Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mieloma Múltiplo

Novo ADC é aprovado para o tratamento do mieloma múltiplo no Brasil e nos EUA

Em decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi aprovado no Brasil, em 14 de outubro de 2025, o uso de belantamabe mafodotina para o tratamento de pacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário. A indicação contempla o uso do fármaco em combinação com bortezomibe e dexametasona (BVd) ou com pomalidomida e dexametasona (BPd), desde que o paciente tenha recebido pelo menos uma linha de tratamento anterior, sendo obrigatória a exposição prévia à lenalidomida no caso da combinação com BPd.

No mesmo mês, em 23 de outubro de 2025, o FDA (Food and Drug Administration) também aprovou o uso de belantamabe mafodotina em combinação com bortezomibe e dexametasona, para o tratamento de pacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário que tenham recebido pelo menos duas linhas prévias de tratamento, incluindo um inibidor de proteassoma e um agente imunomodulador.

As aprovações se baseiam nos estudos de fase III DREAMM-7 e DREAMM-8. No DREAMM-7, que avaliou 494 pacientes, o braço BVd (n=243) apresentou idade mediana de 65 anos, com 50% dos pacientes com ECOG 0 e 35% com idade entre 65 e 74 anos, 53% eram homens e 85% brancos. A maioria estava em estágio R-ISS II (53%) e 28% apresentavam risco alto citogenético. A mediana foi de uma linha de tratamento prévia, com 90% tendo recebido inibidores de proteassoma, 81% imunomoduladores e 67% transplante autólogo de células-tronco. A proporção de refratariedade foi de 9% para inibidores de proteassoma e 39% para imunomoduladores. O estudo demonstrou aumento de sobrevida livre de progressão (36,6 versus 13,4 meses) e redução de 59% no risco de progressão ou morte (HR=0,41; IC de 95%: 0,31-0,53; p<0,001) frente ao regime com daratumumabe (DVd), além de benefício estatisticamente significativo em sobrevida global (HR=0,58; IC de 95%: 0,43-0,79; p=0,0002). Eventos adversos oculares foram reportados em 79% dos pacientes no grupo BVd, com descontinuação do tratamento em 28% dos casos.

Já o estudo DREAMM-8 incluiu 302 pacientes, sendo 155 no braço BPd. A idade mediana foi de 67 anos, com 46% dos pacientes entre 65 e 74 anos e 12% com 75 anos ou mais, 64% eram homens e 86% brancos. O estágio ISS mais frequente foi o I (60%) e 34% dos pacientes tinham risco alto citogenético. O número mediano de linhas de tratamento prévias foi um, e 100% dos pacientes já haviam sido tratados com imunomoduladores, 90% com inibidores de proteassoma, 25% com anticorpos anti-CD38 e 64% com transplante autólogo de células-tronco. Refratariedade foi observada em 82% para imunomoduladores, 26% para inibidores de proteassoma e 23% para anti-CD38. O regime BPd demonstrou mediana de sobrevida livre de progressão de 32,6 meses frente a 12,5 meses com PVd, com redução de 51% no risco de progressão ou morte (HR=0,49; IC de 95%: 0,35-0,68). A taxa de descontinuação por eventos adversos foi de 15%, e 89% dos pacientes relataram toxicidade ocular, geralmente manejável com ajustes de dose.

Belantamabe mafodotina é administrado por infusão intravenosa, com posologia variável conforme o esquema de combinação: a cada três semanas quando em associação com bortezomibe e dexametasona, e a cada quatro semanas quando usado com pomalidomida e dexametasona. O agente combina um anticorpo monoclonal direcionado ao antígeno de maturação de células B (BCMA) com uma carga citotóxica (MMAF), promovendo destruição seletiva das células malignas.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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