Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

ASCO 2022

O que muda no MOC após a ASCO 2022

Após dois anos de congresso exclusivamente online em decorrência da pandemia de COVID-19, o congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica de 2022 (ASCO 2022) retomou as atividades presenciais com importantes novidades em diferentes tópicos da oncologia. A equipe do MOC traz um resumo dos principais trabalhos apresentados com potencial impacto na prática clínica. Confira a seguir:

 

CÂNCER DE MAMA

Abstract LBA3

Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) versus treatment of physician’s choice (TPC) in patients (pts) with HER2-low unresectable and/or metastatic breast cancer (mBC): Results of DESTINY-Breast04, a randomized, phase 3 study.

O estudo DESTINY-Breast04 avaliou o uso do anticorpo conjugado a droga (ACD) trastuzumabe deruxtecano (T-DXd) na população de pacientes com câncer de mama metastático apresentando baixa expressão de HER-2 (HER-2 low), caracterizado como positividade de 1+ na análise imuno-histoquímica (IHQ) ou 2+ com teste de hibridização in situ para HER-2 negativo, população esta que era até então classificada para fins terapêuticos como HER-2 negativo. Neste estudo de fase III, 557 pacientes previamente tratados com 1 ou 2 linhas de quimioterapia para a doença avançada foram randomizados entre T-DXd ou quimioterapia à escolha do investigador (capecitabina, eribulina, gencitabina paclitaxel ou nab-paclitaxel). A população era majoritariamente constituída de pacientes com doença apresentando expressão de receptores hormonais (RH+; cerca de 90%). Destaca-se também que cerca de 70% dos pacientes apresentavam metástases hepáticas e aproximadamente 5% possuíam metástases cerebrais. O tratamento com o ACD demonstrou benefício em sobrevida livre de progressão na população RH+ (HR=0,51; IC de 95%: 0,40-0,64; p<0,0001), objetivo primário do estudo, cujo desfecho também foi favorável na análise da população global (HR=0,50; IC de 95%: 0,40-0,63; p<0,0001). Adicionalmente, o braço que recebeu T-DXd apresentou redução de 36% no risco de morte na comparação ao braço controle (HR=0,64; IC de 95%: 0,49-0,84; p=0,0010), com sobrevida global mediana de 23,4 versus 16,8 meses, respectivamente. A taxa de resposta objetiva foi superior no braço que recebeu T-DXd tanto na população RH+ (52,6% versus 16,3%) quanto RH- (50,0% versus 16,7%). A análise de segurança demonstrou resultados semelhantes aos apresentados no uso do ACD em outros cenários, destacando-se doença intersticial pulmonar em 12,1% e redução da fração de ejeção do ventrículo esquerdo em 4,3% dos pacientes. Dada a relevância dos resultados, o estudo foi simultaneamente publicado no New England Journal of Medicine.

 

Abstract 507

Long-term outcomes of adjuvant denosumab in breast cancer: Fracture reduction and survival results from 3,425 patients in the randomised, double-blind, placebo-controlled ABCSG-18 trial.

Os dados do estudo ABCSG-18, que avalia o uso de denosumabe adjuvante no tratamento de pacientes pós-menopáusicas com câncer de mama inicial recebendo tratamento adjuvante com um inibidor da aromatase foram atualizados na ASCO 2022. A sobrevida livre de doença, um dos objetivos secundários do estudo, favoreceu o tratamento com denosumabe (HR=0,83; IC de 95%: 0,71-0,97; p=0,02). Apesar de taxas absolutas mais favoráveis no braço denosumabe, não houve diferença estatística nas avaliações de sobrevida livre de metástases ósseas (HR=0,81; IC de 95%: 0,65-1,00; p=0,05) e sobrevida global (HR=0,80-IC de 95%: 0,63-1,01; p=0,06). Tais resultados reforçam a recomendação do uso de ácido zoledrônico como terapia preferencial no cenário adjuvante, sendo o uso de denosumabe reservado apenas para situações específicas como dificuldades de acesso venoso ou toxicidades importantes.

 

Abstract 506

Adding ovarian function suppression to tamoxifen in young women with hormone-sensitive breast cancer who remain premenopausal or resume menstruation after chemotherapy: 8-year follow-up of the randomized ASTRRA trial.

O emprego de terapia de supressão ovariana por apenas 2 anos em associação ao tratamento hormonal foi investigado no estudo ASTRRA em pacientes na pré-menopausa com < 45 anos previamente tratadas com cirurgia e quimioterapia para o câncer de mama RH+ estádios I a III. Com seguimento mediano de 106,4 meses, a análise da sobrevida livre de doença, objetivo primário do estudo, favoreceu o uso de supressão ovariana por 2 anos em associação a tamoxifeno quando comparada a tamoxifeno isolado (HR=0,67; IC de 95%: 0,51-0,87; p=0,0027), com diferença absoluta de 5,2% aos 8 anos. Nas demais análises, o emprego da supressão ovariana foi benéfico no intervalo livre de recorrência (HR=0,70; IC de 95%: 0,52-0,93), intervalo livre de câncer de mama (HR=0,71; IC de 95%: 0,54-0,94) e sobrevida livre de metástases a distância (HR=0,71; IC de 95%: 0,52-0,96). A avaliação da sobrevida global não demonstrou diferença estatística (HR=0,78; IC de 95%: 0,47-1,25; p=0,3), com taxas acima de 95% em ambos os braços aos 8 anos.

 

Abstract LBA501

LUMINA: A prospective trial omitting radiotherapy (RT) following breast conserving surgery (BCS) in T1N0 luminal A breast cancer (BC).

O estudo LUMINA avaliou a omissão de radioterapia adjuvante em pacientes com câncer de mama inicial subtipo luminal A com características de baixo risco. Foram incluídos pacientes ≥ 55 anos com carcinoma ductal invasor T1N0 após cirurgia conservadora da mama e pesquisa de linfonodo sentinela, margens negativas (≥ 1 mm), graus 1-2, com análise IHQ demonstrando expressão de receptores de estrógeno ≥ 1%, progesterona > 20% e HER-2 negativo em terapia hormonal adjuvante (inibidor da aromatase ou tamoxifeno). Foram excluídos aqueles com tumores multifocais ou multicêntricos, com componente intraductal extenso (> 25%) e com presença de invasão linfovascular. Após revisão patológica central, os pacientes com Ki-67 ≤ 13,25% foram incluídos no estudo e mantidos em tratamento hormonal exclusivo sem o emprego de radioterapia adjuvante. Após seguimento mediano de 5 anos, o estudo atingiu seu objetivo primário, demonstrando taxa de recorrência local de 2,3%. Nas demais análises de eficácia, a taxa de câncer de mama contralateral foi 1,9%, de qualquer recorrência foi 2,7%, a sobrevida livre de doença aos 5 anos foi 89,9%, enquanto a sobrevida global neste intervalo foi 97,2%. Apesar do seguimento ainda curto neste cenário clínico e da inclusão de pacientes relativamente jovens (40% entre 55 e 64 anos), os dados sugerem que uma parcela de pacientes pode ser poupada de tratamento radioterápico adjuvante com segurança.

 

Abstract LBA1003

Overall survival (OS) with first-line palbociclib plus letrozole (PAL+LET) versus placebo plus letrozole (PBO+LET) in women with estrogen receptor–positive/human epidermal growth factor receptor 2–negative advanced breast cancer (ER+/HER2− ABC): Analyses from PALOMA-2.

Nesta atualização do estudo PALOMA-2, foi apresentada a análise final de sobrevida global após seguimento mediano de 90 meses e ocorrência de 405 eventos. De maneira suscinta, este estudo avaliou o tratamento de primeira linha com palbociclibe e letrozol em comparação a letrozol e placebo em 666 pacientes com câncer de mama RH+ metastático. A sobrevida global no braço palbociclibe foi 53,9 meses versus 51,2 meses no braço controle (HR=0,96; IC de 95%: 0,78-1,18; p=0,3378). Dentre as diferentes análises de subgrupos conduzidas, não foi demonstrado benefício em sobrevida global independente da exposição prévia à quimioterapia ou terapia endócrina, do intervalo livre de doença ou da presença de metástases exclusivamente ósseas. Merece destaque a taxa de pacientes com dados de sobrevida não disponíveis: 13% no braço palbociclibe e 21% no braço placebo, o que, segundo os autores, deve ser considerado na interpretação dos dados.

 

CÂNCER GASTRINTESTINAL

Abstract LBA100

Adjuvant chemotherapy guided by circulating tumor DNA analysis in stage II colon cancer: The randomized DYNAMIC Trial.

O estudo DYNAMIC avaliou de maneira inovadora o uso de DNA tumoral circulante (DNAtc) para guiar o tratamento adjuvante de pacientes com câncer de cólon estádio II submetidos a cirurgia com ressecção completa. A relevância dos achados neste estudo motivou a publicação concomitante dos dados no periódico New England Journal of Medicine. Os pacientes foram randomizados no pós-operatório entre o tratamento padrão, com indicação de quimioterapia adjuvante baseada nos critérios clínico-patológicos, ou manejo baseado no DNAtc, em que pacientes com resultado positivo receberam quimioterapia adjuvante (monoterapia com fluoropirimidina ou associada a oxaliplatina) e aqueles com resultado negativo foram mantidos apenas em observação. A análise das amostras de plasma buscava mutações em 15 genes comumente alterados no câncer colorretal a partir de um perfil identificado no sequenciamento tecidual de cada tumor primário individualmente, sendo que as coletas plasmáticas ocorreram nas semanas 4 e 7 após a cirurgia e foram considerados resultados positivos aqueles com detecção de DNAtc em qualquer uma das amostras. A pesquisa plasmática foi factível, com apenas 3 pacientes (cerca de 1%) apresentando falhas na análise de DNAtc.  Na avaliação de recomendação de tratamento, a taxa de administração de quimioterapia adjuvante no braço randomizado para a estratégia de DNAtc foi aproximadamente metade daquela no manejo convencional (15% versus 28%, p=0,0017), porém houve maior frequência na indicação de regimes baseados em oxaliplatina (62% versus 10%, p<0,0001) e maior tempo decorrido entre a cirurgia e o início da quimioterapia (83 versus 53 dias, p<0,0001). Os pacientes do braço DNAtc receberam quimioterapia adjuvante em menor frequência mesmo em subgrupos específicos de prognóstico menos favorável, como aqueles com risco clínico-patológico alto (RR=2,14; IC de 95%: 1,43-3,21), estádio T4 (RR=2,57; IC de 95%: 1,46-4,50) e tumores pouco diferenciados (RR=5,06; IC de 95%: 1,02-25,10). O estudo atingiu seu objetivo primário de não-inferioridade em sobrevida livre de recorrência (HR=0,96; IC de 95%: 0,51-1,82), com taxas de sobrevida livre de recorrência aos 3 anos de 91,7% versus 92,4% para o manejo padrão e pelo DNAtc, respectivamente. Dentre os pacientes do braço DNAtc, a taxa de sobrevida livre de recorrência aos 3 anos foi 86,4% e 92,5% naqueles com DNAtc positivo e negativo, respectivamente.

 

Abstract LBA1

Panitumumab (PAN) plus mFOLFOX6 versus bevacizumab (BEV) plus mFOLFOX6 as first-line treatment in patients with RAS wild-type (WT) metastatic colorectal cancer (mCRC): Results from the phase 3 PARADIGM trial.

O estudo de fase III PARADIGM, apresentado em sessão plenária, avaliou o tratamento de primeira linha do câncer colorretal metastático RAS selvagem utilizando o regime mFOLFOX6 combinado aos anticorpos bevacizumabe ou panitumumabe. Dentre os 823 pacientes randomizados, cerca de ¾ apresentavam tumores de cólon esquerdo, aproximadamente 30% possuíam metástases exclusivamente hepáticas e 51% possuíam ≥ 2 sítios de metástases. Em análise hierárquica, foi demonstrado que o uso de panitumumabe foi superior na avaliação de sobrevida global na população com doença em cólon esquerdo (HR=0,82; IC de 95%: 0,68-0,99; p=0,031), bem como na população global (HR=0,84; IC de 95%: 0,72-0,98; p=0,030), apesar da ausência de diferença na sobrevida livre de progressão na análise de ambas as populações. A taxa de resposta foi superior no braço tratado com o anticorpo anti-EGFR (74,9% versus 67,3%), bem como a taxa de pacientes submetidos a ressecção com intuito curativo (16,5% versus 10,9%). Na análise exploratória contemplando apenas os pacientes com tumor de cólon direito, a sobrevida global mediana foi 20,2 versus 23,2 meses nos braços panitumumabe e bevacizumabe, respectivamente (HR=1,09; IC de 95%: 0,79-1,51).

 

Abstract LBA5

Single agent PD-1 blockade as curative-intent treatment in mismatch repair deficient locally advanced rectal cancer.

Estudo de fase II avaliando o uso do anticorpo anti-PD-1 dostarlimabe no tratamento neoadjuvante do câncer retal estádios II ou III com deficiência de mismatch repair. A população incluída na presente análise possuía critérios de alto risco, com 78% dos pacientes apresentando doença cT3 ou cT4 e 94% com comprometimento linfonodal, além da carga mutacional tumoral média ser 67 mut/Mb. Os 14 primeiros pacientes que atingiram seguimento mínimo de 6 meses demonstram 100% de respostas clínicas completas ao tratamento com o agente imunoterápico, sem recidivas ou necessidade de quimioterapia, radioterapia ou cirurgia durante o tempo de seguimento. A importância dos achados levou à publicação do estudo no New England Journal of Medicine.

 

Abstract LBA3506

FOLFOXIRI + bevacizumab versus FOLFOX/FOLFIRI + bevacizumab in patients with initially unresectable colorectal liver metastases (CRLM) and right-sided and/or RAS/BRAFV600E-mutated primary tumor: Phase III CAIRO5 study of the Dutch Colorectal Cancer Group.

O estudo CAIRO5 avaliou o tratamento de primeira linha com quimioterapia dupla (FOLFOX/FOLFIRI) ou tripla (FOLFOXIRI) associados a bevacizumabe em pacientes com câncer colorretal metastático exclusivamente para fígado, com doença caracterizada como primariamente irressecável, e tumores primários originados do cólon direito e/ou com mutação de RAS/BRAF V600E. A ressecabilidade era reavaliada por um painel de especialistas a cada 2 meses, e caso viável, o tratamento das metástases hepáticas era empregado (permitido o emprego de diferentes técnicas como ablação, cirurgia em 2 tempos e embolização portal). O regime de quimioterapia tripla reduziu em 23% o risco de progressão de doença ou morte (HR=0,77; IC de 95%: 0,60-0,99; p=0,038), objetivo primário do estudo. A taxa de resposta foi também superior no braço de quimioterapia tripla (52,5% versus 33,3%; p<0,001), bem como a taxa de ressecção R0/1 (51% versus 37%; p=0,02). Entretanto, houve uma maior taxa de eventos adversos no braço da quimioterapia tripla, destacando-se principalmente neutropenia e diarreia, além de incluir 2 óbitos (1,4%).

 

Abstract 4026

Choice of PD-L1 immunohistochemistry assay influences clinical eligibility for gastric cancer immunotherapy.

Apresentado em formato de pôster, este estudo comparou a análise de expressão de PDL-1 em tumores gástricos utilizando os anticorpos 22C3 e 28-8, utilizados, respectivamente, nos estudos que avaliaram o uso de pembrolizumabe ou de nivolumabe tratamento desta doença no cenário metastático. Como resultados, os autores demonstraram que o percentual de pacientes com resultado positivo foi maior na testagem como anticorpo 28-8 em todos os pontos de corte avaliados: CPS ≥ 1 (70,3% versus 49,4%), CPS ≥ 5 (29,1% versus 13,4%) e CPS ≥ 10 (13,7% versus 7,0%). Em uma análise adicional, a expressão média de PDL-1 foi 6,39 muts/Mb com o anticorpo 28-8, 3,46 muts/Mb com o anticorpo 22C3 e 4,08 muts/Mb com o anticorpo SP142.

 

CÂNCER DE PULMÃO

Abstract 8502

Intraoperative quality metrics and association with survival following lung cancer resection.

Os autores deste estudo buscaram desenvolver um escore de qualidade cirúrgica em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) em estádio I submetidos a tratamento cirúrgico definitivo utilizando o banco de dados dos Veteranos e posteriormente validados com em uma coorte do National Cancer Database (NCDB). Os critérios utilizados para o desenvolvimento do escore foram: tempo do diagnóstico até a cirurgia (> ou ≤ 12 semanas), via de abordagem (aberta ou minimamente invasiva), extensão da ressecção (cunha, lobectomia, segmentectomia ou pneumonectomia), adequação na amostragem linfonodal (0, 1-4, 5-9 ou ≥ 10 linfonodos) e as margens cirúrgicas (R1+ ou R0). A validação do escore desenvolvido na coorte do NCDB demonstrou adequada estratificação na sobrevida global dos pacientes. Estes dados reforçam a relevância da padronização de tratamento cirúrgico em pacientes com CPCNP mesmo em estádio inicial.

 

Abstract 9002

KRYSTAL-1: Activity and safety of adagrasib (MRTX849) in patients with advanced/metastatic non–small cell lung cancer (NSCLC) harboring a KRASG12C mutation.

Estudo avaliando o uso de adagrasibe em pacientes com CPCNP metastático com mutação de KRAS G12C após progressão a um inibidor de checkpoint e quimioterapia. Dentre os 112 pacientes incluídos, a taxa de resposta foi 43%, com taxa de controle de doença de 80% e duração mediana de resposta de 8,5 meses. Foi permitida a inclusão de pacientes com lesões no sistema nervoso central estáveis tratadas, sendo a taxa de resposta intracraniana 33%, com 85% dos pacientes apresentando controle de doença intracraniana. A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 43%, destacando-se como os principais eventos adversos diarreia, náuseas, vômito, fadiga e elevação de transaminases. Os resultados do estudo foram simultaneamente publicados no New England Journal of Medicine. Um estudo confirmatório de fase III está em andamento comparando adagrasibe a docetaxel neste cenário.

 

Abstract 9004

Overall survival from a phase II randomized study of ramucirumab plus pembrolizumab versus standard of care for advanced non–small cell lung cancer previously treated with immunotherapy: Lung-MAP nonmatched substudy S1800A.

Neste interessante estudo de fase II, a estratégia de manutenção de uma imunoterapia (pembrolizumabe) em associação a um agente anti-angiogênico (ramucirumbe) foi explorada em pacientes com CPCNP metastático apresentado progressão de doença após tratamento com quimioterapia e imunoterapia, combinados ou sequencialmente. Os 130 pacientes incluídos foram randomizados a uma razão 1:1 entre quimioterapia à escolha do investigado (docetaxel + ramucirumabe, docetaxel, gencitabina ou pemetrexede) ou a combinação de pembrolizumabe + ramucirumabe. A população incluída contemplava cerca de um quinto dos pacientes com alta expressão de PDL-1 (25% e 19% nos braços controle e experimental, respectivamente). Na avaliação da carga mutacional tumoral (TMB), a média foi 7,6 muts/Mb no braço controle com 40% dos pacientes apresentando TMB ≥ 10 muts/Mb enquanto a média foi 10,1 muts/Mb no braço experimental e 51% dos pacientes apresentando TMB ≥ 10 muts/Mb. A sobrevida global, objetivo primário do estudo, demonstrou benefício no tratamento com pembrolizumabe e ramucirumabe (HR=0,69; IC de 80%: 0,51-0,92; p=0,05), com medianas de 14,5 versus 11,6 meses. A taxa de resposta foi 22% no braço experimental com duração mediana de resposta de 12,9 meses, enquanto a resposta no braço controle foi 28% com duração mediana de 5,6 meses.  A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 42% versus 60% nos braços experimental e controle, respectivamente. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology.

 

CÂNCER GENITURINÁRIO

Abstract 4508

Final clinical results of pivotal trial of IL-15RαFc superagonist N-803 with BCG in BCG-unresponsive CIS and papillary nonmuscle-invasive bladder cancer (NMIBC).

Na ASCO 2022 foram apresentados os dados do estudo de fase II/III QUILT 3032 que avaliou o superagonista de IL-15RαFC N-803 em combinação a BCG no tratamento do câncer de bexiga não-músculo invasor não responsivo à BCG. Dentre a avaliação de segurança, a grande maioria dos eventos adversos foram locais, sem eventos adversos relacionados ao tratamento de graus ≥ 4. Na coorte de pacientes com presença de componente in situ, a taxa de resposta completa foi 71%, com duração mediana de resposta de 26,6 meses. Com o seguimento mediano de 23,9 meses, a taxa de cistectomia foi 16%, sendo apenas 9% nos respondedores. Na coorte de pacientes com doença exclusivamente papilífera, a sobrevida mediana livre de doença foi 19,3 meses, com 94% dos pacientes livres de cistectomia no seguimento mediano de 20,7 meses. Estes resultados motivaram a submissão da droga para aprovação regulatória nos Estados Unidos.

 

CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO

Abstract 6003

Results of phase 3 randomized trial for use of docetaxel as a radiosensitizer in patients with head and neck cancer unsuitable for cisplatin-based chemoradiation.

Neste estudo de fase III indiano, os autores investigaram o uso de docetaxel semanal em combinação a radioterapia para o tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado não candidatos a tratamento com cisplatina. Os critérios para inelegibilidade a cisplatina foram definidos como: avaliação de performance por ECOG 2, disfunção orgânica auditiva ≥ 2 pelo CTCAE (incluindo perda auditiva, tinnitus, alteração neurológica), hipersensibilidade a cisplatina, clearance de creatinina calculado < 50 mL/min, comorbidades ou disfunção orgânica que impediam o uso de cisplatina, perda ponderal > 10% do peso habitual nos últimos 6 meses, desnutrição (IMC < 16 kg/m2) e uso concomitante de drogas nefrotóxicas. No total, 356 pacientes foram randomizados entre radioterapia isolada ou combinada a docetaxel 15 mg/m2 semanal. A população compreendia em sua maioria pacientes com tumores primários de cavidade oral e orofaringe (cerca de 65%), possuíam comprometimento linfonodal volumoso (60% N2-N3), menos de 5% daqueles com tumores de orofaringe eram HPV positivo e o tratamento tinha intuito definitivo em cerca de 60% dos casos, enquanto 40% receberam o regime no contexto adjuvante. Os principais critérios que tornaram os pacientes do estudo não candidatos a tratamento com cisplatina foram a perda auditiva sensorial de grau ≥ 2 e o performance ECOG 2. Merece destaque também que cerca de 80% dos pacientes foram tratados com radioterapia utilizando técnica por 2D e apenas 20% utilizaram IMRT. A adesão ao tratamento radiossensibilizante foi boa, com 85,6% dos pacientes recebendo ≥ 5 ciclos de docetaxel, e as principais toxicidades que se apresentaram em maior frequência no grupo da quimioterapia foram mucosite, odinofagia, disfagia e perda ponderal. Na avaliação de eficácia, o uso de docexatel demonstrou benefício em sobrevida livre de doença (HR=0,67; IC de 95%: 0,51-0,87; p=0,002) e sobrevida global (HR=0,75; IC de 95%: 0,57-0,98; p=0,035) em comparação ao uso de radioterapia isolada, além de estar associado a menor redução na qualidade de vida.

 

CÂNCER GINECOLÓGICO

Abstract LBA5500

ATHENA–MONO (GOG-3020/ENGOT-ov45): A randomized, double-blind, phase 3 trial evaluating rucaparib monotherapy versus placebo as maintenance treatment following response to first-line platinum-based chemotherapy in ovarian cancer.

O estudo ATHENA-MONO avalia o uso de rucaparibe e nivolumabe como monoterapia ou combinados no tratamento de manutenção do câncer epitelial de ovário avançado. A análise apresentada na ASCO 2022 e publicada no Journal of Clinical Oncology se refere à comparação do uso de rucaparibe a placebo neste cenário. Dentre a população avaliada, cerca de metade das pacientes havia recebido cirurgia primária, aproximadamente um quarto possuía doença residual após a quimioterapia, e cerca de 40% apresentavam status positivo para deficiência de recombinação homóloga (metade com mutação de BRCA e metade com alta perda de heterozigose). O estudo atingiu seu objetivo primário, demonstrando benefício em favor de rucaparibe na sobrevida livre de progressão na população com deficiência de recombinação homóloga (HR=0,47; IC de 95%: 0,31-0,72; p=0,0004), bem como na população global (HR=0,52; IC de 95%: 0,40-0,68; p<0,0001). Em análise exploratória, o benefício foi consistente na população com mutação de BRCA (HR=0,40; IC de 95%: 0,21-0,75), com alta perda de heterozigose (HR=0,58; IC de 95%: 0,33-1,01) e na população sem deficiência de recombinação homóloga (HR=0,65; IC de 95%: 0,45-0,95). A taxa de resposta no braço tratado com o inibidor da PARP foi 58,8% naquelas com deficiência de recombinação homóloga e 48,8% na população global. A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 no braço do inibidor da PARP foi 60,5%, destacando-se náuseas, fadiga, anemia e elevação de transaminases com aqueles apresentados em maior frequência.

 

Abstract 5502

Bevacizumab in first-line chemotherapy to improve the survival outcome for advanced ovarian clear cell carcinoma: A multicenter, retrospective analysis.

Estudo japonês retrospectivo avaliando o uso de bevacizumabe no tratamento do câncer de ovário avançado (estádios III e IV) do subtipo células claras. Foram incluídos 182 pacientes tratados entre 2008 e 2018 em oito centros japoneses, sendo que 78 pacientes receberam bevacizumabe como parte do tratamento. A maior parte das pacientes recebeu cirurgia primária, sendo que pouco mais da metade apresentou ressecção completa, e o esquema quimioterápico mais frequentemente utilizado foi paclitaxel e carboplatina a cada 3 semanas no braço sem bevacizumabe, enquanto as drogas foram administradas semanalmente em maior frequência no braço tratado com bevacizumabe (p<0,001). O uso do agente anti-angiogênico sugeriu benefício em sobrevida livre de progressão (p=0,023) e sobrevida global (p=0,027). Na análise multivariada, o estado de performance, o uso de bevacizumabe e a presença de doença residual após a cirurgia demonstraram significância estatística para sobrevida livre de progressão e sobrevida global. Apesar de ser um estudo retrospectivo, os resultados são de interesse por se tratar de doença rara e com carência de estudos neste cenário.

 

MELANOMA E SARCOMA

Abstract LBA2

Phase III assessment of topotecan and cyclophosphamide and high-dose ifosfamide in rEECur: An international randomized controlled trial of chemotherapy for the treatment of recurrent and primary refractory Ewing sarcoma (RR-ES).

O estudo rEECur, apresentado em sessão plenária, avaliou o tratamento do sarcoma de Ewing recidivado ou primariamente refratário utilizando diferentes regimes quimioterápicos em uma plataforma de multi-braços e multi-estágios, sendo determinados os regimes de topotecano + ciclofosfamida e ifosfamida em altas doses como aqueles avaliados na fase III do estudo. A sobrevida livre de eventos, objetivo principal do estudo, foi 5,7 meses no braço ifosfamida e 3,5 meses no braço da combinação (HR=0,73; IC de 95%: 0,51-1,05). Já na avaliação da sobrevida global, o braço de ifosfamida atingiu mediana de 15,4 meses, enquanto o braço de topotecano + ciclofosfamida atingiu 10,5 meses (HR=0,73; IC de 95%: 0,50-1,08). Destaca-se que a taxa de sobrevida em 1 ano foi 55% no braço ifosfamida e 45% no braço da combinação. A avaliação baseada por faixa etária sugere uma maior magnitude de benefício em favor de ifosfamida nos pacientes com idade ≤ 14 anos. A taxa de eventos adversos foi superior no braço de ifosfamida, destacando-se 8% de toxicidades neurológicas e 8% de desordens renais e urinárias.

 

Abstract LBA11501

Randomized phase II study of neoadjuvant checkpoint blockade for surgically resectable undifferentiated pleomorphic sarcoma (UPS) and dedifferentiated liposarcoma (DDLPS): Survival results after 2 years of follow-up and intratumoral B-cell receptor (BCR) correlates.

Estudo randomizado de fase II avaliando o uso de imunoterapia como tratamento neoadjuvante para o lipossarcoma desdiferenciado e o sarcoma pleomórfico indiferenciado. Especificamente no caso do sarcoma pleomórfico indiferenciado, o tratamento com imunoterapia neoadjuvante combinado a radioterapia demonstrou taxa de hialinização de 89%, além de resultar em uma taxa de sobrevida livre de progressão aos 2 anos de 70% e taxa de sobrevida global aos 2 anos de 90%. Especificamente no grupo de pacientes que recebeu a combinação de nivolumabe + ipilimumabe seguido de nivolumabe + radioterapia, a taxa de sobrevida livre de progressão e de sobrevida global aos 2 anos foram 100%.

 

Abstract 9501

Survival data of PRADO: A phase 2 study of personalized response-driven surgery and adjuvant therapy after neoadjuvant ipilimumab (IPI) and nivolumab (NIVO) in resectable stage III melanoma.

O estudo PRADO abordou o tratamento do melanoma pautado na resposta à imunoterapia neoadjuvante de uma maneira bastante interessante. A apresentação na ASCO 2022 trouxe os dados de sobrevida do estudo. De uma maneira suscinta, os pacientes incluídos no estudo possuíam doença estádios IIIB-IIIC e eram submetidos a clipagem de linfonodo índice. Na sequência receberiam 2 ciclos de nivolumabe 1 mg/kg + ipilimumabe 3 mg/kg de maneira neoadjuvante e o linfonodo índice era ressecado. Caso houvesse resposta patológica maior, considerada como resposta completa ou quase completa (≤ 10% de células viáveis), o paciente iniciaria o seguimento; caso a resposta patológica fosse parcial (11-50% de células viáveis), era realizada a dissecção linfonodal total e então era iniciado o seguimento; no caso de ausência de resposta patológica (> 50% de células viáveis), o paciente recebia a dissecção linfonodal total e receberia nivolumabe ou dabrafenibe + trametinibe (se BRAF mutado) adjuvantes, podendo ser empregada também radioterapia adjuvante, antes do início do seguimento. A taxa de resposta patológica ao tratamento neoadjuvante foi 72%, com 61% de respostas patológicas maiores, sendo 49% respostas completas. Nos pacientes com resposta patológica maior, a taxa de sobrevida livre de recidiva (SLR) e sobrevida livre de metástases a distância (SLMD) aos 2 anos foram 93% e 98%, respectivamente. Naqueles com resposta parcial, as mesmas taxas aos 2 anos foram 64% e 64%, respectivamente. Já os pacientes com ausência de resposta patológica tiveram taxa de SLR aos 2 anos de 71% e SLMD aos 2 anos de 76%. Os dados demonstram os desfechos favoráveis ao poupar pacientes com boa resposta ao tratamento neoadjuvante de tratamentos mais agressivos, além de demonstrar a importância de tratamentos adjuvantes no caso de ausência de resposta completa. Os resultados foram publicados no periódico Nature Medicine.

 

Abstract 9508

A phase II clinical trial of camrelizumab (CAM, an IgG4 antibody against PD-1) combined with apatinib (APA, a VEGFR-2 tyrosine kinase inhibitor) and temozolomide (TMZ) as the first-line treatment for patients (pts) with advanced acral melanoma (AM).

Neste estudo de fase II chinês, pacientes com melanoma acral estádio III irressecável ou metastáticos sem mutação de BRAF V600 receberam tratamento de primeira linha com a combinação de camrelizumabe + apatinibe + temozolamida. A taxa de resposta dentre os 48 pacientes avaliados foi 66,7%, com 91,7% dos pacientes apresentando controle de doença. A sobrevida livre de progressão mediana foi 18,4 meses, enquanto a taxa de sobrevida global aos 12 meses foi 91,6%, com mediana ainda não alcançada. A taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi 62%, com 26% dos pacientes necessitando redução de doses.

 

TUMORES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Abstract 2000

Phase II randomized study comparing proton craniospinal irradiation with photon involved-field radiotherapy for patients with solid tumor leptomeningeal metastasis.

Estudo de fase II avaliando o uso de radioterapia com prótons em comparação ao uso de fótons no tratamento de pacientes com tumores sólidos apresentando metástases leptomeníngeas. Foram randomizados 63 pacientes, sendo a principal histologia primária o CPCNP (57%) e cerca de 70% dos casos apresentavam também lesões metastáticas cerebrais. Com seguimento mediano de 9,3 meses, o tratamento do neuroeixo com prótons se traduziu em benefício na sobrevida livre de progressão (p<0,001), além de benefício em sobrevida livre de progressão no sistema nervoso central (p<0,0001) e na sobrevida global (p=0,029) quando comparado ao uso de fótons.

 

Abstract LBA2002

Primary analysis of a phase II trial of dabrafenib plus trametinib (dab + tram) in BRAF V600–mutant pediatric low-grade glioma (pLGG).

Abstract 2009

Dabrafenib + trametinib (dab + tram) in relapsed/refractory (r/r) BRAF V600–mutant pediatric high-grade glioma (pHGG): Primary analysis of a phase II trial.

Análises de duas diferentes coortes avaliando o uso de dabrafenibe e trametinibe no tratamento de pacientes pediátricos com gliomas apresentando mutação de BRAF V600 foram apresentadas na ASCO 2022. Na coorte de gliomas de baixo grau, 110 pacientes foram randomizados entre tratamento de primeira linha com a combinação dos inibidores de BRAF e MEK ou quimioterapia com carboplatina e vincristina. O uso da terapia alvo foi associado a maior taxa de resposta (47% versus 11%) e maior taxa de controle de doença (86% versus 46%), além de redução de 69% no risco de progressão de doença ou morte (HR=0,31-IC de 95%: 0,17-0,55; p<0,001). Na avaliação dos gliomas de alto grau refratários ou recidivados, apresentada em pôster, os dados de eficácia da combinação de dabrafenibe e trametinibe novamente se destacam, com taxa de resposta de 56,1%, taxa de controle de doença de 65,9% e duração mediana de resposta de 22,2 meses.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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