Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Leucemias

ANVISA aprova o primeiro CAR-T indicado para o tratamento de neoplasias hematológicas no Brasil

A terapia gênica baseada em células T de receptores de antígenos quiméricos (células CAR-T) representa uma geração inovadora de tratamento imunoterápico realizado através da coleta e modificação genética dos linfócitos T do próprio paciente e posterior reinfusão através de uma suspensão farmacêutica.

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em 23 de fevereiro de 2022 o primeiro registro de um produto dessa classe, tisagenleucel, para o tratamento de pacientes pediátricos e adultos jovens (≤ 25 anos) com leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B refratária ou a partir da segunda recidiva e também para pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) recidivado ou refratário após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.

Os dados que foram analisados na aprovação da terapia no cenário da LLA de células B resultaram da avaliação de 203 pacientes incluídos em um estudo principal (B2202, N=79) e dois estudos complementares (B2205J, N=64 e B2101J, N=60) de fase I e II. O estudo principal B2202 (ELIANA) incluiu 97 pacientes, dentre os quais 79 receberam o tratamento com tisagenleucel. A taxa de remissão global, que inclui melhor resposta global como remissão completa (RC) ou remissão completa com recuperação incompleta da contagem sanguínea (RCi), foi de 82,3% entre os pacientes que receberam a infusão da medicação. A duração da remissão foi ≥ 18 meses em 66,3% dos pacientes com o benefício. O estudo de suporte B2205J (ENSIGN) teve um desenho semelhante ao estudo principal B2202 e incluiu 75 pacientes. O desfecho de eficácia principal também foi a taxa de remissão global, a qual foi alcançada em 70,3% dos pacientes. A mediana de duração de remissão não foi atingida, porém foi ≥ 12 meses em 70,5% dos respondedores. A sobrevida global mediana foi de 29,9 meses com taxa de sobrevida global ≥ 24 meses de 57,6%.

Já no tratamento do LDGCB, foram avaliados os dados do estudo de fase II C2201 (JULIET), que incluiu 167 pacientes, dos quais 115 receberam tisagenleucel. O desfecho principal foi a taxa de resposta global, que incluiu resposta completa e reposta parcial conforme a Classificação de Lugano. Dentre os pacientes que receberam o tratamento, a taxa de resposta global foi de 54,5%, com 41,4% de respostas completas, e 60,8% apresentaram duração de resposta global ≥ 30 meses.

Devido à complexidade do tratamento, que inclui a coleta de células autólogas, exportação do produto para os Estados Unidos e retorno para o tratamento em hospitais específicos, medidas específicas de treinamento, qualificação e monitorização do tratamento foram acordadas entre a ANVISA e a Novartis®, farmacêutica detentora do registro.

A primeira aprovação de CAR-T pela ANVISA representa um grande avanço principalmente nas neoplasias de origem linfóide, dentre elas a LLA, que acomete principalmente as crianças, e os linfomas difusos de grandes células B na população adulta. Vale ressaltar que essa terapia celular foi avaliada em estudos de registro desenhados há 5 anos e que incluíram populações já muito refratárias a tratamentos convencionais, como quimioterapias e até transplantes de medula óssea – alguns pacientes com progressão até a 5 ou mais linhas de tratamento. Desta maneira, é notável a eficácia a longo prazo com uma única infusão dessas células modificadas na LLA, onde têm sido observadas sobrevidas livres de progressão de longa duração em cerca de 60% dos pacientes, e também nos linfomas, onde este desfecho fica em torno de 40%. Fica claro que essa terapia celular pode funcionar quando os tratamentos convencionais já não são mais efetivos. A aprovação no Brasil ainda requer uma precificação e essa modalidade de tratamento será restrita a apenas cerca de 4-5 centros do país devido à sua alta complexidade, dentre os quais se inclui a Beneficência Portuguesa de São Paulo. Em conclusão, essa modalidade representa um importante avanço, principalmente para os pacientes nos quais os tratamentos convencionais como quimioterapia ou transplante não conseguem controlar ou erradicar a doença”, comenta o Dr. Phillip Scheinberg, chefe da divisão de Hematologia Clínica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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