrando resultados favoráveis na sobrevida global tanto na população com doença estádios II-IIIA (HR=0,49; IC de 95%: 0,33-0,73; p=0,0004) quando na população com doença estádios IB-IIIA (HR=0,49; IC de 95%: 0,34-0,70; p<0,0001). Nas avaliações de subgrupos, a sobrevida global foi superior com o uso de osimertinibe independente do estágio de doença ou do uso de quimioterapia adjuvante.

Abstract LBA100

KEYNOTE-671: Randomized, double-blind, phase 3 study of pembrolizumab or placebo plus platinum-based chemotherapy followed by resection and pembrolizumab or placebo for early stage NSCLC.

O estudo de fase III KEYNOTE-671 randomizou 786 pacientes com CPCNP estádios II, IIIA ou IIIB entre tratamento neoadjuvante com quimioterapia baseada em platina associada a pembrolizumabe ou placebo durante 4 ciclos, seguida de cirurgia e adjuvância com pembrolizumabe ou placebo por 13 ciclos. Como primeiro resultado, as taxas de ressecção, ressecção completa e mortalidade em 30 dias após o procedimento foram semelhantes entre os braços. A sobrevida livre de eventos favoreceu o tratamento perioperatório com uso de pembrolizumabe (HR=0,58; IC de 95%: 0,46-0,72; p<0,00001). Na análise de subgrupos, todos os pacientes obtiveram benefício com o tratamento com pembrolizumabe. A taxa de resposta patológica maior (30,2% versus 11%; p<0,00001) e resposta patológica completa (18,1% versus 4,0%; p<0,00001) favoreceram o braço tratado com o imunoterápico. Os dados de sobrevida global ainda são imaturos (HR=0,73; IC de 95%: 0,54-0,99; p=0,02124). A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 44,9% com pembrolizumabe e 37,3% com placebo. O estudo teve publicação simultânea no New England Journal of Medicine.

Abstract LBA9000

Pemetrexed and platinum with or without pembrolizumab for tyrosine kinase inhibitor (TKI)-resistant, EGFR-mutant, metastatic nonsquamous NSCLC: Phase 3 KEYNOTE-789 study.

O estudo KEYNOTE-789 avaliou o benefício do uso de quimioterapia associada a pembrolizumabe ou placebo em 492 pacientes com CPCNP metastático apresentando mutação de sensibilidade do EGFR após progressão a um inibidor de tirosina quinase. Como resultados, a adição de pembrolizumabe ao tratamento quimioterápico não demonstrou benefício em sobrevida livre de progressão (HR=0,80; IC de 95%: 0,65-0,97; p=0,122), sobrevida global (HR=0,84; IC de 95%: 0,69-1,02; p=0,0362) ou taxa de resposta (29,0% versus 27,1%). Adicionalmente, houve acréscimo de eventos adversos nos pacientes que receberam o imunoterápico, principalmente as toxicidades imuno-mediadas.

 

TUMORES GASTRINTESTINAIS

Abstract LBA2

PROSPECT: A randomized phase III trial of neoadjuvant chemoradiation versus neoadjuvant FOLFOX chemotherapy with selective use of chemoradiation, followed by total mesorectal excision (TME) for treatment of locally advanced rectal cancer (LARC) (Alliance N1048).

O estudo PROSPECT avaliou o tratamento do câncer de reto localmente avançado poupando de radioterapia os pacientes que apresentavam resposta ao tratamento neoadjuvante com o regime quimioterápico FOLFOX por 6 ciclos. Foram então randomizados 1.128 pacientes com câncer de reto cT2N+, cT3N0 ou cT3N+ entre o tratamento padrão com quimioirradiação neoadjuvante seguido de cirurgia ou o protocolo de FOLFOX neoadjuvante e uso de quimioirradiação apenas nos pacientes que tiveram < 20% de resposta à quimioterapia, enquanto os demais iriam para a cirurgia. O estudo atingiu o critério estatístico de não-inferioridade para o tratamento poupador de radioterapia quando comparado ao tratamento padrão na avaliação de sobrevida livre de doença (HR=0,92; IC de 90,2%: 0,74-1,14). A sobrevida livre de recidiva local também foi semelhante entre os braços (taxas de 98,2% versus 98,4% aos 5 anos), assim como a sobrevida global (taxas de 89,5% versus 90,2% aos 5 anos). Os desfechos cirúrgicos foram semelhantes entre os braços, bem como a taxa de resposta patológica completa. Apenas 9% dos pacientes do braço FOLFOX receberam quimioirradiação. A taxa de eventos adversos durante o tratamento neoadjuvante foi inferior nos pacientes poupados de radioterapia, porém, aos 12 meses, este grupo apresentava maiores taxas de neuropatia (8% versus 3%). Não houve diferença estatística na qualidade de vida. O estudo teve sua publicação simultânea no New England Journal of Medicine e no Journal of Clinical Oncology.

Abstract 3501

Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) in patients (pts) with HER2-overexpressing/amplified (HER2+) metastatic colorectal cancer (mCRC): Primary results from the multicenter, randomized, phase 2 DESTINY-CRC02 study.

O estudo DESTINY-CRC02 avaliou o tratamento com trastuzumabe deruxtecano em pacientes com câncer colorretal metastático apresentando RAS selvagem, BRAF selvagem e HER-2 positivo (imunohistoquímica 3+ ou 2+ com hibridização in situ positiva). O número mediano de linhas terapêuticas prévias foi 4. Como resultados, a taxa de resposta foi 37,8% nos pacientes que receberam tratamento na dose de 5,4 mg/kg e 27,5% naqueles tratados com 6,4 mg/kg. A sobrevida livre de progressão mediana foi 5,8 meses e 5,5 meses, enquanto a sobrevida global mediana foi 13,4 meses e não alcançada, nas mesmas populações, respectivamente. Na avaliação de subgrupos, a taxa de resposta foi superior nos pacientes com expressão de HER-2 3+ (46,9%), quando comparada aos pacientes com expressão 2+ e hibridização in situ positiva (5,6%). O perfil de segurança foi semelhante ao uso de trastuzumabe deruxtecano em outros cenários, porém as taxas de doenças intersticial pulmonar foram maiores nos pacientes tratados com dose de 6,4 mg/kg (qualquer grau: 8,4% versus 12,8%).

Abstract 4002

Efficacy, safety and patient reported outcomes (PROs) from the phase III IMbrave050 trial of adjuvant atezolizumab (atezo) + bevacizumab (bev) vs active surveillance in patients with hepatocellular carcinoma (HCC) at high risk of disease recurrence following resection or ablation.

O estudo IMbrave050 avaliou o tratamento adjuvante com atezolizumabe e bevacizumabe em comparação a vigilância ativa em 668 pacientes com carcinoma hepatocelular ressecado. O objetivo primário do estudo foi atingido em análise interina, demonstrando o benefício do tratamento adjuvante em sobrevida livre de recidiva (HR=0,72; IC de 95%: 0,56-0,93; p=0,012).  Na avaliação de segurança, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 41% com o tratamento adjuvante. Na análise dos desfechos reportados pelos pacientes, o questionário IL42-EORTC QLQ-C30 foi utilizado, demonstrando ausência de qualquer efeito negativo com o tratamento ativo nos diferentes domínios avaliados (escore de saúde global, capacidades físicas, capacidades de atividades, domínio emocional e domínio social).

Abstract 4004

Outcomes by occurrence of immune-mediated adverse events (imAEs) with tremelimumab (T) plus durvalumab (D) in the phase 3 HIMALAYA study in unresectable hepatocellular carcinoma (uHCC).

O estudo HIMALAYA levou à aprovação regulatória do uso de durvalumabe e tremelimumabe no tratamento de primeira linha do carcinoma hepatocelular metastático. Na ASCO 2023 foram apresentados os resultados baseados na apresentação de eventos adversos imuno-mediados (EAim) com o regime. Como primeira mensagem, a análise demonstra que a maioria dos EAim ocorrem no segundo mês após o início do tratamento. De interesse, a sobrevida global é maior nos pacientes que receberam tratamento com o combo de durvalumabe e tremelimumabe e apresentaram EAim quando comparado àqueles que receberam o mesmo tratamento e não tiveram ocorrência de EAim (HR=0,272; IC de 95%: 0,557-0,948). Este padrão não se repetiu na avaliação dos pacientes tratados no braço de durvalumabe monoterapia (HR=1,136; IC de 95% 0,820-1,574).

Abstract 4003

Health-related quality of life (HRQoL) in the phase 3 KEYNOTE-966 study of pembrolizumab (pembro) plus gemcitabine and cisplatin (gem/cis) versus placebo plus gem/cis for advanced biliary tract cancer (BTC).

O estudo KEYNOTE-966 demonstrou o benefício da adição de pembrolizumabe ao tratamento de primeira linha com gencitabina e cisplatina em pacientes com tumores do trato biliar avançados. Na ASCO 2023 foram apresentados os resultados da análise de qualidade de vida dos pacientes incluídos neste estudo, através dos questionários EORTC QLQ-C30, EORTC QLQ-BIL21 e EQ-5D-5L. Nos resultados das diferentes avaliações conduzidas, o tratamento combinado de pembrolizumabe e quimioterapia manteve a qualidade de vida relacionada a saúde e as mudanças nos diferentes domínios analisados foram semelhantes entre os braços de tratamento.

 

TUMORES GINECOLÓGICOS

Abstract LBA5507

Phase III MIRASOL (GOG 3045/ENGOT-ov55) study: Initial report of mirvetuximab soravtansine vs. investigator’s choice of chemotherapy in platinum-resistant, advanced high-grade epithelial ovarian, primary peritoneal, or fallopian tube cancers with high folate receptor-alpha expression.

O estudo de fase III MIRASOL comparou a eficácia do mirvetuximabe soravtansina (MIRV), um anticorpo conjugado a droga dirigido ao receptor de folato alfa (FRα), com quimioterapia padrão em pacientes com câncer de ovário recorrente. Foram randomizados 453 pacientes com 1-3 tratamentos prévios e alta expressão de FRα. Os pacientes foram alocados 1:1 para receber MIRV 6 mg/kg ou quimioterapia de escolha do investigador (paclitaxel, doxorrubicina lipossomal pegilada ou topotecano). O estudo atingiu seu objetivo primário e secundário, apresentando benefícios estatisticamente significativos em sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta objetiva (TRO) e sobrevida global (SG). A SLP mediana foi 5,68 versus 3,98 meses (HR=0,65; IC de 95%: 0,52-0,81; p < 0,0001), a TRO foi 42% versus 16% (incluindo 5% de respostas completas no tratamento com o anticorpo conjugado a droga) e a SG mediana foi 16,46 versus 12,75 meses (HR=0,67; IC de 95%: 0,50-0,89; p=0,0046). Em pacientes pré-tratadas com bevacizumabe (n=281), o hazard ratio (HR) para SLP foi de 0,64 (IC de 95%: 0,49-0,84) e o HR para SG foi de 0,74 (IC de 95%: 0,54-1,04); em pacientes sem tratamento prévio com bevacizumabe (n=172), o HR para SLP foi de 0,66 (IC de 95%: 0,46-0,94) e o HR para SG foi de 0,51 (IC de 95%: 0,31-0,86). O perfil de eventos adversos de MIRV foi consistente com relatos anteriores, sendo predominantemente de baixos graus e relacionados a eventos oculares e gastrointestinais. Em comparação com a quimioterapia, o tratamento com MIRV foi associado a menores taxas de eventos adversos de graus ≥ 3 relacionados ao tratamento (42% versus 54%), eventos adversos graves (24% versus 33%) e descontinuações devido a eventos adversos relacionados ao tratamento (9% versus 16%). Os resultados do estudo MIRASOL posicionam o MIRV como um novo padrão de cuidado para pacientes com câncer de ovário recorrente positivo para FRα.

Abstract LBA5511

An international randomized phase III trial comparing radical hysterectomy and pelvic node dissection (RH) vs simple hysterectomy and pelvic node dissection (SH) in patients with low-risk early-stage cervical cancer (LRESCC):  A Gynecologic Cancer Intergroup study led by the Canadian Cancer Trials Group (CCTG CX.5-SHAPE).

Nas últimas duas décadas, observou-se uma tendência para cirurgias menos radicais em pacientes com câncer de colo de útero de baixo risco. Dados retrospectivos sugerem que uma cirurgia menos radical pode ser segura e associada a menos morbidade. O objetivo deste estudo de fase III de não-inferioridade foi comparar a histerectomia radical (HR) com a histerectomia simples (HS) em mulheres com câncer de colo de útero em estádio inicial de baixo risco, definido como: histologias escamosa, adenocarcinoma ou carcinoma adenoescamoso em estádios IA2 e IB1, < 10 mm de invasão estromal no procedimento inicial (LEEP ou cone), < 50% de invasão estromal na ressonância nuclear magnética e graus 1-3. Foram incluídas 700 mulheres de 12 países e 130 centros. Dentre a população incluída, a idade mediana foi de 44 anos, 91,7% estavam no estágio IB1 e 61,7% tinham histologia escamosa. 50% das histerectomias foram realizadas laparoscopicamente (56% HS versus 44% HR), 25% roboticamente (24% versus 25%) e 23% por via abdominal (17% versus 29%). Após um seguimento mediano de 4,5 anos, foram identificadas 21 recorrências pélvicas (11 HS e 10 HR). A taxa de recorrência pélvica aos 3 anos foi de 2,5% com HS e 2,2% com HR, resultando em uma diferença absoluta de 0,35% e limite superior do intervalo de confiança de 2,32, atingindo o desfecho estatístico pré-estabelecido para demonstração de não-inferioridade. A sobrevida livre de recorrência extrapélvica de 3 anos e a sobrevida global foram, respectivamente, 98,1% e 99,1% com HS; 99,7% e 99,4% com HR. A HR teve uma incidência significativamente maior de incontinência urinária (11,0% versus 4,7% com HS; p=0,003) e retenção urinária (9,9% versus 0,6% com HS; p<0,0001) durante o acompanhamento. Todas as escalas de qualidade de vida analisadas, avaliando diferentes domínios, apresentaram diferença significativa entre os dois grupos ao longo do tempo e favoreceram a HS. Como conclusão, a taxa de recorrência pélvica aos 3 anos em mulheres com câncer de colo de útero de estágio inicial de baixo risco que se submeteram a uma histerectomia simples é não-inferior àquela das pacientes que receberam uma histerectomia radical. Menos complicações cirúrgicas e melhor qualidade de vida foram observadas com a HS.

Abstract 5500

KEYNOTE-826: Final overall survival results from a randomized, double-blind, phase 3 study of pembrolizumab + chemotherapy vs placebo + chemotherapy for first-line treatment of persistent, recurrent, or metastatic cervical cancer.

A primeira análise interina do KEYNOTE-826 mostrou que o tratamento de primeira linha com pembrolizumabe + quimioterapia demonstrou benefício significativo em sobrevida global (SG) e na sobrevida livre de progressão (SLP) quando comparado a placebo + quimioterapia em pacientes com câncer de colo do útero recorrente, persistente ou metastático em todas as populações pré-especificadas (PD-L1 CPS ≥1, todos e PD-L1 CPS ≥ 10). Na ASCO 2023, foram apresentados os resultados da análise final especificada pelo protocolo deste estudo. De maneira sumária, 617 pacientes foram randomizadas (pembrolizumabe + quimioterapia, n = 308 [63,6% com bevacizumabe]; placebo + quimioterapia, n = 309 [62,5% com bevacizumabe]); 548 (88,8%) pacientes tinham PD-L1  ≥1 e 317 (51,4%) tinham PD-L1 ≥ 10. Com seguimento mediano de 39,1 meses, a combinação de pembrolizumabe + quimioterapia demonstrou benefício significativo em SG e SLP nas populações PD-L1 ≥ 1, all-comer e PD-L1 ≥ 10. O benefício de pembrolizumabe + quimioterapia foi observado independentemente do uso de bevacizumabe. A incidência de eventos adversos de graus ≥ 3 foi de 82,4% no braço de pembrolizumabe e 75,4% no braço placebo. Os eventos adversos de graus ≥ 3 mais comuns foram anemia (30,3% versus 27,8%), neutropenia (12,4% versus 9,7%) e hipertensão arterial (10,4% versus 11,7%). A adição de pembrolizumabe à quimioterapia ± bevacizumabe reduziu significativamente o risco de morte em 40% na população PD-L1 ≥ 1 (HR=0,60; IC de 95%: 0,49-0,74; p<0,0001), em 37% na população all-comer (HR=0,73; IC de 95%: 0,52-0,77; p < 0,0001) e em 42% na população PD-L1 ≥ 10 (HR=0,58; IC de 95%: 0,44-0,78; p<0,0001), e apresentou um perfil de segurança manejável. As análises de SLP, taxa de resposta e duração de resposta também favoreceram o tratamento com o regime contendo o imunoterápico em todas as populações. Esses dados fornecem mais suporte para o uso de pembrolizumabe + quimioterapia ± bevacizumabe como um novo regime de tratamento padrão na primeira linha de câncer de colo do útero persistente, recorrente ou metastático.

Abstract 5504

Patient-reported outcomes (PROs) in primary advanced or recurrent endometrial cancer (pA/rEC) for patients (pts) treated with dostarlimab plus carboplatin/paclitaxel (CP) as compared to CP in the ENGOT-EN6/GOG3031/RUBY trial.

No estudo clínico de fase III RUBY, o regime de dostarlimabe + carboplatina/paclitaxel demonstrou melhoria significativa na sobrevida livre de progressão em comparação com placebo + carboplatina/paclitaxel em pacientes com câncer de endométrio avançado ou recidivado, com particular destaque para os resultados da população com instabilidade de microssatélites (HR=0,28; IC de 95%: 0,162-0,495; p<0,0001). Na ASCO 2023 foram apresentados os desfechos reportados por pacientes. Os questionários foram administrados no D1 de cada ciclo de tratamento, no final do tratamento e nas avaliações de segurança e sobrevida e relatados para o ciclo 7, o final da quimioterapia e ciclo 13, e o final do 1º ano de estudo. Os desfechos reportados por pacientes foram semelhantes entre os braços durante o período de quimioterapia. Além disso, não foram relatadas diferenças ao longo do período de 3 anos entre os 2 grupos. Como conclusão, o regime de dostarlimabe + carboplatina/paclitaxel melhorou significativamente a SLP mantendo a qualidade de vida relacionada à saúde, apoiando ainda mais seu uso como um padrão de cuidado neste cenário.

 

TUMORES GENITURINÁRIOS

Abstract LBA5000

Prostate irradiation in men with de novo, low-volume, metastatic, castration-sensitive prostate cancer (mCSPC): Results of PEACE-1, a phase 3 randomized trial with a 2×2 design.

O estudo PEACE-1 já havia demonstrado que a combinação de terapia de privação androgênica e docetaxel com abiraterona melhorava tanto a sobrevida global quanto a sobrevida livre de progressão radiográfica em homens com câncer de próstata metastático sensível a castração de novo. Esta análise apresentada buscou avaliar o impacto da radioterapia prostática em pacientes submetidos a tratamento sistêmico intensificado, particularmente na população de baixo volume de doença (≤ 3 metástases ósseas e/ou envolvimento linfonodal). Dos 1.172 homens randomizados, 505 apresentavam doença de baixo volume. Com um seguimento mediano de 6,1 anos, a avaliação individualizada do desfecho de sobrevida libre de progressão radiográfica demonstrou medianas de 3,0 anos com tratamento-padrão, 2,6 anos com tratamento-padrão + radioterapia, 4,4 anos com tratamento-padrão + abiraterona e 7,5 anos com tratamento-padrão + abiraterona + radioterapia (p < 0,0001). Na análise de sobrevida global, a comparação foi conduzida entre tratamento-padrão ± abiraterona versus tratamento-padrão ± abiraterona + radioterapia, porém não demonstrou diferença estatística entre os grupos (p=0,86). Na demais avaliações, a adição de radioterapia do tumor primário demonstrou benefício em tempo para evento adverso geniturinário grave e sobrevida livre de doença resistente à castração. Esses dados demonstram que a radioterapia do tumor primário pode ser empregada no tratamento da doença metastática mesmo em pacientes que recebem tratamento sistêmico intensificado.

Abstract 5051

The effect of a reduced dose of enzalutamide on fatigue and cognition.

Este estudo clínico multicêntrico randomizado comparou a dose padrão de enzalutamida 160 mg/dia com uma dose reduzida de 120 mg/dia em pacientes frágeis com câncer de próstata.

O racional para o seu desenvolvimento deriva de que eventos adversos relacionados ao sistema nervoso central são frequentes e podem prejudicar a qualidade de vida. Além disso, a saturação do receptor androgênico já é observada com doses de enzalutamida acima de 60 mg/dia e concentrações plasmáticas > 5 mg/L. Os efeitos de fadiga e cognitivos foram avaliados em três momentos (6, 12 e 24 semanas após o início do tratamento) usando os questionários FACIT-F e FACT-Cog. Também foram avaliadas as concentrações plasmáticas de enzalutamida e a resposta de PSA50 nos dois regimes de dosagem. Foram incluídos 51 pacientes no estudo (25 na dose reduzida, 26 na dose padrão). Pacientes tratados com a dose reduzida não mostraram mudanças significativas nas pontuações FACIT-F e FACT-Cog ao longo do tempo, enquanto os pacientes tratados com a dose padrão apresentaram piora nas avaliações. Isso resultou em resultados de FACIT-F e FACT-Cog clinicamente relevantes e estatisticamente melhores para pacientes tratados com a dose reduzida após 24 semanas. Todas as concentrações plasmáticas de enzalutamida foram terapêuticas (> 5 mg/L) ao longo do estudo. A resposta do PSA não diferiu entre os grupos (87% para 120mg/dia versus 80% para 160mg/dia, p=0,796). Como conclusão, os autores apontam que a administração de uma dose reduzida inicial de enzalutamida (120 mg/dia) pode prevenir efeitos colaterais, permitindo melhor qualidade de vida nos pacientes frágeis com câncer de próstata, sem interferir nos indicadores de eficácia.

Abstract LBA4619

Phase 3 THOR study: Results of erdafitinib (erda) versus chemotherapy (chemo) in patients (pts) with advanced or metastatic urothelial cancer (mUC) with select fibroblast growth factor receptor alterations (FGFRalt).

Nesta apresentação da ASCO 2023, o estudo THOR avaliou se tratamento com erdafitinibe é superior à quimioterapia à escolha do investigador em pacientes com carcinoma urotelial metastático que progrediram após 1 ou 2 tratamentos anteriores, incluindo um agente anti-PD-(L)1. No total, foram randomizados 266 pacientes (136 para erdafitinibe e 130 para quimioterapia). O objetivo primário do estudo foi atingido, com erdafitinibe reduzindo o risco de morte em 36% em comparação a quimioterapia (HR=0,64; IC de 95%: 0,47-0,88; p=0,005), com medianas de 12,1 versus 7,8 meses. Adicionalmente, erdafitinibe também melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão (medianas de 5,6 versus 2,7 meses; HR=0,58; p=0,0002) e a taxa de resposta (45,6% versus 11,5%) em relação à quimioterapia. Eventos adversos relacionados ao tratamento graves foram observados em 13% e 24% dos pacientes com erdafitinibe e quimioterapia, respectivamente, e de graus ≥ 3 foram observados em 46% dos pacientes em ambos os braços de erdafitinibe e quimioterapia. Esses resultados demonstram o papel do erdafitinibe no tratamento de pacientes com carcinoma urotelial avançado com alteração de FGFR após o tratamento com PD-(L)1.

Abstract LBA4507

Multicenter randomized phase III trial of dose-dense methotrexate, vinblastine, doxorubicin, and cisplatin (dd-MVAC) or gemcitabine and cisplatin (GC) as perioperative chemotherapy for muscle-invasive bladder cancer (MIBC): Overall survival (OS) data at 5 years in the GETUG/AFU V05 VESPER trial.

A análise de 5 anos do estudo VESPER, que incluiu 500 pacientes na comparação entre 4 ciclos de gencitabina e cisplatina (GC) a cada 3 semanas versus 6 ciclos de MVAC dose-densa (dd-MVAC) a cada 2 semanas no cenário perioperatório (tanto neoadjuvante como adjuvante) foi apresentada na ASCO 2023. Os resultados mostraram um benefício significativo na sobrevida global em 5 anos (HR=0,71; IC de 95%: 0,52-0,97; p=0,032) e na sobrevida doença-específica (HR=0,56; IC de 95%: 0,39-0,80; p=0,001) dentre os pacientes que receberam o tratamento com dd-MVAC no cenário neoadjuvante. Na análise multivariada, incluindo fatores como função renal, estádio de doença, comprometimento linfonodal e status do paciente, o benefício de dd-MVAC no cenário neoadjuvante novamente foi confirmado. Os resultados do grupo adjuvante não foram conclusivos devido ao pequeno tamanho da amostra (N=56).

 

SARCOMAS E MELANOMA

Abstract LBA9505

Pembrolizumab versus placebo as adjuvant therapy in stage IIB or IIC melanoma: Final analysis of distant metastasis-free survival in the phase 3 KEYNOTE-716 study.

O estudo clínico KEYNOTE-716 demonstrou o benefício de pembrolizumabe adjuvante em pacientes com melanoma ressecado de estádios IIB ou IIC. No congresso, foram apresentados os dados finais de sobrevida livre de metástases a distância. Os resultados após uma mediana de seguimento de 39,4 meses mostraram benefícios significativos tanto em sobrevida livre de metástases a distância (HR=0,59; IC de 95%: 0,44-0,79) como em sobrevida livre de recorrência (HR=0,62; IC de 95%: 0,49-0,79) em favor do pembrolizumabe. As avaliações de segurança de demonstram dados semelhantes ao uso de pembrolizumabe em outros cenários.

Abstract 9504

Association of biomarkers (BMs) with efficacy of adjuvant nivolumab (NIVO) vs placebo (PBO) in patients with resected stage IIB/C melanoma (CA209-76K).

Tratamento adjuvante com nivolumabe demonstrou benefício em sobrevida livre de recidiva (RFS) em relação ao placebo no melanoma de estádios IIB/C no estudo randomizado de fase III Checkmate 76K (HR=0,42; IC de 95%: 0,30–0,59). Pela primeira vez, foram avaliados biomarcadores (BM) e sua associação com RFS foram analisados em melanoma de estágio inicial tratado com um agente anti-PD-1. A análise dos níveis contínuos de BM dentro dos braços de tratamento mostrou que uma assinatura de IFNγ, carga mutacional tumoral (TMB) e o percentual de células T CD8+ mais elevados, e níveis mais baixos de proteína C reativa foram associados a uma RFS prolongada com nivolumabe, mas não com placebo. A mesma tendência foi observada nas análises dicotomizadas. Não foi identificada uma clara associação entre a expressão de PD-L1 e RFS em qualquer braço. O benefício de nivolumabe sobre placebo foi observado em todos os subgrupos de BM, inclusive por status de mutação BRAFV600. Os autores concluíram que a assinatura IFNγ, TMB e percentual % de células T CD8+ mais elevados, e níveis mais baixos de proteína C reativa são biomarcadores associados a uma RFS mais longa com tratamento nivolumabe adjuvante.

Abstract 9502

Nivolumab (NIVO) plus relatlimab (RELA) vs NIVO in previously untreated metastatic or unresectable melanoma: 2-year results from RELATIVITY-047.

Os resultados atualizados do estudo RELATIVITY-047 demonstram que nivolumabe + relatlimabe continua a oferecer benefícios significativos em comparação a nivolumabe isolado no tratamento do melanoma avançado. Após um seguimento mediano de 25,3 meses, a combinação nivolumabe + relatlimabe demonstrou benefícios contínuos sobre nivolumabe isolado em termos de sobrevida livre de progressão (medianas de 10,2 meses versus 4,6 meses), SG (não atingida versus 33,2 meses) e taxa de resposta (43,7% versus 33,7%). Além disso, um benefício similar foi observado na sobrevida melanoma-específica (HR=0,77; IC de 95%: 0,61-0,97). Quanto à segurança, eventos adversos relacionados ao tratamento de qualquer grau que levaram à interrupção do tratamento foram observados em 17,2% dos pacientes com combinação e em 8,6% dos pacientes com nivolumabe isolado. Eventos adversos relacionados ao tratamento de graus ≥ 3 foram observados em 22,0% versus 12,0% dos pacientes com a combinação e nivolumabe isolado, respectivamente.

Abstract 9507

Towards organ preservation and cure via 2 infusions of immunotherapy only, in patients normally undergoing extensive and mutilating curative surgery for cutaneous squamous cell carcinoma: An investigator-initiated randomized phase II trial—The MATISSE trial.

O tratamento-padrão para o carcinoma de células escamosas cutâneas (CSCC) localmente avançado consiste em cirurgia extensiva e mutiladora, muitas vezes com radioterapia adjuvante. O estudo MATISSE procurou melhorar as perspectivas clínicas desses pacientes testando a eficácia do nivolumabe neoadjuvante e da combinação de nivolumabe e ipilimumabe em pacientes com CSCC que precisavam de cirurgia extensiva com ou sem radioterapia adjuvante. Foram incluídos 50 pacientes com CSCC estádios T1-4N0-3M0 ou TxN1-3M0 e indicação para cirurgia extensiva e/ou mutiladora, que foram randomizados entre nivolumabe ou nivolumabe + ipilimumabe administrados antes da cirurgia. Como resultados, 40% e 53% dos pacientes atingiram uma resposta patológica maior (MPR) com nivolumabe e nivolumabe + ipilimumabe, respectivamente. No entanto, 10 pacientes recusaram-se a fazer cirurgia e radioterapia, sendo que nove deles alegaram remissão clínica substancial após a imunoterapia neoadjuvante. Todos esses 9 pacientes estão atualmente sem câncer com um seguimento mediano de 12 meses (intervalo de 4-27 meses) e apresentam uma qualidade de vida superior em comparação com os pacientes do MATISSE submetidos ao tratamento-padrão. No geral, foram observadas respostas clínicas profundas em 13/26 (50%) e 14/23 (61%) dos pacientes com nivolumabe e a combinação, respectivamente, sendo uma MPR no momento da cirurgia ou uma resposta clínica completa em pacientes que recusaram a cirurgia. As conclusões preliminares do estudo MATISSE mostram respostas profundas em 50% e 61% dos pacientes com nivolumabe e nivolumabe + ipilimumabe neoadjuvantes, respectivamente, com toxicidade manejável nesta população idosa com CSCC. Além disso, nove pacientes do MATISSE comprovaram que é possível preservar o órgão e alcançar remissões completas duráveis após apenas duas infusões de imunoterapia neoadjuvante, sem a necessidade de cirurgia curativa extensiva ou mutiladora e/ou radioterapia.

 

TUMORES DO SISTEMA NERVOSA CENTRAL

Abstract 2017

RANO 2.0: Proposal for an update to the Response Assessment in Neuro-Oncology (RANO) criteria for high- and low-grade gliomas in adults.

Os critérios de Avaliação de Resposta em Neuro-Oncologia (RANO) para gliomas de alto e baixo grau (HGG e LGG) foram desenvolvidos para melhorar a confiabilidade da avaliação de resposta em estudos de glioma. No entanto, várias limitações dos critérios RANO originais foram relatadas.  Para abordar essas limitações, foi avaliado um grande número de pacientes com glioblastoma recém-diagnosticado e recorrente, comparando os critérios RANO-HGG com os critérios RANO modificados (mRANO) e os critérios RANO de imunoterapia (iRANO) para informar as seguintes atualizações propostas (RANO 2.0). Com base na classificação da OMS de 2021 para glioma, recomenda-se um único conjunto comum de critérios para todos os gliomas, independentemente do grau da OMS e do status de mutação IDH. Estes critérios serão utilizados em todos os ensaios, independentemente das modalidades de tratamento em avaliação. Em glioblastoma recém-diagnosticado, a ressonância nuclear magnética pós-radioterapia, geralmente obtida aproximadamente 4 semanas após a conclusão da radioterapia, em vez da ressonância pós-cirúrgica proposta nos critérios RANO originais, será usada como base para a comparação das imagens subsequentes. Como a incidência de pseudoprogressão é alta nos primeiros 3 meses após a radioterapia, a confirmação de progressão durante este período com uma ressonância repetida (em 4-8 semanas) será necessária para determinar a progressão radiográfica da doença se o paciente estiver clinicamente estável. No entanto, as avaliações de confirmação não são obrigatórias após este período ou na avaliação de tumores recorrentes, uma vez que essas avaliações não parecem melhorar a confiabilidade na determinação da progressão. Para agentes com alta probabilidade de produzir pseudoprogressão, como terapias virais e algumas outras imunoterapias, a confirmação obrigatória da progressão com uma ressonância repetida é uma opção. A medição primária continuará sendo a área máxima bidimensional de corte transversal do tumor como o método mais simples, mas onde disponíveis, as medições volumétricas são uma opção. Para tumores IDH selvagens com realce de contraste, o tumor não realçante não será mais avaliado, com a possível exceção de pacientes recebendo terapias antiangiogênicas. No entanto, em tumores com um componente não realçante significativo, tanto os componentes realçantes como os não realçantes serão avaliados como lesões-alvo. Os autores esperam que estas e outras mudanças propostas pelo grupo de trabalho RANO melhorem a avaliação da resposta nos estudos clínicos de glioma e auxiliem no desenvolvimento de terapias mais eficazes para os pacientes.

Abstract 2008

Belzutifan treatment for von Hippel-Lindau (VHL) disease–associated central nervous system (CNS) hemangioblastomas (HBs) in the phase 2 LITESPARK-004 study.

Os pacientes com doença de von Hippel-Lindau (VHL) correm o risco de desenvolver tumores e cistos multiorgânicos, incluindo hemangioblastomas do sistema nervoso central (HBs do SNC). Belzutifano, o primeiro inibidor de fator de hipóxia 2α (HIF-2α), mostrou atividade antitumoral clinicamente significativa em carcinoma de células renais (CCR) e outras neoplasias associadas à doença de VHL no estudo em andamento, de braço único, de fase II LITESPARK-004. No estudo, pacientes adultos com diagnóstico de doença de VHL receberam 120 mg de belzutifano, via oral, uma vez ao dia. Dos 61 pacientes incluídos, 50 (82%) tinham pelo menos um HB do SNC avaliável na linha de base, e 22 (59%) haviam realizado pelo menos uma cirurgia relacionada ao SNC dentro de 4 anos antes do início do tratamento com belzutifano. Com um seguimento mediano de 38,0 meses, a taxa de resposta foi de 44% e a taxa de controle de doença de 90%. O tempo para resposta mediano foi de 5,4 meses, e a duração de resposta mediana ainda não foi atingida. A sobrevida livre de progressão mediana também ainda não foi atingida. Dos 50 pacientes, 25 tinham pelo menos um HB do SNC mensurável, excluindo quaisquer cistos associados. Para estes pacientes, a taxa de resposta foi de 76% e a taxa de controle de doença foi de 96%. Apenas 1 dentre os 50 pacientes realizou uma cirurgia relacionada ao SNC após iniciar o belzutifano e 2 (3%) interromperam o tratamento devido a eventos adversos relacionados ao tratamento. Estes dados demonstram após mais de 3 anos de tratamento com belzutifano, a atividade antitumoral consistente e duradoura em pacientes portadores de HBs do SNC, consistente com os achados em outras neoplasias associadas à doença de VHL.

Abstract LBA1

INDIGO: A global, randomized, double-blinded, phase 3 study of vorasidenib versus placebo in patients with residual or recurrent grade 2 glioma with an IDH1/2 mutation.

Os gliomas de grau 2 são tumores cerebrais malignos e progressivos lentamente com um prognóstico a longo prazo ruim. Os tratamentos atuais (cirurgia seguida de observação ou radioterapia adjuvante e quimioterapia) não são curativos e podem estar associados a toxicidades a curto e longo prazo. As mutações na isocitrato desidrogenase (IDH) 1 ou 2 ocorrem em aproximadamente 80% e 4% dos gliomas de grau 2, respectivamente, e são uma característica definidora da doença na definição da OMS de 2021. Vorasidenibe, um inibidor oral, penetrante no cérebro, duplo das enzimas IDH1/2, mostrou um perfil de segurança tolerável e atividade clínica preliminar em estudos de fase 1. Neste estudo de fase III randomizado, que foi apresentado em sessão plenária, 331 pacientes foram randomizados 1:1 para receber vorasidenibe 40 mg diários ou placebo diário em ciclos de 28 dias. Os critérios principais de elegibilidade incluíram: idade ≥ 12 anos; KPS > 80%; oligodendroglioma ou astrocitoma de grau 2 residual ou recorrente com mutação de IDH1 ou IDH2; doença não contrastante mensurável; ausência de tratamento anterior para glioma com a cirurgia mais recente entre 1 a 5 anos antes da randomização; e ausência de necessidade imediata de quimioterapia/radiação. A sobrevida livre de progressão foi estatisticamente significativa em favor do braço que recebeu vorasidenibe (HR=0,39; IC de 95%: 0,27-0,56; p=0,000000067), com medianas de 27,7 versus 11,1 meses. O tempo para próxima intervenção também demonstrou resultado estatisticamente significativo em favor do braço vorasidenibe (HR=0,26; IC de 95%: 0,15-0,43; p=0,000000019), com medianas de não alcançada versus 17,8 meses. Eventos adversos de qualquer grau que ocorreram em mais de 20% dos pacientes tratados foram: aumento de TGP (38,9% versus 14,7%), COVID-19 (32,9% versus 28,8%), fadiga (32,3% versus 31,9%), aumento da TGO (28,7% versus 8,0%), cefaleia (26,9% versus 27,0%), diarreia (24,6% versus 16,6%) e náuseas (21,6% versus 22,7%). Este foi o primeiro estudo prospectivo de fase III randomizado de uma terapia-alvo em gliomas de grau 2 com mutação de IDH. Os resultados do estudo foram publicados de maneira concomitante no New England Journal of Medicine.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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