Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Mama

Abemaciclibe é aprovado para o tratamento adjuvante do câncer de mama inicial no Brasil

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em 09 de agosto de 2021 o uso do inibidor de ciclina 4/6 (iCDK4/6) abemaciclibe para o tratamento adjuvante do câncer de mama localizado com receptores hormonais positivos (RH positivo) e HER-2 negativo de  risco alto após cirurgia com intuito curativo. Trata-se do primeiro inibidor iCDK4/6 a receber aprovação nesse contexto.

O parecer favorável da agência é baseado nos dados do estudo de fase III monarchE, que randomizou 5.637 pacientes entre hormonioterapia padrão ou associada a abemaciclibe por 2 anos no tratamento adjuvante do câncer de mama RH positivo e HER-2 negativo de risco alto, após tratamento cirúrgico e/ou quimioterapia (neo ou adjuvante). Quimioterapia era administrada conforme indicação clínica. Foram considerados tumores de  risco alto aqueles com 1 a 3 linfonodos comprometidos apresentando tamanho ≥ 5 cm ou grau histológico 3 ou Ki-67 ≥ 20%, bem como aqueles com ≥ 4 linfonodos comprometidos, independente de outras características patológicas. O objetivo primário do estudo foi a sobrevida livre de doença invasiva (SLDI), desfecho que incorpora câncer de mama invasivo ipsilateral, recidiva de câncer de mama invasivo local ou regional, câncer de mama invasivo contralateral, segundo tumor primário invasivo não-câncer de mama, recidiva à distância ou morte por qualquer causa.

Com um seguimento mediano de 15,5 meses, o estudo atingiu seu objetivo primário, com benefício em SLDI em favor do braço abemaciclibe (HR=0,75; IC de 95%: 0,60-0,93; p=0,01). A taxa de SLDI aos 2 anos foi 92,2% versus 88,7% nos braços abemaciclibe e controle, respectivamente. Adicionalmente, o uso de abemaciclibe também demonstrou benefício em sobrevida livre de recidiva à distância (HR=0,72; IC de 95%:0,56-0,92; p=0,01), com taxas de 93,6% versus 90,3% para os braços abemaciclibe e controle aos 2 anos, respectivamente. Os dados referentes à análise de sobrevida global ainda são imaturos. Na avaliação de segurança, a taxa de eventos adversos de graus ≥ 3 foi de 45,9% no braço abemaciclibe e 12,9% no braço controle, destacando-se diarreia, neutropenia e fadiga como as toxicidades mais prevalentes nas pacientes que receberam o tratamento associado. A taxa de descontinuação do iCDK4/6 por eventos adversos foi de 16,6%.

A Dra. Debora Gagliato, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta: “No estudo monarchE, abemaciclibe foi capaz de contribuir substancialmente para reduzir risco de eventos em uma população considerada verdadeiramente de altíssimo risco de recidiva, em que os eventos invasivos e à distância já estão ocorrendo muito precocemente ao longo do follow-up. De importância, duas recentes subanálises do estudo enriquecem o conhecimento da atividade do abemaciclibe na prática clínica. Em apresentação realizada no San Antonio Breast Cancer Symposium 2020, o acréscimo de abemaciclibe à terapia endócrina reduziu o risco de recidiva irrespectivamente ao índice de Ki-67. No entanto, entre os 2.498 participantes do estudo com níveis elevados de Ki-67 (≥ 20%), a adição de abemaciclibe foi associada à redução de maior magnitude no risco de doença invasiva. Nesse grupo, as taxas de SLDI em 2 anos foram de 91,6% e 87,1%, com abemaciclibe e placebo, respectivamente. Além disso, em apresentação recente na ASCO de 2021, pacientes alocados para receber quimioterapia neoadjuvante a critério do investigador, que em geral possuíam características anatomopatológicas de maior risco, o acréscimo de abemaciclibe foi associado a uma importante redução no risco de recidiva invasiva, com benefício relativo de aproximadamente 40%, e redução absoluta do risco de recidiva de 6,6%, um impacto maior do que aquele demonstrado na população global do estudo”.

Certamente um maior tempo de follow-up é essencial, uma vez que o tempo de seguimento atual ainda é muito curto. De fato, o grande questionamento é se as curvas de SLDI poderão se cruzar após suspensão dos 2 anos de abemaciclibe adjuvante e com um tempo de seguimento mais prolongado. Aguardamos também os dados de sobrevida global. Não obstante, a aprovação de abemaciclibe para pacientes com câncer de mama localizado RH positivo e HER-2 negativo portadoras de risco alto de recidiva, é um marco histórico, com claro impacto na redução do risco de recidiva em pacientes com características anatomopatológicas desfavoráveis, apresentando um claro e relevante benefício mesmo com um seguimento clínico precoce”, conclui Dra. Debora.

Por Dr. Daniel Vargas P. de Almeida

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