Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Diversos

Novidades no tratamento de tumores gastrointestinais no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida.

 

Entre os dias 18 e 20 de janeiro de 2018, foi realizado em São Francisco, EUA, o congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) com apresentação de trabalhos relativos ao tratamento dos tumores do trato gastrointestinal.

Dentre os diversos trabalhos apresentados neste congresso, seguem os de maior destaque:

 

Câncer colorretal:

            – Abstracts #553 e #554: o estudo CheckMate-142, que avaliou o tratamento com imunoterapia no câncer colorretal metastático em pacientes portadores de deficiência dos genes de reparo do DNA (dMMR/MSI-H) e apresentou dados interessantes em 2 diferentes subgrupos populacionais.

No abstract #554, foram atualizados os dados do tratamento com o anticorpo monoclonal nivolumabe em pacientes que já falharam a esquemas contendo 5-fluorouracil, oxaliplatina e irinotecano. Com seguimento mediano de 21 meses, foi evidenciada taxa de resposta de 34% e resposta completa de 9%. Esta atualização dos dados destaca-se principalmente pelo aumento na taxa de resposta completa com o maior tempo de seguimento (nos dados previamente publicados, a taxa de resposta completa era de 3%).

Já no abstract #553, a coorte de 119 pacientes, sendo 76% deles com pelo menos duas linhas de tratamento, recebeu a combinação dos anticorpos monoclonais ipilimumabe e nivolumabe e demonstrou taxa de resposta de 55% e taxa de controle de doença de 80% no seguimento mediano de 13,4 meses.

– Abstract #556: neste estudo prospectivo, foi avaliado o papel da pesquisa de células tumorais circulantes para o rastreamento de câncer colorretal. Através da análise de amostras de sangue periférico de 630 pacientes, o teste atingiu acurácia de 88% no diagnóstico de tumores colorretais, inclusive detectando lesões pré-malignas.

 

Câncer gástrico:

– Abstract #5: o estudo de fase III RAINFALL avaliou o tratamento de primeira linha em pacientes com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica metastáticos. Foram randomizados 645 pacientes para tratamento com a combinação de cisplatina + capecitabina (ou 5-fluorouracil) associados ou não ao anticorpo monoclonal anti-VEGFR2 ramucirumabe. O trabalho atingiu seu objetivo primário, com benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão (HR 0,75; IC 95% 0,61-0,94;p=0,011), entretanto não houve benefício de sobrevida global.

 

Carcinoma hepatocelular:

– Abstract #207: o estudo de fase III CELESTIAL avaliou pacientes com carcinoma hepatocelular que falharam a tratamento prévio com sorafenibe. Foram randomizados 707 pacientes para tratamento com o inibidor de tirosina quinase cabozantinibe ou placebo. O estudo atingiu o seu objetivo primário com benefício estatisticamente significativo em sobrevida global, levando a uma redução no risco de morte de 24% para os pacientes tratados com cabozantinibe (HR 0,76; IC 95% 0,63-0,92;p=0,0049). Baseado nos dados deste trabalho, ainda no primeiro semestre de 2018 deverá ser submetido o pedido de aprovação do cabozantinibe para tratamento do carcinoma hepatocelular junto à agência regulatória norte-americana (FDA).

– Abstract #209: o estudo de fase II KEYNOTE-224 avaliou o uso de pembrolizumabe no tratamento de pacientes com carcinoma hepatocelular que falharam a tratamento prévio com sorafenibe. Entre os 104 pacientes incluídos no estudo, foi observada uma taxa de resposta de 16,3% e uma sobrevida livre de progressão mediana de 4,8 meses. A mediana de sobrevida global ainda não foi alcançada. Entre os doentes que apresentaram alguma resposta, o benefício demonstrou-se duradouro, com 94% deles apresentando duração de resposta por período igual ou maior a seis meses.

– Abstract #206: o estudo fase II TACTICS randomizou 156 pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável para tratamento com sorafenibe associado ou não a  quimioembolização transarterial (TACE). Ainda com dados imaturos em relação à sobrevida global, este estudo demonstrou ganho da ordem de 11,7 meses em sobrevida livre de progressão no tratamento combinado de sorafenibe + TACE (13,5 vs 25,2 meses com HR 0,59; IC 95% 0,41-0,87; p=0,006), sem efeito deletério em relação a toxicidades.

 

Câncer de pâncreas:

– Abstract #204: o estudo fase II LAPACT avaliou 107 pacientes com câncer de pâncreas localmente avançado irressecável para tratamento com a combinação de nab-paclitaxel associado a gencitabina. Os dados do estudo demonstram a efetividade da combinação de drogas, com taxa de resposta de 35% e taxa de controle de doença de 78%. A sobrevida livre de progressão mediana atingida foi de 10,2 meses.

Segundo o Dr. Fabio Kater, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, “os dados apresentados do uso de imunoterapia nos tumores colorretais com instabilidade de microssatélite trazem uma nova perspectiva de tratamento aos pacientes já refratários a múltiplos esquemas de quimioterapia, além de trazer consigo a expectativa de um controle de doença duradouro, dados estes que ainda necessitam de confirmação em estudo fase III e com maior período de seguimento. De outro lado, as opções de tratamento do carcinoma hepatocelular podem ser rediscutidas em futuro próximo. A incorporação da imunoterapia, que parece ser bastante ativa nesse tipo de tumor, ainda não tem sequência definida em relação ao que temos de evidência de literatura. Sobre a incorporação de tratamento sistêmico ao TACE, permanece uma questão em aberto, já que outros estudos maiores não demonstraram tamanho benefício e maior toxicidade da combinação. Por ora, aguardamos a aprovação do cabozantinibe para o tratamento dos pacientes com carcinoma hepatocelular que falharam à sorafenibe junto ao FDA. Novas combinações de quimioterapia têm sido testadas em câncer de pâncreas localmente avançado, e gencitabina + nab-paclitaxel se mostrou ativa. Entretanto, apenas uma pequena proporção dos pacientes tratados tornaram-se ressecáveis (15%) e desses, menor proporção conseguiu uma cirurgia R0 (6,5%), mostrando que ainda necessitamos de esforços para melhores resultados nessa doença”.

 

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