Editores da série MOC: Antonio Carlos Buzaid - Fernando Cotait Maluf - Carlos H. Barrios

Editor-convidado: Caio Max S. Rocha Lima

Linfomas

RESORT Trial: Rituximabe de manutenção ou retratamento nos linfomas foliculares de baixo grau

Em recente publicação no Journal of Clinical Oncology, Kahl e colaboradores apresentaram os resultados do estudo EGOG E4402, que comparou duas estratégias de pós-indução com rituximabe semanal em linfoma folicular. Este estudo avaliou 408 pacientes com linfoma folicular com volume baixo de doença e virgens de tratamento. Todos os pacientes receberam quatro doses semanais de rituximabe em 375 mg/m² (indução), sendo que, aqueles que obtiveram resposta parcial ou completa na semana 13 (n=289) foram randomizados (1:1) em dois grupos, terapia de manutenção com rituximabe (n=146) ou retratamento (n=143) na progressão. A terapia de manutenção consistiu em uma única dose de rituximabe a cada 3 meses até a falha do tratamento; no grupo do retratamento,  o rituximabe foi administrado semanal (esquema igual ao da indução) após cada progressão de doença até a falha do tratamento.

O desfecho primário do estudo foi o tempo para falha do tratamento. Após um período de acompanhamento mediano de 4,5 anos. Os resultados encontrados foram:

  1. Houve 80 falhas de tratamento no grupo de retratamento e 78 falhas no grupo de manutenção;
  2. O tempo médio para falha de tratamento foi de 3,9 versus 4,3 anos (p=0,54) no grupo de retratamento e manutenção, respectivamente;
  3. Em 3 anos, 61 (retratamento) versus 64% (manutenção) dos pacientes, permaneceram sem falha de tratamento (p=0,33);
  4. A sobrevida livre de falha do tratamento foi de 65 (retratamento) versus 73% (manutenção) em 3 anos (p = 0,16) e 50 versus 53%, respectivamente  em 5 anos;
  5. Em análise multivariada, não houve diferença no tempo de falha de tratamento entre os grupos (HR=1,07; p=0,68);
  6. Sobrevida livre de progressão foi melhor no grupo de manutenção (50 versus 78%, em 3 anos);
  7. Houve poucas mortes e a sobrevida global não foi diferente entre os grupos (94 versus 94% em 5 anos);
  8. Sobrevida livre de terapia citotóxica de resgate em 3 anos foi de 84% para o grupo manutenção e 95% para o grupo retratamento (p=0,03);
  9. Incluindo as quatro doses de indução, o número mediano de doses de rituximabe foi de 4 (4-16) no grupo de retratamento e 18 (5-35) no grupo de manutenção;
  10. Não houve diferenças na qualidade de vida entre os dois grupos.

 

Em relação à toxicidade, eventos de grau ≥ 3 foram pouco frequentes em ambos os grupos. Ocorreram quatro eventos de grau 3 (trombocitopenia, fadiga, hipertensão e sincope) em pacientes do grupo retratamento e 10 eventos em pacientes do grupo manutenção, sendo o mais comum a fadiga. Dois eventos de grau 4 ocorreram em pacientes de retratamento (neutropenia) e um evento grau 5 ocorreu em um paciente do grupo que recebeu manutenção (encefalopatia).

O estudo concluiu que, em tumores foliculares com volume baixo de doença, a estratégia de retratamento esta associado à sobrevida geral e qualidade de vida comparável à terapia de manutenção com muito menos utilização do anticorpo monoclonal anti-CD 20, rituximabe. A melhor sobrevida livre de progressão e tempo para terapia citotóxica foi melhor no grupo da manutenção, o que não surpreende. Porém, o desfecho mais crítico de sobrevida geral e de falha terapêutica não diferiu entre os grupos. Com isso, em pacientes com linfoma folicular de volume baixo que recebem indução com 4 aplicações semanais de rituximabe, o uso desse agente na progressão somente pode ser considerado terapia aceitável e do ponto de vista de utilização de recursos preferível. Contudo, esses dados não devem ser extrapolados a pacientes que apresentam volume de doença maior que receberam terapia de indução com quimioimunoterapia.

Referência:
Kahl BS, Hong F, Williams ME, et al. Rituximab Extended Schedule or Re-Treatment Trial for Low-Tumor Burden Follicular Lymphoma: Eastern Cooperative Oncology Group Protocol E4402. J Clin Oncol 2014; Epub ahead of print, Aug 25.

Phillip Scheinberg
Chefe da Hematologia do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes do Hospital São José e da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Editor do MOC-Hemato.

Raphael Brandão Moreira
Residente Chefe de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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